Religiosos consistentes
O tema do
Capítulo Geral de 2001 è “Renovação
da vocação religiosa como fonte de um apostolado mais fecundo”. Creio que esta
poderia ser sua meta e objetivo. O tema proposto quiçá possa ser expresso noutros
termos. Assim, por exemplo: “Nosso agir apostólico terá tanto mais
fecundidade quanto mais nos renovarmos religiosamente.” Deste modo
estaríamos afirmando explicitamente que pretendemos dar a primazia ao ser
e não ao fazer. Estaríamos confessando que a eficácia apostólica não é primordialmente
fruto da nossa eficiência, tão apregoada na atualidade.
Neste
momento, muito se escreve e ouvimos falar a todo instante em refundação
da Vida Consagrada. Para renová-la e revitalizá-la qual seria o ponto
de partida? Dos anos 70 para cá atualizamos as Constituições. Muitos religiosos
fizeram a experiência das pequenas comunidades. Partimos para a inserção.
Estamos agora em franco arrojo missionrio. Mudamos o estilo da formação
inicial. Introduzimos a formação permanente. Lá vieram a CRB, a CLAR. Surgiram
o Postulinter e o Novinter, etc. Todo este esforço, toda
essa mobilização e estes investimentos estão nos trazendo os frutos desejados?
Já podemos afirmar e apregoar que, no final deste milênio, os religiosos se
tornaram mais consistentes?
Deparando-me
com o que se diz no documento preparatório do próximo Capítulo Geral (p. 6, n° 10), confesso que senti levantar-se em
minha alma uma certa inquietude, em razão do que ali é dito: “A vocação é um dom
de Deus e nasce da experiência de seu amor por nós e por toda a
humanidade. Esta experiência de Deus é o fundamento que sustenta a nossa consagração,
a atuação missionária e os nossos projetos pessoais e institucionais. A
experiência do dom gratuito de Deus leva os religiosos a serem eles mesmos dons,
no amor fraterno e no serviço aos pobres, refazendo o caminho de Jesus Cristo.”
Associo o
que acabo de transcrever ao que é dito no nosso Plano de Formação: “A finalidade do processo pedagógico é a
formação do religioso Missionário da Sagrada Família, homem consagrado
humanamente maduro e espiritualmente renovado: aberto e
equilibrado, capacitado para a auto-crítica, humilde e modesto em seus hábitos
de consumo, dado à vida comunitária, sensível e comprometido com as lutas do
povo, peregrino apaixonado por Deus e sua vontade.” Eis o rosto
idealizado dum Missionário da Sagrada Família consistente!
E, para
atingir tal consistência, para tornar-se e permanecer um Missionário da Sagrada
Família de tal quilate? É o que todos devemos nos perguntar às portas do Capítulo Geral, nos albores do novo
milênio. Sintamo-nos na obrigação histórica de reler e avaliar a caminhada
feita até aqui pelos religiosos e pela Congregação. Em tudo o que fizemos e
inovamos na Vida Consagrada, o que realmente foi válido e propiciou renovação?
Houve lacunas neste processo renovador? Quais? Por quê?
Faço-me
tais indagações e questionamentos, que ora compartilho, movido por situações
com as quais tenho convivido. Candidatos (vocacionados) convivem anos conosco
e, aproximando-se o noviciado, a profissão religiosa temporária ou definitiva,
estremecem, titubeiam e recuam. Em muitos deles se percebe que não conseguiram fazer uma
real e profunda experiência de Deus, base e fundamento para efetuarem sua
alegre e amorosa entrega de si.
E o que
dizer diante da desistência de religiosos e presbíteros, após anos e anos de
consagração e de ministério? Estaria havendo lacunas durante o processo de
formação? Eu pergunto a mim mesmo: “E eu, Rodolpho, posso afirmar que já fiz
uma suficiente experiência de Deus na minha vida? E sem tê-la feito, posso eu
exercer o ministério da fomação? Sou eu um Missionário da Sagrada Família consistente
em meio a meus coirmãos junioristas e da comunidade?
Pe. Rodolpho Ceolin msf
(Publicado em O
Bertheriano, Ano XVIII, julho/2000, p. 19)
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