Missão, missões e atividades missionárias
Na perspectiva do Vaticano II, a Igreja se compreende missionária em sua própria natureza,
participante da missão de Jesus Cristo e do Espírito Santo no mundo. Sua missão é, essencialmente, continuar na história a
missão de Cristo, enviado para evangelizar os pobres. Instigada por ele, a
Igreja deve seguir o mesmo caminho de pobreza, de obediência, de serviço e de
entrega de si mesma (cf. AG 5). Esta
missão é intrínseca à sua própria natureza, permanente e universal, como
universal é a salvação oferecida por Jesus Cristo.
Paulo VI nos ensina que a missão
da Igreja é substancialmente a evangelização. “Evangelizar constitui a
graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade. Ela existe
para evangelizar...” (EN 14). E evangelizar é anunciar a boa notícia de Jesus
Cristo e promover o Reino de Deus como vida para todos. “A Boa Nova do reino
que vem e que já começou, de resto, é para todos os homens de todos os tempos.
Aqueles que a receberam, aqueles que ela congrega na comunidade da salvação,
podem e devem comunicá-la e difundi-la ulteriormente” (EN 13).
A dimensão de anúncio, ensino e
celebração do Reino de Deus é completada, como vimos, pela ação transformadora. A linha divisória não passa mais entre
cristandade e países pagãos, mas entre Igreja em missão e mundo em permanente
evolução e tensão. Se a justiça, a paz e
a defesa da integridade da criação estão no coração da missão, o mundo inteiro
é terra de missão.
Assim, a missão
não é apenas uma entre as diversas
atividades da Igreja. E não se trata mais
simplesmente de converter os pagãos. A Igreja conciliar vê as religiões como tentativas humanas de responder às questões
fundamentais da vida humana e de propor caminhos para sua realização plena. Por
isso, sem deixar de anunciar Jesus Cristo, não rejeita o que há de verdadeiro
nas religiões; considera suas práticas e doutrinas como raios da verdade que
ilumina todos os seres humanos; e exorta ao diálogo e à colaboração com as
pessoas que seguem outras religiões (cf. NA 2).
Mas aqui precisamos retomar a
dinstinção e a articulação entre missão enquanto essência e modo de ser da
Igreja no mundo, atividades missionárias concretas e missões. A missão
da Igreja, na continuidade da missão de Jesus Cristo, é uma só –
anunciar, testemunhar e promover o reino de Deus – e varia de acordo com as
circunstâncias, com o modo como é realizada nas várias regiões e situações do
mundo e com os seus protagonistas (cf. AG 6).
As atividades missionárias em seu sentido amplo são as ações que
realizam e concretizam esta missão são
diversas: testemunho de vida e diálogo intercultural; presença solidária e
diversas formas de serviço; pregação do Evangelho e catequese; formação de
comunidades locais, com seu clero, sua vida consagrada e seus agentes leigos;
etc. (cf. AG 10-18). A exortação Redemtoris
Missio acrescenta a isso a encarnação do Evangelho nas diversas culturas, o
o diálogo intereligioso e a promoção do desenvolvimento (cf. n° 52-59).
Aquilo que chamamos missões
são a “atividade própria desenvolvida por aqueles que percorrem o mundo
pregando o Evangelho e implantando a Igreja entre os povos ou grupos humanos
que ainda não vivem segundo a fé em Cristo. A atividade missionária no sentido estrito é esse trabalho feito em
determinados territórios designados pela santa sé” (AG 6). Esta atividade
estritamente missionária é distinta
tanto da ação pastoral, que se exerce
junto aos fiéis da comunidade, como da ação
ecumênica, ambas importantes e necessárias.
Itacir Brassiani
msf
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