quinta-feira, 12 de novembro de 2020

ANO A | TEMPO COMUM | TRIGÉSIMO-TERCEIRO | 15.11.2020

“O clamor dos pobres deve encontrar a Igreja na vanguarda!”

Ao definir o penúltimo domingo do tempo comum como Dia Mundial dos Pobres, o Papa Francisco está a nos dizer que a espera do Reino de Deus implica em compromisso efetivo para eliminar a indiferença frente às vítimas da exploração e para sair decididamente ao encontro dos pobres, engajando-nos para que lhes seja feita justiça e os sofrimentos que lhes são infligidos sejam amenizados. Na sua mensagem para este dia, o Papa escreve: “O clamor silencioso de tantos pobres deve encontrar o povo de Deus na vanguarda, sempre e em toda parte, para lhes dar voz, defendê-los e solidarizar-se com eles”.

Mesmo que algumas vozes se levantem e gritem diversamente, Deus confia plenamente na pessoa humana. E o testemunho mais claro e indiscutível dessa confiança é a encarnação do Filho seu, a assunção plena da nossa condição humana, com todas as suas tensões e possibilidades. Deus confia a nós não apenas uma doutrina a ser defendida e ensinada ou uma mensagem a ser transmitida. Ele coloca em nossas mãos a tarefa de dirigir o curso da história e nela realizar seu Projeto. Jesus ilustra isso com a parábola dos talentos.

É o próprio Deus que chama seus administradores, entrega a eles seus bens e espera que cada um corresponda a esta confiança de acordo com suas próprias possibilidades. “A um ele deu cinco talentos, a outro deu dois, e ao terceiro, um.” A cada qual de acordo com a respectiva capacidade. A confiança do patrão é tão absoluta que ele viaja sem nenhuma preocupação. Deus sabe em quem coloca sua confiança! Mas é importante perguntar: o que ele espera daqueles que nele acreditam? Seria a simples multiplicação de horas de adoração, de doutrinas abstratas, de leis pesadas e de morais implacáveis?

Não! Eis o que ele pede e espera: “Vão e façam discípulos meus em todos os povos! Assim como o Pai enviou a mim, eu envio vocês!” Trata-se de anunciar e dinamizar o Reino de Deus acolhendo os pobres, consolidando a justiça, amando sem distinção e sem impor condições. Jesus espera que a confiança depositada em nós dê frutos! É por isso que Jesus coloca nos lábios do homem anônimo o elogio que o próprio Deus pronuncia diante dos fiéis que agem responsavelmente: “Muito bem, servo bom e fiel! Como foste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais! Venha participar da minha alegria!”

Confiança com confiança se paga! Mas a confiança responsável se mostra na capacidade de correr riscos, de sujar as mãos e encarnar-se na história, pois é nela que se esconde e se expande o Reino de Deus. O que Deus nos confia é um fermento, e o fermento cumpre seu destino somente quando se mistura à farinha e a faz a massa crescer. O que Deus nos confia é o dinamismo do seu amor, e o amor morre quando fica relegado a simples sentimento e não é transformado em ação. É verdade que o que se espera de nos é uma responsabilidade serena e sóbria, mas isso não significa que podemos ser impunemente passivos!

Infelizmente, alguns mal-entendidos levam muitos cristãos a atitudes irresponsáveis. Em nome da defesa da fé, concebem, dão à luz e fazem crescer uma Igreja separada do mundo, centrada nas doutrinas e nas leis, seduzida por uma vaga ideia de alma, enamorada dos poderes elitistas e excludentes, obcecada por templos suntuosos e ricos ornamentos. E mais: gasta todas as suas limitadas forças no resgate de ritos e línguas de um tempo que não existe mais. Esta atitude é bem representada pelo sujeito que, mesmo tendo recebido sua parte de responsabilidade, age guiado pelo medo e enterra seus talentos.

Por quê esse sujeito faz isso? “Senhor, sei que és um homem severo, pois colhes onde não plantaste e ceifas onde não semeaste. Por isso fiquei com medo escondi o meu talento no chão.” Ele diz que age por medo e respeito, mas, na verdade, é guiado pelo medo e pela preguiça! É um servo mau e preguiçoso. A fé sempre nos leva a enfrentar desafios: a encarnar a esperança no coração do mundo; a envidar esforços para que os pobres não tenham apenas um dia, mas sejam prioridade em todos os projetos. “Estenda” a mão ao pobre é um convite à responsabilidade, ao empenho direto, de quem se sente parte do mesmo destino”.

Neste tempo de tantas tensões no mundo globalizado e no interior da Igreja, rezemos com Dom Helder Camara: Senhor, ajuda a Igreja de Cristo a reencontrar os perdidos caminhos da Pobreza. Ajuda-a na abertura de portas: que nenhuma porta seja fechada. Ajuda-nos no esforço de levar à prática as decisões conciliares, sopro renovador da face da terra. Ajuda-nos a ajudar a humanidade no acerto do desencontro que a muitos pode parecer mania: o diálogo entre o mundo desenvolvido e o mundo subdesenvolvido. Amém! Assim seja!

Itacir Brassiani msf

               Livro dos Provérbios 31,10-31 | Salmo 127 (128)

Primeira Carta de Paulo aos Tessalonicenses 5,1-6 | Evangelho de São Mateus 25,14-30

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