Intereclesial emblemático
O 13º
Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base tem, pelo menos, três elementos
emblemáticos, como se fossem um divisor de águas entre os anteriores e o futuro
das comunidades eclesiais de base.
Primeiro,
ele foi realizado no Juazeiro do Norte, Ceará, nas terras do Pe. Cícero. Esse
padre, influenciado por seu predecessor nas missões do sertão nordestino, Pe.
Ibiapina, fez de sua vida uma radical opção pelos pobres. São da mesma linhagem
os “beatos e beatas”, como Zé Lourenço, Maria Araújo e Antônio Conselheiro,
pessoas que sentiram chamadas a dedicar suas vidas às populações esquecidas
daquele tempo. Influenciados por Ibiapina, esses homens e mulheres fundaram
suas comunidades inspirados nas primeiras comunidades citadas nos Atos dos
Apóstolos.
É bom
lembrar que há 150 anos, em tempos de seca, o sertão era praticamente um
deserto. Foi aos famintos, sedentos, vítimas do cólera pela água contaminada,
aos órfãos, que esses homens e mulheres dedicaram a plenitude de suas vidas.
Por isso, para muitos, eles são os pioneiros no Brasil das atuais comunidades
eclesiais de base e também da Teologia da Libertação, já que o ponto de partida
eram os pobres, não como objetos de caridade, mas como sujeitos de sua história
já ao final do século XIX.
Segundo,
pela primeira vez um papa envia uma carta de apoio às comunidades eclesiais de
base. O contentamento dos presentes era visível. Afinal, durante as últimas
décadas, em grande parte do Brasil e do continente, essas comunidades foram
abandonadas, quando não perseguidas e caluniadas, sobretudo por aqueles que
desejam uma Igreja distante do povo e fechada em si mesma. Por isso, o povo
também enviou uma carta de gratidão ao Papa.
Terceiro
elemento é que não havia euforia e nem triunfalismo no Juazeiro do Norte, mesmo
que tenha sido um evento grandioso, com belíssima liturgia e momentos de
entusiasmo. Todos estão conscientes que, se a Igreja quer ser mesmo uma “rede
de comunidades”, como diz o documento 104 da CNBB, então cabe um desafio
pastoral imenso de formação das comunidades eclesiais de base, de retomada de
sua organização, de apoio na formação em todos os níveis, da criação de espaços
que lhes sejam próprios, liberação de pessoas, recursos e tudo mais que se faz
necessário no cotidiano pastoral.
O novo é que
elas sejam também missionárias, formando novas comunidades e novas lideranças.
Além do mais, agora estamos em pleno século XXI, um contexto de mudança de
época, com as novas tecnologias, as redes sociais, a pluralidade religiosa,
pluralidade de valores, as mudanças radicais no clima do planeta, assim por
diante. Esse é o desafio: como continuar tendo a inspiração originárias das
primeiras comunidades num mundo em imensurável transformação?
Como será o
futuro só a história dirá. Porém, quem tiver um pouco de boa vontade, pode ver
aí claros sinais dos tempos.
Roberto
Malvezzi (Gogó)
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