terça-feira, 27 de dezembro de 2016

ANO A – TEMPO DO NATAL – MEMÓRIA DOS SANTOS INOCENTES – 28.12.2016

Proclamemos nossa fé em Jesus de Nazaré com a própria vida!

As luzes natalinas continuam acesas, ainda há doces que esperam pela nossa degustação, mas a festa do Natal de Jesus parece terminar em tragédia: no dia 26 fizemos memória do primeiro mártir cristão (Santo Estêvão) e no dia 28 recordamos o martírio das crianças de Belém pelas mãos do fraco, prepotente e sanguinário Herodes. Na festa dos Santos Inocentes, somos chamados a proclamar com a vida aquilo que professamos com os lábios, convocados a participar da eucaristia com um coração simples e puro, com uma fé feita mais de ações que de palavras e promessas.
São João nos diz que Deus é Luz e que nele não há trevas. O evangelista também nos convida a caminhar na luz de Cristo, e isso significa assumir serenamente nossos limites e pecados e viver em solidaria comunhão com nossos irmãos e irmãs. Mediante a comunhão viva e ativa com próximo, que é pecador como nós somos pecadores, abrimo-nos solidariamente a eles, o sangue de Jesus Cristo purifica os nossos pecados e sua luz resplandece em nosso corpo, em nossas relações. “Se caminhamos na Luz, então estamos em comunhão com os outros”.
O Evangelho nos ensina que, nos sonhos, José reforça a consciência da própria vocação: tomar conta da vida do Menino e protegê-lo de todos os riscos e ameaças. A vida, em todas as suas formas e expressões, é santa e precisa ser cuidada. A vida dos pobres e pequenos é mais santa ainda, e merece um cuidado redobrado. Em vista disso, precisamos estar prontos a arriscar nossa própria vida em favor de quem de nós necessita e a desprezar as aparentes e frágeis seguranças. Nisso José, Maria e (mais tarde) Jesus são nossos mestres, desde sempre.
Mateus nos mostra também que José, o carpinteiro de Nazaré e marido de Maria, se inspira noutro José, aquele que fora vendido pelos próprios irmãos aos comerciantes do Egito. É com ele que o carpinteiro de Nazaré aprendeu a sonhar. As preocupações e esperanças que o envolvem inteiramente durante o dia se transformam em sonhos noturnos. E mediante os sonhos, o pai e protetor de Jesus toma consciência da urgência das situações, mostra-se pronto e faz-se obediente à vontade de Deus. “José levantou-se, de noite, com o menino e a mãe, e retirou-se para o Egito.”
O risco escondido no ventre das posições de poder é o obscurecimento da mente e a idéia de que a coisa mais transcendente a ser feita é assegurar a sua própria continuidade. Assim o fez Herodes e muitos outros que o seguiram, nos palácios reais ou eclesiásticos, nas cúrias de todos os nomes e em todas as latitudes. Herodes fica furioso porque os magos o fazem de bobo. Acostumado a se impor pelo medo, Herodes não consegue admitir que alguém desobedeça suas ordens. A fúria que dorme sob o disfarce da complacência é acordada pelo mais simples e inocente sinal de insubmissão.
A raiva de Herodes contra os magos heroicamente desobedientes acaba se voltando contra as crianças. Com medo de um concorrente ao trono, o rei opta pelo extermínio dos inocentes. Aqui não importam tanto os acontecimentos históricos, mas a serena constatação de que o medo e a prepotência dos poderosos sempre fazem vítimas, e as crianças são atingidas em primeira linha, tanto pela fuga, pela fome, pela morte ou pela orfandade como por outras consequências da violência. Como diz o evangelista, citando o profeta Jeremias, a violência sofrida pelos inocentes é um grito que brada aos céus.
A Igreja acolhe o testemunho das crianças anônimas de Belém e as reconhece como mártires. Elas nem mesmo haviam conhecido Jesus e, menos ainda, tinham aderido ao seu caminho. Mas tiveram a vida estraçalhada por causa de Jesus Cristo. Mesmo sem dizer uma só palavra, essas inocentes crianças confessaram com o sangue a chegada do Filho de Deus, abriram com seus pequenos corpos os caminhos do Reino de Justiça e de Paz, e testemunharam a violência mórbida e desumanizadora de Herodes. Mas, apesar das aparências contrárias, a liturgia de hoje não é um lamento, mas um convite à confiança, e o salmista deixa isso suficientemente claro.
Deus pai e mãe das vítimas, dos migrantes, dos órfãos e das viúvas: no Menino da manjedoura mostraste ao mundo a glória da compaixão, e na fuga para o Egito partilhaste o destino de todos os perseguidos por causa do teu Nome. Aprendemos do livro santo que é da boca dos pequeninos que recebes o perfeito louvor. As anônimas crianças de Belém anunciaram com o próprio sangue a glória de teu Filho nascido na manjedoura. Faz com que nossa vida, tanto nos grandes momentos como nas práticas cotidianas, testemunhe nossa fé em Jesus de Nazaré e na aurora invencível do teu Reino. Assim seja! Amém!


Itacir Brassiani msf
(1ª. Carta de João 1,5-2,2* Salmo 123 (124) * Evangelho de São Mateus 2,13-18)

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