O mundo volta sua atenção à Amazônia
Logo mais, no dia 11 de
julho, o calendário marca 18 anos da presença dos Missionários da Sagrada
Família na Prelazia de Tefé, mais precisamente, às margens do Rio Juruá,
municípios de Carauari e Itamarati. Esta
pequena comunidade – nunca fomos mais que cinco! – é a forma que encontramos de
“dar da nossa pobreza”, atendendo ao apelo que nos chega da Igreja amazônica.
A V Conferência Geral do Espiscopado Latino-Americano e do Caribe (Aparecida,
Brasil, 2007) afirma: “A fé se fortalece quando é transmitida e é preciso que
em nosso continente entremos em uma nova primavera da missão ad gentes. Somos Igrejas pobres, mas
devemos dar de nossa pobreza e a partir da alegria de nossa fé, e isso sem
descarregar sobre alguns poucos enviados o compromisso que é de toda a
comunidade cristã” (Documento de Aparecida, 379).
E o grupo de bispos,
padres, religiosos e agentes leigos da região Pan-Amazônica, reunidos no III Encontro Regional sobre a Amazônia (outubro/2009)
escreveu: “É necessário reconhecer
a Amazônia como um dom de Deus em sua criação. Este dom tem como particular
característica a diversidade múltipla, tanto de climas, biomas, rios e recursos
naturais como de tradições históricas, culturais, lingüísticas e territoriais
dos povos aborígenes que a habitam. Esta característica inerente permite pensar
a região como um verdadeiro arquipélago amazônico mais que uma só região
uniforme.”
De fato, a
área chamada Pan-Amazônia abrange aproximadamente 7,5 milhões de km2, se
estende por oito países sul-americanos e representa 43% da área da América do
Sul. Nesta área quase continental predomina altaneiro o rio Amazonas, com seus
mais de 1.100 afluentes, que tecem a rede fluvial mais extensa do mundo, com
mais de 25.000 km navegáveis. A região amazônica concentra 20% da água doce não
congelada do planeta; abriga 34% das florestas primárias e 30% da fauna e 50%
da flora do mundo. Eis algumas das razões que fizeram com que esta região
passasse a ser olhada como uma praça central do planeta e deixasse de ser
considerada um quintal desprezível.
Mas a
Amazônia não é feita somente de florestas e rios. Nela vivem mais de 40 milhões
de pessoas. Deste contingente, 3 milhões são indígenas, distribuídos em mais de
400 povos que falam 250 diferentes línguas (agrupadas em 49 famílias
linguísticas). Além disso, a Pan-Amazônia é habitada por milhares de
comunidades afro-americanas e uma infinidade de comunidades ribeirinhas
compostas de mestiços, caboclos, migrantes, agricultores e habitantes de
cidades médias e grandes. As pesquisas arqueológicas comprovaram que a presença
humana na região remonta a mais de 11.000 anos.
Mais que um
descobrimento, a chegada dos europeus
no século XVI representou uma espécie de encobrimento
desta rica realidade e uma negação da dignidade dos povos aborígenes. Alguns
historiadores afirmam que a invasão européia deu início a um dramático processo
de esgotamento dos recursos naturais e de escravidão e extermínio dos povos
povos nativos, provocando uma das maiores catástrofes demográficas da história
recente: os cinco milhões de indígenas pertencentes a 900 grupos étnicos que
existiam no ano 1500 se reduziram às poucas centenas de milhares de hoje.
Infelizmente, a depredação dos recursos da Amazônia e a violência contra os
povos indígenas e tradicionais continuam hoje com os novos ciclos extrativistas
e, sobretudo, com os grandes projetos de desenvolvimento que estão sendo
implantados em toda a região. (continua)
Itacir Brassiani msf