sexta-feira, 20 de novembro de 2020

O Evangelho dominical (Pagola) - 22.11.2020

A SURPRESA FINAL

Os cristãos, falamos de amor há vinte séculos. Repetimos constantemente que o amor é o critério último de todo comportamento. Afirmamos que, por amor, o julgamento final será pronunciado sobre todas as pessoas, estruturas e realizações dos homens. No entanto, com essa bela linguagem do amor, muitas vezes podemos esconder a autêntica mensagem de Jesus, muito mais direta, simples e concreta.

É surpreendente notar que, nos Evangelhos, Jesus usa pouco a palavra «amor». Nem na parábola de hoje, que descreve o destino final dos seres humanos. No final, não seremos julgados de maneira geral pelo amor, mas por algo muito mais concreto: o que fizemos quando encontramos alguém que precisava de nós? Como reagimos aos problemas e sofrimentos de pessoas concretas que fomos encontrando no nosso caminho?

O decisivo na vida não é o que dizemos ou pensamos, o que acreditamos ou escrevemos. Não basta tampouco sentimentos bonitos nem protestos estéreis. O importante é ajudar a quem nos necessita.

A maioria dos cristãos sente-se satisfeita e tranquila porque não faz mal grave a ninguém. Esquecemos que, segundo a advertência de Jesus, estamos preparando o nosso fracasso final sempre que fechamos os nossos olhos às necessidades alheias, sempre que evitamos qualquer responsabilidade que não seja em benefício próprio, sempre que nos contentamos em criticar tudo, sem dar uma mão a ninguém.

A parábola de Jesus obriga-nos a fazer perguntas muito concretas: Estou fazendo algo por alguém? A que pessoas posso prestar ajuda? O que faço para que reine um pouco mais de justiça, solidariedade e amizade entre nós? o que mais poderia fazer por um mundo solidário e fraterno?

O ensinamento decisivo de Jesus é o seguinte: o reino de Deus é e será sempre dos que amam os pobres e os ajudam nas suas necessidades. Isto é o essencial e definitivo. Um dia os nossos olhos irão abrir-se e descobriremos com surpresa que o amor é a única verdade, e que Deus reina ali onde há homens e mulheres capazes de amar e de preocupar-se e solidarizar-se com os outros.

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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