segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Reflexões do Pe. Ceolin msf (2)

Religiosos consistentes

O tema do Capítulo Geral de 2001 è “Renovação da vocação religiosa como fonte de um apostolado mais fecundo”. Creio que esta poderia ser sua meta e objetivo. O tema proposto quiçá possa ser expresso noutros termos. Assim, por exemplo: “Nosso agir apostólico terá tanto mais fecundidade quanto mais nos renovarmos religiosamente.” Deste modo estaríamos afirmando explicitamente que pretendemos dar a primazia ao ser e não ao fazer. Estaríamos confessando que a eficácia apostólica não é primordialmente fruto da nossa eficiência, tão apregoada na atualidade.

Neste momento, muito se escreve e ouvimos falar a todo instante em refundação da Vida Consagrada. Para renová-la e revitalizá-la qual seria o ponto de partida? Dos anos 70 para cá atualizamos as Constituições. Muitos religiosos fizeram a experiência das pequenas comunidades. Partimos para a inserção. Estamos agora em franco arrojo missionrio. Mudamos o estilo da formação inicial. Introduzimos a formação permanente. Lá vieram a CRB, a CLAR. Surgiram o Postulinter e o Novinter, etc. Todo este esforço, toda essa mobilização e estes investimentos estão nos trazendo os frutos desejados? Já podemos afirmar e apregoar que, no final deste milênio, os religiosos se tornaram mais consistentes?

Deparando-me com o que se diz no documento preparatório do próximo Capítulo Geral (p. 6, n° 10), confesso que senti levantar-se em minha alma uma certa inquietude, em razão do que ali é dito: “A vocação é um dom de Deus e nasce da experiência de seu amor por nós e por toda a humanidade. Esta experiência de Deus é o fundamento que sustenta a nossa consagração, a atuação missionária e os nossos projetos pessoais e institucionais. A experiência do dom gratuito de Deus leva os religiosos a serem eles mesmos dons, no amor fraterno e no serviço aos pobres, refazendo o caminho de Jesus Cristo.”

Associo o que acabo de transcrever ao que é dito no nosso Plano de Formação: “A finalidade do processo pedagógico é a formação do religioso Missionário da Sagrada Família, homem consagrado humanamente maduro e espiritualmente renovado: aberto e equilibrado, capacitado para a auto-crítica, humilde e modesto em seus hábitos de consumo, dado à vida comunitária, sensível e comprometido com as lutas do povo, peregrino apaixonado por Deus e sua vontade.” Eis o rosto idealizado dum Missionário da Sagrada Família consistente!o

E, para atingir tal consistência, para tornar-se e permanecer um Missionário da Sagrada Família de tal quilate? É o que todos devemos nos perguntar às portas do Capítulo Geral, nos albores do novo milênio. Sintamo-nos na obrigação histórica de reler e avaliar a caminhada feita até aqui pelos religiosos e pela Congregação. Em tudo o que fizemos e inovamos na Vida Consagrada, o que realmente foi válido e propiciou renovação? Houve lacunas neste processo renovador? Quais? Por quê?

Faço-me tais indagações e questionamentos, que ora compartilho, movido por situações com as quais tenho convivido. Candidatos (vocacionados) convivem anos conosco e, aproximando-se o noviciado, a profissão religiosa temporária ou definitiva, estremecem, titubeiam e recuam. Em muitos deles se percebe que não conseguiram fazer uma real e profunda experiência de Deus, base e fundamento para efetuarem sua alegre e amorosa entrega de si.

E o que dizer diante da desistência de religiosos e presbíteros, após anos e anos de consagração e de ministério? Estaria havendo lacunas durante o processo de formação? Eu pergunto a mim mesmo: “E eu, Rodolpho, posso afirmar que já fiz uma suficiente experiência de Deus na minha vida? E sem tê-la feito, posso eu exercer o ministério da fomação? Sou eu um Missionário da Sagrada Família consistente em meio a meus coirmãos junioristas e da comunidade?
Pe. Rodolpho Ceolin msf


(Publicado em O Bertheriano, Ano XVIII, julho/2000, p. 19)

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