quarta-feira, 4 de julho de 2018

ANO B – DÉCIMO-QUARTO DOMINGO DO TEMPO COMUM – 08.07.2018


Em Jesus, Deus assume radicalmente a condição humana.
A grandeza, a fama e o poder sempre nos fascinam. Evitamos, como podemos, a fraqueza, pequenez e a humildade. A luta das seleções e torcidas pelo primeiro lugar na Copa ilustra muito isso muito bem. Os ídolos nos parecem modelos dignos de serem imitados, mesmo quando escondem suas origens humildes, enganam o fisco ou desabam ruidosamente. Mas o caminho da humanização não passa por estas veredas. Jesus de Nazaré define para sempre seu caminho de Deus: o ser humano comum, sem nenhum outro título ou honra, é seu sacramento, seu interlocutor e seu embaixador no mundo.
Existem pessoas que são desprezadas simplesmente por causa do gênero ou orientação sexual: mulheres constantemente humilhadas por uma arcaica e violenta cultura machista e pessoas homo afetivas caçadas como feras perigosas ou abjetas. Existem também grupos humanos que são desprezados por questões étnicas e raciais: negros que carregam as marcas da escravidão como se dela fossem culpados, vistos sempre com suspeita e considerados inferiores; povos indígenas catalogados como seres primitivos ou selvagens, exemplares exóticos de um tempo que não existe mais ou entraves para o excludente e predatório desenvolvimento branco; imigrantes enxotados como lixo imundo...
Apesar dos títulos e imagens de poder que a história associou a ele, Jesus de Nazaré partilhou a sorte das pessoas desprezadas e marginalizadas. Ele não fez coro com os soberbos e satisfeitos, nem se mostrou indiferente ao destino das pessoas humilhadas. Nasceu numa estrebaria, habitou numa cidade insignificante e numa região desprezada, foi trabalhador braçal, aproximou-se e misturou-se aos grupos sociais suspeitos, foi preso e executado entre ladrões. Em Nazaré, sua cidade Natal, Jesus era conhecido como um carpinteiro, e seus familiares eram pessoas muito humildes, gente muito comum.
O evangelho desse domingo mostra a admiração e a inquietação dos conterrâneos de Jesus sobre a origem do seu carisma. Como conheciam Jesus desde pequeno, perguntavam-se: “Onde foi que arranjou tanta sabedoria? Esse homem não é o carpinteiro, o filho de Maria?” Do ponto de vista da origem, Jesus não poderia ser o que dava a impressão de ser. Para seus conterrâneos, sabedoria não poderia vir de pessoas comuns e humildes como eles. Por mais que o ensinamento e as ações de Jesus impressionassem, sua pertença a um povoado marginal era para eles como uma pedra de escândalo.
Jesus fica impressionado com a visão estreita dos seus conterrâneos, com a influência que a ideologia da superioridade das pessoas cultas e poderosas exerce sobre os humildes habitantes da sua aldeia. Por trás dessa influência maléfica está a ideia da inferioridade e impotência dos pobres, da sua radical e eterna dependência de benfeitores poderosos. Como tantos outros, aquele povo simples havia interiorizado e assimilado sua própria insignificância. Mas, o que mais surpreende, é que parece que esse escândalo atinge os próprios familiares e parentes de Jesus.
É isso que deduzimos do provérbio citado por Jesus: “Um profeta só não é estimado na sua pátria, entre seus parentes e familiares...” Aqueles que conheciam suas raízes camponesas e suas mãos calejadas pelo trabalho na carpintaria não conseguiam reconhecer em Jesus os traços do Profeta ou do Messias esperado. Mas, para Jesus, o escândalo dos habitantes de Nazaré diante da sua origem humilde é falta de fé, pois a fé é a abertura essencial que permite reconhecer a presença de Deus nas pessoas simples, acolher as surpresas e a ação inusitada de Deus que se manifesta onde e quando menos se espera.
Chamando a atenção dos cristãos de Corinto, Paulo afirma que prefere orgulhar-se de suas fraquezas e não de seus méritos. “Eu me alegro nas fraquezas, humilhações, necessidades, perseguições e angústias por causa de Cristo.” Paulo tem a convicção de que a força de Deus se revela na humana fraqueza, e, por isso, não corre atrás de revelações e dons extraordinários. Todos aqueles que realmente acreditam em Jesus Cristo seguem o caminho do amor que serve, do amor a fundo perdido, sem se importar com o sucesso e o retorno. Os cristãos sabemos que seguimos um servo, e não um patrão!
Jesus de Nazaré, carpinteiro numa aldeia insignificante, escândalo para os próprios conterrâneos e familiares... Ensina-nos a apreciar a fraqueza em vez do poder, a humildade em vez da soberba. Ajuda-nos a manter nossos olhos fixos em ti, nosso Senhor e Servo. Como tu, queremos confiar na liberdade e na força que nos vem do Espírito do Pai e da tua Palavra, e não em nosso próprio poder de convencimento e de pressão ou nas ações espetaculares. E não nos deixes esquecer que tu compartilhas nossas origens e não te envergonhas de nos chamar de irmãos e irmãs. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
(Profecia de Ezequiel 2,2-5 * Salmo 122 (123) * 2ª Carta aos Coríntios 12,7-10 * Evangelho de São Marcos 6,1-6)

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