Missionários
da Sagrada Família: Constituídos para quê?
No dia 25 de julho
de 1895, as Constituições dos Missionários da Sagrada Família eram aprovadas
pela Igreja. Antes que o Pe. Berthier chegasse à casa que abrigaria os
primeiros aspirantes e postulantes, em Grave (Holanda), o Fundador deixava
claro o perfil e a finalidade do sonho que acalentava. E podemos imaginar sua
alegria ao receber a aprovação da Igreja para seu projeto... Na data que marca
esse acontecimento, parece-me importante reler o que ele escreveu nos primeiros
parágrafos (1 a 19) da Constituição de 1895. Isso é muito importante no momento
em que enfrentamos o desafio da reestruturação.
1.
(a) “A colheita é grande, mas os
trabalhadores são poucos!” (Mt 9,37). (b) Esta é a verdade dos nossos dias,
como no tempo de Nosso Senhor. (c) Em pleno século XIX, 7/8 da população do
globo ainda vive nas trevas da heresia ou da infidelidade. (d) O próprio Papa
Leão XIII escrevia, em uma encíclica de 3 de dezembro de 1880:
2.
(a) “As missões apostólicas são
pressionadas por muitas e graves necessidades, pois a cada dia é menor o número
dos santos operários. (b) Enquanto alguns são roubados pela morte e outros são
tragados pela velhice ou limitados pelo cansaço, aqueles que estão dispostos a
sucedê-los são em número insuficiente e de qualidade inferior. (c) Assistimos
ao desaparecimento de inteiras famílias religiosas, pressionadas por leis
nefastas. (d) Por todos os lados vemos padres afastados dos altares e obrigados
ao serviço militar e os bens do clero secular e regular sendo confiscados e
vendidos.”
3.
(a) “Ao mesmo tempo, uma grande
possibilidade se abre em outras regiões que antes pareciam inacessíveis, cresce
o conhecimento de novos lugares e povos que pedem envio de soldados de Cristo e
abrem-se novas frentes missionárias. [...] (b) É lamentável a sorte daqueles
que são guiados por falsos mestres e anseiam pela pura luz da verdade, mas não
encontram ninguém que os instrua na santa doutrina ou os convide a entrar na
Igreja de Cristo. (c) Verdadeiramente, os pequenos pedem pão e não há ninguém
que os atenda. (d) Os campos estão dourados, a colheita é abundante e os
operários são pouco numerosos, e talvez no futuro serão ainda menos.”
4.
(a) “Veneráveis Irmãos, a situação é
tal que cremos ser nosso dever estimular o zelo e a caridade cristã a fim de
que, seja através da oração, seja através de ofertas, todos se empenhem em
ajudar a obra das santas missões e favorecer a propagação da fé. [...] (b) A
vocês também, Veneráveis Irmãos, chamados a participar da nossa solicitude,
exortamos com firmeza a engajarem-se ativa e energicamente nas missões
apostólicas, sustentados pela confiança em Deus, sem temer as dificuldades e
com ânimo concorde.”
5.
“Portanto, se vocês conhecem pessoas zelosas
pela glória de Deus, capazes e desejosos de participar das santas missões,
ofereçam a ajuda que ela necessitam a fim de que, procurando e descobrindo a
vontade de Deus, não deem ouvidos à carne ou ao sangue, mas se orgulhem de
obedecer à voz do Espírito.”
6.
“Não dispensem esforços para que os demais
sacerdotes, os religiosos e religiosas e todos os fiéis confiados ao cuidado de
vocês, através de incessantes preces, atraiam a ajuda do céu em favor dos
semeadores da Santa Palavra.”
7.
(a) “E que à oração suplicante se una a
esmola, cuja força consiste em possibilitar àqueles que estão distantes das
missões e ocupados em diferentes atividades, associarem-se aos trabalhos e
méritos dos missionários. [...] (b) Veneráveis Irmãos, façam com que todos
compreendam que sua generosidade não será um prejuízo mas uma vantagem, pois
empresta-se ao Senhor aquilo que é doado aos necessitados. (c) E é por isso que
a esmola é considerada a mais lucrativa de todas as atividades.”
8.
(a) Desde 1880 estão sendo fundadas
escolas apostólicas, mas esse processo foi quase paralisado pelos decretos de
expulsão e pela diminuição da fé e da própria população. (b) Além disso, essas
escolas apostólicas só admitem adolescentes de 12 a 14 anos, e as vocações
tardias não encontram facilmente oportunidades.
9.
(a) A Sociedade das Missões Estrangeiras alcançou um grande sucesso, mas
normalmente não abre suas portas senão aos jovens de origem francesa e
habilitados a estudar filosofia. (b) Mas sabemos que os jovens oriundos de
famílias pobres têm dificuldade de frequentar os estudos secundários que
preparam à filosofia, e assim são excluídos dessa sociedade.
10.
A experiência comprova que, nos países
profundamente cristãos e onde as famílias são numerosas, encontramos jovens
inteligentes e virtuosos, de 14
a 30 anos, que, tendo se preservado dos vícios, aspiram
à vida apostólica, desde que uma obra especial suporte os custos da sua
formação.
11.
(a) Assim, fundar tal obra e torná-la
acessível aos jovens das diversas nações católicas significa suprir uma lacuna
e assumir o ponto de vista de Sua Santidade o Papa Leão XIII. (b) No dia 14 de
novembro de 1894, o plano dessa obra foi apresentado à Sua Santidade por Sua
Eminência o Cardeal Rampolla, Secretário de Estado. (c) Depois de tomar
conhecimento, na audiência que Sua Santidade concedeu no dia seguinte ao
Cardeal Langénieux, Leão XIII disse que uma tal iniciativa é oportuna, que ele
a abençoava, desejava que fosse iniciada sem demora e a colocava sob sua
proteção.
12.
Portanto, o berço dessa obra é a bênção
da Igreja, e isso deve encorajar aqueles que a graça atrair a ela.
13.
(a) Esta obra recebe o nome de Sagrada
Família e está sob a proteção de Nossa Senhora Reconciliadora de la Salette, à
qual invocará habitualmente. (b) É na Sagrada Família, em Nazaré, que cresceu o
Sacerdote Eterno, Nosso Senhor Jesus Cristo, o missionário do Pai. (c) E é
sobre a montanha de la Salette que foi concebido o projeto dessa obra.
14.
(a) A Sagrada Família é o modelo
perfeito de espírito de respeito, de obediência, de caridade, de dedicação, de
humildade, de vida de trabalho, de pobreza e de pureza que deve reger essa
obra. (b) Aqueles que a graça atrair a essa obra se empenharão em assimilar
este espírito.
15.
(a) Seus membros não esquecerão que o
respeito e a caridade mútuas são mais importantes que todas as Constituições, e
que todas as regras e todos os votos têm por objetivo enraizar neles o amor a
Deus e ao próximo. (b) Portanto, eles se esforçarão para não procurar honras,
para ter um só coração e uma só alma, para entreajudarem-se nos trabalhos, para
consolarem-se reciprocamente nos sofrimentos da vida, para edificarem-se uns
aos outros. (c) Os membros do instituto se chamarão Missionários da Sagrada
Família.
16.
(a) Os Missionários da Sagrada Família
formam um instituto de votos simples que tem como fim a santificação dos seus
membros, que é a única coisa necessária da qual fala Nosso Senhor no Evangelho.
(b) Esse instituto tem também por finalidade especial formar missionários e
aumentar seu número através da formação de vocações apostólicas, sobretudo
tardias. (c) Essa é a razão de sua existência e também o meio mais eficaz de
trabalhar pela glória de Deus e a salvação da humanidade. (d) As pessoas se
convertem à fé e à vida cristã pelo Evangelho. (e) Fides ex auditu, auditus autem per verbum Dei. (f) Precisa-se pois
de missionários, mas formá-los é mais eficaz que trabalhar nas missões, pois
enquanto um missionário faz um certo bem numa terra estrangeira, quem forma
numerosos missionários faz um bem multiplicado tantas vezes quantos são os bons
trabalhadores da vinha do Senhor por ele formados.
17.
(a) Assim, os membros do Instituto
serão zelosos antes de tudo pelo desenvolvimento da obra das vocações
apostólicas tardias, organizando centros nos quais ela possa prosperar,
atraindo e formando o máximo possível de bons missionários. (b) E à medida em
que o número de padres amadurecidos pela piedade, pelo estudo e pela
experiência crescer, procurarão estabelecer seminários da mesma natureza e com
o mesmo objetivo em lugares onde o espírito de fé e as famílias numerosas
ofereçam mais possibilidades de encontrar boas vocações.
18.
(a) Quando o primeiro objetivo da obra
for realizado, nada impedirá aos missionários aceitar missões estrangeiras. (b)
Se os superiores julgarem que, em determinadas situações, for útil ao progresso
ou à sobrevivência da obra pregar missões nos países católicos, ou mesmo
aceitar paróquias oferecidas pelos bispos nas regiões onde faltam padres, nada
impedirá que eles empenhem nisso alguns membros, (c) desde que nas missões
sejam ao menos dois e nas paróquias sejam ao menos três, para que possam
observar a vida regular e não percam de vista o objetivo principal do Instituto
e, (d) consequentemente, cultivem as vocações apostólicas, formando na piedade,
na virtude e no estudo os adolescentes e os jovens que dão esperanças de se
tornarem bons missionários. (e) O instituto não aceitará a direção de colégios
nem de seminários que não sejam aqueles que criarem para a finalidade da obra.
19.
(a) O objetivo do instituto supõe que
seus membros sejam geralmente padres ou se preparem para ser padre. (b)
Todavia, alguns trabalhos no interior das residências, ou mesmo algumas tarefas
de catequese nas missões, não exigem o ministério sacerdotal. (c) Por isso,
podem ser admitidos no instituto leigos que não se tornarão padres e que serão
tratados como verdadeiros irmãos da Sagrada Família. (d) Eles a assumirão como
o fez São José, que por eles será considerado modelo e honrado como protetor.
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