quinta-feira, 28 de junho de 2018

18 anos de presença MSF no Alto Juruá (1)

O mundo volta sua atenção à Amazônia

Logo mais, no dia 11 de julho, o calendário marca 18 anos da presença dos Missionários da Sagrada Família na Prelazia de Tefé, mais precisamente, às margens do Rio Juruá, municípios de Carauari e Itamarati.  Esta pequena comunidade – nunca fomos mais que cinco! – é a forma que encontramos de “dar da nossa pobreza”, atendendo ao apelo que nos chega da Igreja amazônica.
A V Conferência Geral do Espiscopado Latino-Americano e do Caribe (Aparecida, Brasil, 2007) afirma: “A fé se fortalece quando é transmitida e é preciso que em nosso continente entremos em uma nova primavera da missão ad gentes. Somos Igrejas pobres, mas devemos dar de nossa pobreza e a partir da alegria de nossa fé, e isso sem descarregar sobre alguns poucos enviados o compromisso que é de toda a comunidade cristã” (Documento de Aparecida, 379).
E o grupo de bispos, padres, religiosos e agentes leigos da região Pan-Amazônica, reunidos no III Encontro Regional sobre a Amazônia (outubro/2009) escreveu: “É necessário reconhecer a Amazônia como um dom de Deus em sua criação. Este dom tem como particular característica a diversidade múltipla, tanto de climas, biomas, rios e recursos naturais como de tradições históricas, culturais, lingüísticas e territoriais dos povos aborígenes que a habitam. Esta característica inerente permite pensar a região como um verdadeiro arquipélago amazônico mais que uma só região uniforme.” 
De fato, a área chamada Pan-Amazônia abrange aproximadamente 7,5 milhões de km2, se estende por oito países sul-americanos e representa 43% da área da América do Sul. Nesta área quase continental predomina altaneiro o rio Amazonas, com seus mais de 1.100 afluentes, que tecem a rede fluvial mais extensa do mundo, com mais de 25.000 km navegáveis. A região amazônica concentra 20% da água doce não congelada do planeta; abriga 34% das florestas primárias e 30% da fauna e 50% da flora do mundo. Eis algumas das razões que fizeram com que esta região passasse a ser olhada como uma praça central do planeta e deixasse de ser considerada um quintal desprezível.
Mas a Amazônia não é feita somente de florestas e rios. Nela vivem mais de 40 milhões de pessoas. Deste contingente, 3 milhões são indígenas, distribuídos em mais de 400 povos que falam 250 diferentes línguas (agrupadas em 49 famílias linguísticas). Além disso, a Pan-Amazônia é habitada por milhares de comunidades afro-americanas e uma infinidade de comunidades ribeirinhas compostas de mestiços, caboclos, migrantes, agricultores e habitantes de cidades médias e grandes. As pesquisas arqueológicas comprovaram que a presença humana na região remonta a mais de 11.000 anos.
Mais que um descobrimento, a chegada dos europeus no século XVI representou uma espécie de encobrimento desta rica realidade e uma negação da dignidade dos povos aborígenes. Alguns historiadores afirmam que a invasão européia deu início a um dramático processo de esgotamento dos recursos naturais e de escravidão e extermínio dos povos povos nativos, provocando uma das maiores catástrofes demográficas da história recente: os cinco milhões de indígenas pertencentes a 900 grupos étnicos que existiam no ano 1500 se reduziram às poucas centenas de milhares de hoje. Infelizmente, a depredação dos recursos da Amazônia e a violência contra os povos indígenas e tradicionais continuam hoje com os novos ciclos extrativistas e, sobretudo, com os grandes projetos de desenvolvimento que estão sendo implantados em toda a região. (continua)
Itacir Brassiani msf

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