quarta-feira, 11 de julho de 2018

ANO B – DÉCIMO-QUINTO DOMINGO DO TEMPO COMUM – 15.07.2018


É fiel a Jesus a Igreja que vive em ritmo de missão!
Ainda está viva na nossa memória a recepção pouco positiva que a comunidade de Nazaré dispensou a Jesus, narrada no evangelho do domingo passado. Por causa da sua origem humilde, impacto provocado pela sua sabedoria logo se transformou em escândalo. A encarnação humilde e solidária, porém, não é mero acidente de percurso, mas o método missionário de Jesus! Ele envia os discípulos recomendando despojamento e humildade, pedindo que tomem parte na sua missão. A comunidade cristã é uma assembleia de pessoas chamadas e enviadas, e Paulo diz que Deus nos escolheu antes da criação do mundo para sermos santos e sem ambiguidades no amor. O amor é a dinâmica e o coração da missão.
A palavra Igreja significa etimologicamente assembleia ou reunião. A Igreja é uma autêntica assembleia de Deus, convocada e reunida por ele e em nome dele. Esta assembleia representa Jesus no mundo. A razão de ser da Igreja é deixar-se enviar, colocar-se a caminho, assumir uma missão, continuar a própria missão iniciada por Jesus Cristo. Ela é uma assembleia de pessoas enviadas, uma comunidade em missão. Isso significa que a Igreja não é uma sociedade voltada para si mesma, autorreferencial, como fala o Papa Francisco. A Igreja é uma espécie de movimento para fora, uma comunidade ex-cêntrica.
Preparar-se e capacitar-se para a missão recebida é sinal de responsabilidade pessoal e de apreço pelos destinatários do serviço que realizamos. No caso da missão que Jesus Cristo confia à comunidade cristã, a preocupação exagerada com os meios e com os recursos não deve travar as iniciativas nem adiar o enfrentamento das urgências. O que é indispensável é o mergulho pessoal no Evangelho de Jesus Cristo e a disposição de partilhar gratuitamente a liberdade e a dignidade que de graça recebemos. Como Jesus, seus discípulos não devemos nos preocupar demais com meios poderosos e técnicas especiais.
Com isso não quero dizer que a preparação espiritual e intelectual não sejam necessárias, mas apenas ressaltar que não devemos colocar aquilo que é secundário no lugar do que é essencial. Sem a experiência de fé e da liberdade que despoja e simplifica, não há curso ou instrumento multimídia que possa ajudar na missão. Sem a atitude de irmão e companheiro não existe missão frutuosa. A vocação missionária não é uma profissão que traz benefícios ou prosperidade individual, mas uma força desestabilizadora e profética, o que a faz nem sempre aceita e aplaudida.
Anunciar “Jesus te ama e te salva!” é bonito e verdadeiro, mas é pouco e insuficiente. É uma pena que haja missionários que imaginam que é necessário defender Jesus diante de um mundo indiferente ou resistente à religião, pois é o povo de Deus, e não Jesus, que precisa de defensores! E há pregadores que esquecem que a missão tem uma dimensão ativa, transformadora, libertadora: expulsar demônios, curar doentes, etc. Isso não significa virar exorcista ou curandeiro, mas criar condições para que as pessoas arrebentadas por dentro e por fora, menosprezadas e oprimidas, recuperem plenas condições de vida.
Em cada situação missionária, precisamos identificar quem são as pessoas e grupos aos quais são negadas as possibilidades de uma vida plena e agir em favor delas, levando em conta que, por mais que as ações espetaculares de expulsar os demônios e curar os doentes impressionem, a dimensão transformadora da missão cristã se mostra melhor noutras iniciativas que dão menos ibope, como na corajosa ação da CPT, no delicado e respeitoso trabalho do CIMI, na frutuosa atividade da Pastoral da Criança, no ingrato trabalho da Pastoral Carcerária, na anônima dedicação da Pastoral da Saúde...
É uma verdade central da nossa fé que, em Cristo, Deus nos abençoou abundantemente e nos escolheu ainda antes de criar o mundo para sermos pessoas maduras e íntegras no amor. Ele também abriu nossa mente à compreensão do mistério de sua santa vontade, nos adotou como filhos e filhas e nos introduziu na lista dos seus herdeiros. E isso não é pouco, nem coisa abstrata ou para um futuro incerto. O que não podemos é pensar que isso seja mérito ou privilégio. Somos filhos e filhas, e herdeiros, porque ele é bom, nos ama e nos acolhe sem levar em conta nossas ambiguidades e limites.
Jesus Cristo, profeta de Nazaré e missionário do Pai! Tu nos ensinas que a vontade mais genuína do teu e nosso Pai é que o amor e a fidelidade se encontrem, a justiça e a paz se abracem, a fidelidade brote da terra e a justiça se incline do céu. É isso que tu pedes que anunciemos e realizemos enquanto Igreja discípula e missionária. Por isso, confiantes, te pedimos pelos servidores e servidoras da Palavra, por aqueles cuja missão é, na medida do possível, atrair as pessoas a ti: abençoa o trabalho deles, de modo que realizando-o possam também eles ser atraídos a ti e confirmados na alegria. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
(Profecia de Amós 7,12-15 * Salmo 84 (85) * Carta aos Efésios 1,3-14 * Evangelho de São Marcos 6,7-13)

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