segunda-feira, 23 de julho de 2018

Primeiras Constituições dos Missionários da Sagrada Família


Missionários da Sagrada Família: Constituídos para quê?
No dia 25 de julho de 1895, as Constituições dos Missionários da Sagrada Família eram aprovadas pela Igreja. Antes que o Pe. Berthier chegasse à casa que abrigaria os primeiros aspirantes e postulantes, em Grave (Holanda), o Fundador deixava claro o perfil e a finalidade do sonho que acalentava. E podemos imaginar sua alegria ao receber a aprovação da Igreja para seu projeto... Na data que marca esse acontecimento, parece-me importante reler o que ele escreveu nos primeiros parágrafos (1 a 19) da Constituição de 1895. Isso é muito importante no momento em que enfrentamos o desafio da reestruturação.
1.    (a) “A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos!” (Mt 9,37). (b) Esta é a verdade dos nossos dias, como no tempo de Nosso Senhor. (c) Em pleno século XIX, 7/8 da população do globo ainda vive nas trevas da heresia ou da infidelidade. (d) O próprio Papa Leão XIII escrevia, em uma encíclica de 3 de dezembro de 1880:
2.    (a) “As missões apostólicas são pressionadas por muitas e graves necessidades, pois a cada dia é menor o número dos santos operários. (b) Enquanto alguns são roubados pela morte e outros são tragados pela velhice ou limitados pelo cansaço, aqueles que estão dispostos a sucedê-los são em número insuficiente e de qualidade inferior. (c) Assistimos ao desaparecimento de inteiras famílias religiosas, pressionadas por leis nefastas. (d) Por todos os lados vemos padres afastados dos altares e obrigados ao serviço militar e os bens do clero secular e regular sendo confiscados e vendidos.”
3.    (a) “Ao mesmo tempo, uma grande possibilidade se abre em outras regiões que antes pareciam inacessíveis, cresce o conhecimento de novos lugares e povos que pedem envio de soldados de Cristo e abrem-se novas frentes missionárias. [...] (b) É lamentável a sorte daqueles que são guiados por falsos mestres e anseiam pela pura luz da verdade, mas não encontram ninguém que os instrua na santa doutrina ou os convide a entrar na Igreja de Cristo. (c) Verdadeiramente, os pequenos pedem pão e não há ninguém que os atenda. (d) Os campos estão dourados, a colheita é abundante e os operários são pouco numerosos, e talvez no futuro serão ainda menos.”
4.    (a) “Veneráveis Irmãos, a situação é tal que cremos ser nosso dever estimular o zelo e a caridade cristã a fim de que, seja através da oração, seja através de ofertas, todos se empenhem em ajudar a obra das santas missões e favorecer a propagação da fé. [...] (b) A vocês também, Veneráveis Irmãos, chamados a participar da nossa solicitude, exortamos com firmeza a engajarem-se ativa e energicamente nas missões apostólicas, sustentados pela confiança em Deus, sem temer as dificuldades e com ânimo concorde.”
5.    “Portanto, se vocês conhecem pessoas zelosas pela glória de Deus, capazes e desejosos de participar das santas missões, ofereçam a ajuda que ela necessitam a fim de que, procurando e descobrindo a vontade de Deus, não deem ouvidos à carne ou ao sangue, mas se orgulhem de obedecer à voz do Espírito.”
6.    “Não dispensem esforços para que os demais sacerdotes, os religiosos e religiosas e todos os fiéis confiados ao cuidado de vocês, através de incessantes preces, atraiam a ajuda do céu em favor dos semeadores da Santa Palavra.”
7.    (a) “E que à oração suplicante se una a esmola, cuja força consiste em possibilitar àqueles que estão distantes das missões e ocupados em diferentes atividades, associarem-se aos trabalhos e méritos dos missionários. [...] (b) Veneráveis Irmãos, façam com que todos compreendam que sua generosidade não será um prejuízo mas uma vantagem, pois empresta-se ao Senhor aquilo que é doado aos necessitados. (c) E é por isso que a esmola é considerada a mais lucrativa de todas as atividades.”
8.    (a) Desde 1880 estão sendo fundadas escolas apostólicas, mas esse processo foi quase paralisado pelos decretos de expulsão e pela diminuição da fé e da própria população. (b) Além disso, essas escolas apostólicas só admitem adolescentes de 12 a 14 anos, e as vocações tardias não encontram facilmente oportunidades.
9.    (a) A Sociedade das Missões Estrangeiras alcançou um grande sucesso, mas normalmente não abre suas portas senão aos jovens de origem francesa e habilitados a estudar filosofia. (b) Mas sabemos que os jovens oriundos de famílias pobres têm dificuldade de frequentar os estudos secundários que preparam à filosofia, e assim são excluídos dessa sociedade.
10.             A experiência comprova que, nos países profundamente cristãos e onde as famílias são numerosas, encontramos jovens inteligentes e virtuosos, de 14 a 30 anos, que, tendo se preservado dos vícios, aspiram à vida apostólica, desde que uma obra especial suporte os custos da sua formação.
11.             (a) Assim, fundar tal obra e torná-la acessível aos jovens das diversas nações católicas significa suprir uma lacuna e assumir o ponto de vista de Sua Santidade o Papa Leão XIII. (b) No dia 14 de novembro de 1894, o plano dessa obra foi apresentado à Sua Santidade por Sua Eminência o Cardeal Rampolla, Secretário de Estado. (c) Depois de tomar conhecimento, na audiência que Sua Santidade concedeu no dia seguinte ao Cardeal Langénieux, Leão XIII disse que uma tal iniciativa é oportuna, que ele a abençoava, desejava que fosse iniciada sem demora e a colocava sob sua proteção.
12.             Portanto, o berço dessa obra é a bênção da Igreja, e isso deve encorajar aqueles que a graça atrair a ela.
13.             (a) Esta obra recebe o nome de Sagrada Família e está sob a proteção de Nossa Senhora Reconciliadora de la Salette, à qual invocará habitualmente. (b) É na Sagrada Família, em Nazaré, que cresceu o Sacerdote Eterno, Nosso Senhor Jesus Cristo, o missionário do Pai. (c) E é sobre a montanha de la Salette que foi concebido o projeto dessa obra.
14.             (a) A Sagrada Família é o modelo perfeito de espírito de respeito, de obediência, de caridade, de dedicação, de humildade, de vida de trabalho, de pobreza e de pureza que deve reger essa obra. (b) Aqueles que a graça atrair a essa obra se empenharão em assimilar este espírito.
15.             (a) Seus membros não esquecerão que o respeito e a caridade mútuas são mais importantes que todas as Constituições, e que todas as regras e todos os votos têm por objetivo enraizar neles o amor a Deus e ao próximo. (b) Portanto, eles se esforçarão para não procurar honras, para ter um só coração e uma só alma, para entreajudarem-se nos trabalhos, para consolarem-se reciprocamente nos sofrimentos da vida, para edificarem-se uns aos outros. (c) Os membros do instituto se chamarão Missionários da Sagrada Família.
16.             (a) Os Missionários da Sagrada Família formam um instituto de votos simples que tem como fim a santificação dos seus membros, que é a única coisa necessária da qual fala Nosso Senhor no Evangelho. (b) Esse instituto tem também por finalidade especial formar missionários e aumentar seu número através da formação de vocações apostólicas, sobretudo tardias. (c) Essa é a razão de sua existência e também o meio mais eficaz de trabalhar pela glória de Deus e a salvação da humanidade. (d) As pessoas se convertem à fé e à vida cristã pelo Evangelho. (e) Fides ex auditu, auditus autem per verbum Dei. (f) Precisa-se pois de missionários, mas formá-los é mais eficaz que trabalhar nas missões, pois enquanto um missionário faz um certo bem numa terra estrangeira, quem forma numerosos missionários faz um bem multiplicado tantas vezes quantos são os bons trabalhadores da vinha do Senhor por ele formados.
17.             (a) Assim, os membros do Instituto serão zelosos antes de tudo pelo desenvolvimento da obra das vocações apostólicas tardias, organizando centros nos quais ela possa prosperar, atraindo e formando o máximo possível de bons missionários. (b) E à medida em que o número de padres amadurecidos pela piedade, pelo estudo e pela experiência crescer, procurarão estabelecer seminários da mesma natureza e com o mesmo objetivo em lugares onde o espírito de fé e as famílias numerosas ofereçam mais possibilidades de encontrar boas vocações.
18.             (a) Quando o primeiro objetivo da obra for realizado, nada impedirá aos missionários aceitar missões estrangeiras. (b) Se os superiores julgarem que, em determinadas situações, for útil ao progresso ou à sobrevivência da obra pregar missões nos países católicos, ou mesmo aceitar paróquias oferecidas pelos bispos nas regiões onde faltam padres, nada impedirá que eles empenhem nisso alguns membros, (c) desde que nas missões sejam ao menos dois e nas paróquias sejam ao menos três, para que possam observar a vida regular e não percam de vista o objetivo principal do Instituto e, (d) consequentemente, cultivem as vocações apostólicas, formando na piedade, na virtude e no estudo os adolescentes e os jovens que dão esperanças de se tornarem bons missionários. (e) O instituto não aceitará a direção de colégios nem de seminários que não sejam aqueles que criarem para a finalidade da obra.
19.             (a) O objetivo do instituto supõe que seus membros sejam geralmente padres ou se preparem para ser padre. (b) Todavia, alguns trabalhos no interior das residências, ou mesmo algumas tarefas de catequese nas missões, não exigem o ministério sacerdotal. (c) Por isso, podem ser admitidos no instituto leigos que não se tornarão padres e que serão tratados como verdadeiros irmãos da Sagrada Família. (d) Eles a assumirão como o fez São José, que por eles será considerado modelo e honrado como protetor.

Nenhum comentário: