segunda-feira, 2 de julho de 2018

18 anos de presença MSF no Alto Juruá (2)


Primeiras experiências dos MSF na região Amazônica
Mesmo sem sequer imaginar a importância que a Amazônia teria nas décadas seguintes, a presença dos Missionários da sagrada Família na região remonta aos inícios do século passado. Um grupo de sete missionários (Pe. João Paulsen; Pe. Alexandre Mertens; Pe.José Lauth; Pe. Ludovico Bechold; Pe. Germano Elsing; Ir. Boaventura Hammacher; Ir. Francisco Ramm) partiu da Holanda em dezembro de 1910 e, depois de uma parada em Recife para aprender os rudimentos da língua nativa, chegou, já desfalcado de dois membros, a Mazagão, na região da foz do rio Amazonas, no dia 15 de agosto de 1911. Era a primeira iniciativa missionária da Congregação.
Segundo um historiador Eduardo Hoornaert, o que caracteriza substancialmente a primeira evangelização oficial na Amazônia como um todo é o abandono das populações em termos religiosos, assim como o autoritarismo e o elitismo: "Fomos evangelizados de cima para baixo e de fora para dentro. Tanto o cristianismo dos engenhos como o dos aldeamentos eram baseados numa inversão de valores que camuflava o especificamente cristão. O colonialista estava no altar e o pobre na porta, o dinheiro abria as portas da Igreja e os pobres ficavam por fora, assim como quem quer que seja que falasse a favor deles.” (A Igreja no Brasil" em: Enrique Dussel [Org.] Historia Liberationis, São Paulo: Paulinas/CEHILA, 1992, p. 316)
A população da região onde atuaram os recém-chegados missionários era formada quase que totalmente por negros, mulatos e caboclos. Habituados aos trabalhos pesados, este povo ficara à margem da sociedade. As mulheres eram diminuídas e subjugadas pelos maridos. As igrejas estavam quase sempre fechadas ou abandonadas. E eram apenas 13 padres para dar conta de uma prelazia de dimensões continentais.

Nossos missionários se depararam com as dificuldades enfrentadas pelo povo e o trabalho era insano e desalentador. "De um lado a pobreza extrema de uma grande parte do povo, tecida de tradições e costumes africanos; de outro lado, a ignorância religiosa generalizada, aliada ao analfabetismo, à licenciosidade dos costumes, a famílias mal constituídas. Era o pano de fundo daquela impressionante realidade” (Demerval Alves Botelho, Uma história de amor e sacrifício, vol. I, 1988, p. 73). Por várias razões, os Missionários da Sagrada Família deixaram a região em 1948, depois de 37 anos de trabalho.
No ano de 1994 um grupo de missionários da Província do Brasil Meridional deu vida a uma nova presença dos MSF na região amazônica, desta vez na periferia de Palmas, capital do recém criado estado de Tocontins. Naquele momento a cidade contava com mais de 60.000 habitantes, composta por uma maioria absoluta de migrantes, e com apenas um padre para atendê-la. A comunidade missionária viveu de modo simples e despojado, próxima do povo mais pobre e trabalhando para o próprio sustento. Atuou decidamente na organização da luta pela moradia, além dos trabalhos de organização das comunidades eclesiais.
No período de sete anos em que vigorou esta missão, vários coirmãos deram o melhor de si: Pe. Júlio César Werlang; Ir. Irio Luiz Conti; Pe. Pedro Léo Eckert; Pe. Inácio Dalla Nora; Fr. Moisés Furmann; Fr. Romeu Feix; e Fr. Onivaldo e alguns postulantes.  Esta comunidade foi fechada no ano 2000, considerando especialmente o progressivo conservadorismo da Igreja local, o aumento do número de padres e religiosos, a grande distância que separava a pequena comunidade dos demais confrades e o projeto de uma nova missão na prelazia de Tefé. (Continua)
Itacir Brassiani msf

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