quarta-feira, 18 de novembro de 2020

ANO A | TEMPO COMUM | SOLENIDADE DE CRISTO REI | 22.11.2020

O Rei do Universo é um solidário servidor dos necessitados!

O ano litúrgico católico termina com a solenidade de Cristo, Rei do Universo. Essa festa foi instituída em 1955, pelo Papa Pio XII, mas hoje temos consciência de que precisamos evitar toda forma de triunfalismo e, ao mesmo tempo, destacar o mistério de Jesus Cristo que, com sua paixão pelo povo e sua vida empenhada em favor dos marginalizados, venceu a opressão e a morte e inaugurou um Novo Tempo, regido pela paz, pela solidariedade e pela partilha. Nesta solenidade devem sobressair não os nossos desejos de superioridade e poder, mas a utopia do bom rei que, como o bom pastor, vela sobre seu povo e o governa na justiça e na paz.

Na primeira carta aos Coríntios, Paulo sublinha que Jesus Cristo experimentou a morte solidária com os seres humanos para abrir a todos o caminho da ressurreição. Ele é o primeiro entre muitos, e nele todos viveremos! Sua verdadeira realeza consiste em destruir os poderes que oprimem a humanidade, os inimigos dos seres humanos, entre os quais o mais potente é a morte. Não apenas a morte que vem no final da vida, mas também a morte imposta como ameaça e como fato pelas instituições que oprimem. Esta vitória que efetiva a realeza de Cristo tem como meta possibilitar que o amor e a vida que vem de Deus seja tudo em todos.

O parábola proclamada na solenidade de hoje faz parte dos ‘discursos escatológicos’ de Jesus. Esse gênero literário é um modo de falar não propriamente daquilo que deve acontecer no fim do mundo, mas de apresentar aquilo que realmente vale enquanto dura nossa vida no mundo. Essa catequese de Jesus nos leva imaginariamente ao fim dos tempos para destacar o que realmente tem valor no percurso da história. É claro que, dizendo que o Filho do Homem virá ‘na sua glória’ e se sentará em seu ‘trono glorioso’, Lucas está comparando Jesus a um rei. A expressão ‘Senhor’ também tem o mesmo sentido, pois esse era o apelativo com o qual o povo se dirigia aos chefes, reis e imperadores.

Esta parábola também aproxima Jesus da imagem do juiz, e isso é compreensível numa cultura que atribuía ao rei as funções legislativas, executivas e judiciárias. “Todos os povos serão reunidos diante dele, e ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos.” Julgar significa aqui discernir o verdadeiro valor das ações concretas das pessoas, separadas em dois grupos, a partir daquilo que fizeram, e não a partir dos títulos honoríficos ou das meras intenções. Mas é interessante perceber que, mesmo no papel de juiz, Jesus age como pastor.  Por isso, a solenidade de Cristo Rei vai de mãos dadas com a imagem do Bom Pastor, de Jesus servidor da humanidade.

Não podemos esquecer que os evangelhos nos mostram que Jesus decidiu sentar-se à mesa como conviva dos pecadores, e não como juiz na mesa de um tribunal. Sua vida comprova que ele foi ao encontro dos marginalizados e assumiu a causa deles. Não os esperou sentado na cadeira pretensamente neutra dos juízes! E, além de se apresentar como pastor, juiz e filho do homem, Jesus se identifica com o servo. João Batista o anuncia como ‘cordeiro de Deus’, como aquele que dá a vida em resgate por muitos. E no confronto com as autoridades do seu tempo e com as ambições de poder dos próprios discípulos, o próprio Jesus declara: “Eu estou no meio de vocês como quem está servindo” (Lc 22,27).

O mais importante, porém, está um pouco escondido nessa instigante parábola. Diante da pergunta sobre a forma concreta de prestar nosso serviço a Jesus, e quando o servimos, ele responde: “Todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram...” Jesus é filho da humanidade, irmão dos homens e mulheres mais necessitados. Mais concretamente: irmão daqueles que passam fome e sede, dos migrantes e doentes, dos pobres e presidiários. Um culto que queira ser agradável serviço a Deus não pode passar ao largo das necessidades do próximo, pois estaria deixando de lado o próprio Cristo.

Deus pai e mãe, pastor do rebanho e protetor dos pequenos! Neste dia em que celebramos meio sem jeito teu Filho como Rei do Universo, te pedimos: purifica nossa liturgia e nossa mente e a das autoridades da Igreja de todo desejo de honra e de poder. Confirma-nos no lugar do servo, lugar que teu Filho ocupou e que não lhe será tirado. Fortalece os leigos e leigas que, de mil e uma maneiras, tornam efetivo o reinado de Jesus Cristo, transformam o mundo e renovam a Igreja. E concede a todos nós a graça de reconhecer, amar e servir teu amado Filho, atenta e delicadamente, nos nossos irmãos e irmãs. Amém! Assim seja!

Itacir Brassiani msf

Profecia de Ezequiel 34,11-17 | Salmo 22 (23)

Primeira Carta de Paulo aos Coríntios 15,20-28| Evangelho de São Mateus 25,31-46

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