quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

O Evangelho dominical - 18.12.2016

EXPERIÊNCIA INTERIOR
O evangelista Mateus tem um interesse especial em dizer aos seus leitores que Jesus há de ser chamado também de «Emmanuel». Sabe muito bem que pode resultar chocante e estranho. A quem se lhe pode chamar com um nome que significa «Deus conosco»? No entanto, este nome encerra o núcleo da fé cristã e é o centro da celebração do Natal.
Esse mistério último que nos rodeia por todos os lados e que os crentes chamam «Deus» não é algo longínquo e distante. Está com todos e cada uno de nós. Como o posso saber? É possível acreditar de forma razoável que Deus está comigo se não tenho alguma experiência pessoal, por pequena que seja?
Correntemente, aos cristãos não nos foi ensinado a perceber a presença do mistério de Deus no nosso interior. Por isso muitos o imaginam em algum lugar indefinido e abstrato do universo. Outros procuram-no adorando Cristo presente na eucaristia. Muitos procuram escutá-Lo na Bíblia. Para outros, o melhor caminho é Jesus.
O mistério de Deus tem, sem dúvida, os seus caminhos para fazer-se presente em cada vida. Mas pode dizer-se que, na cultura atual, se não O experimentarmos de alguma forma vivo dentro de nós, dificilmente O encontraremos fora. Pelo contrário, se percebemos a Sua presença em nós poderemos rastrear a Sua presença à nossa volta.
É possível? O segredo consiste sobre tudo em saber estar com os olhos fechados e em silêncio aprazível, acolhendo com um coração simples essa presença misteriosa que nos está alentando e sustentando. Não se trata de pensar nisso, mas de estar a «acolher» a paz, a vida, o amor, o perdão… que nos chegam desde o mais íntimo do nosso ser.
É normal que, ao entrarmos no nosso próprio mistério, nos encontremos com os nossos medos e preocupações, as nossas feridas e tristezas, a nossa mediocridade e o nosso pecado. Não temos de nos inquietar, mas permanecer no silêncio. A presença amistosa que está no fundo mais íntimo de nós irá apaziguando-nos, libertando e curando.
Karl Rahner, um dos teólogos mais importantes do século XX, afirma que, no meio da sociedade secular dos nossos dias, «esta experiência do coração é a única com que se pode compreender a mensagem de fé do Natal: Deus fez-se homem». O mistério último da vida é um mistério de bondade, de perdão e salvação, que está conosco: dentro de todos e cada um de nós. Se acolhermos em silêncio conheceremos a alegria do Natal.
José Antonio Pagola
Tradutor: Antonio Manuel Álvarez Perez

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