Primeiras
experiências dos MSF na região Amazônica
Mesmo sem
sequer imaginar a importância que a Amazônia teria nas décadas seguintes, a
presença dos Missionários da sagrada Família na região remonta aos inícios do
século passado. Um grupo de sete missionários (Pe. João Paulsen; Pe. Alexandre
Mertens; Pe.José Lauth; Pe. Ludovico Bechold; Pe. Germano Elsing; Ir.
Boaventura Hammacher; Ir. Francisco Ramm) partiu da Holanda em dezembro de 1910
e, depois de uma parada em Recife para aprender os rudimentos da língua nativa,
chegou, já desfalcado de dois membros, a Mazagão, na região da foz do rio
Amazonas, no dia 15 de agosto de 1911. Era a primeira iniciativa missionária da
Congregação.
Segundo um
historiador Eduardo Hoornaert, o que caracteriza substancialmente a primeira
evangelização oficial na Amazônia como um todo é o abandono das populações em
termos religiosos, assim como o autoritarismo e o elitismo: "Fomos
evangelizados de cima para baixo e de fora para dentro. Tanto o cristianismo
dos engenhos como o dos aldeamentos eram baseados numa inversão de valores que camuflava
o especificamente cristão. O colonialista estava no altar e o pobre na porta, o
dinheiro abria as portas da Igreja e os pobres ficavam por fora, assim como
quem quer que seja que falasse a favor deles.” (A Igreja no Brasil" em:
Enrique Dussel [Org.] Historia Liberationis, São Paulo:
Paulinas/CEHILA, 1992, p. 316)
A população
da região onde atuaram os recém-chegados missionários era formada quase que
totalmente por negros, mulatos e caboclos. Habituados aos trabalhos pesados, este
povo ficara à margem da sociedade. As mulheres eram diminuídas e subjugadas
pelos maridos. As igrejas estavam quase sempre fechadas ou abandonadas. E eram
apenas 13 padres para dar conta de uma prelazia de dimensões continentais.
Nossos
missionários se depararam com as dificuldades enfrentadas pelo povo e o
trabalho era insano e desalentador. "De um lado a pobreza extrema de uma
grande parte do povo, tecida de tradições e costumes africanos; de outro lado,
a ignorância religiosa generalizada, aliada ao analfabetismo, à licenciosidade
dos costumes, a famílias mal constituídas. Era o pano de fundo daquela
impressionante realidade” (Demerval Alves Botelho, Uma história de amor e sacrifício, vol. I, 1988, p. 73). Por várias
razões, os Missionários da Sagrada Família deixaram a região em 1948, depois de
37 anos de trabalho.
No ano de
1994 um grupo de missionários da Província do Brasil Meridional deu vida a uma
nova presença dos MSF na região amazônica, desta vez na periferia de Palmas,
capital do recém criado estado de Tocontins. Naquele momento a cidade contava
com mais de 60.000 habitantes, composta por uma maioria absoluta de migrantes,
e com apenas um padre para atendê-la. A comunidade missionária viveu de modo
simples e despojado, próxima do povo mais pobre e trabalhando para o próprio
sustento. Atuou decidamente na organização da luta pela moradia, além dos
trabalhos de organização das comunidades eclesiais.
No período
de sete anos em que vigorou esta missão, vários coirmãos deram o melhor de si:
Pe. Júlio César Werlang; Ir. Irio Luiz Conti; Pe. Pedro Léo Eckert; Pe. Inácio
Dalla Nora; Fr. Moisés Furmann; Fr. Romeu Feix; e Fr. Onivaldo e alguns
postulantes. Esta comunidade foi fechada
no ano 2000, considerando especialmente o progressivo conservadorismo da Igreja
local, o aumento do número de padres e religiosos, a grande distância que
separava a pequena comunidade dos demais confrades e o projeto de uma nova
missão na prelazia de Tefé. (Continua)
Itacir Brassiani msf
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