sexta-feira, 29 de julho de 2016

Curso de Missiologia (25)

Missão, missões e atividades missionárias
Na perspectiva do Vaticano II, a Igreja se compreende missionária em sua própria natureza, participante da missão de Jesus Cristo e do Espírito Santo no mundo. Sua missão é, essencialmente, continuar na história a missão de Cristo, enviado para evangelizar os pobres. Instigada por ele, a Igreja deve seguir o mesmo caminho de pobreza, de obediência, de serviço e de entrega de si mesma (cf. AG 5). Esta missão é intrínseca à sua própria natureza, permanente e universal, como universal é a salvação oferecida por Jesus Cristo.
Paulo VI nos ensina que a missão da Igreja é substancialmente a evangelização. “Evangelizar constitui a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade. Ela existe para evangelizar...” (EN 14). E evangelizar é anunciar a boa notícia de Jesus Cristo e promover o Reino de Deus como vida para todos. “A Boa Nova do reino que vem e que já começou, de resto, é para todos os homens de todos os tempos. Aqueles que a receberam, aqueles que ela congrega na comunidade da salvação, podem e devem comunicá-la e difundi-la ulteriormente” (EN 13).
A dimensão de anúncio, ensino e celebração do Reino de Deus é completada, como vimos, pela ação transformadora. A linha divisória não passa mais entre cristandade e países pagãos, mas entre Igreja em missão e mundo em permanente evolução e tensão. Se a justiça, a paz e a defesa da integridade da criação estão no coração da missão, o mundo inteiro é terra de missão.
Assim, a missão não é apenas uma entre as diversas atividades da Igreja. E não se trata mais simplesmente de converter os pagãos. A Igreja conciliar vê as religiões como tentativas humanas de responder às questões fundamentais da vida humana e de propor caminhos para sua realização plena. Por isso, sem deixar de anunciar Jesus Cristo, não rejeita o que há de verdadeiro nas religiões; considera suas práticas e doutrinas como raios da verdade que ilumina todos os seres humanos; e exorta ao diálogo e à colaboração com as pessoas que seguem outras religiões (cf. NA 2).
Mas aqui precisamos retomar a dinstinção e a articulação entre missão enquanto essência e modo de ser da Igreja no mundo, atividades missionárias concretas e missões. A missão da Igreja, na continuidade da missão de Jesus Cristo, é uma só – anunciar, testemunhar e promover o reino de Deus – e varia de acordo com as circunstâncias, com o modo como é realizada nas várias regiões e situações do mundo e com os seus protagonistas (cf. AG 6).
As atividades missionárias em seu sentido amplo são as ações que realizam e concretizam esta missão são diversas: testemunho de vida e diálogo intercultural; presença solidária e diversas formas de serviço; pregação do Evangelho e catequese; formação de comunidades locais, com seu clero, sua vida consagrada e seus agentes leigos; etc. (cf. AG 10-18). A exortação Redemtoris Missio acrescenta a isso a encarnação do Evangelho nas diversas culturas, o o diálogo intereligioso e a promoção do desenvolvimento (cf. n° 52-59).
Aquilo que chamamos missões são a “atividade própria desenvolvida por aqueles que percorrem o mundo pregando o Evangelho e implantando a Igreja entre os povos ou grupos humanos que ainda não vivem segundo a fé em Cristo. A atividade missionária no sentido estrito é esse trabalho feito em determinados territórios designados pela santa sé” (AG 6). Esta atividade estritamente  missionária é distinta tanto da ação pastoral, que se exerce junto aos fiéis da comunidade, como da ação ecumênica, ambas importantes e necessárias.


Itacir Brassiani msf

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