quarta-feira, 4 de julho de 2018

O Evangelho dominical - 08.07.2018


REJEITADO ENTRE OS SEUS

Jesus não é um sacerdote do Templo, ocupado em cuidar e promover a religião. Tampouco se confunde com um Mestre da Lei, dedicado a defender a Torá de Moisés. Os camponeses da Galileia vêm nos Seus gestos curadores e nas Suas palavras de fogo a atuação de um profeta movido pelo Espírito de Deus.
Jesus sabe que lhe espera uma vida difícil e conflituosa. Os dirigentes religiosos irão enfrenta-Lo. É o destino de todo o profeta. Não suspeita todavia que será rejeitado precisamente entre os seus, os que melhor o conhecem desde criança.
Ao que parece, a rejeição de Jesus no Seu povo de Nazaré era muito comentada entre os primeiros cristãos. Três evangelistas recolhem o episódio com todo o detalhe. Segundo Marcos, Jesus chega a Nazaré acompanhado de discípulos e com fama de profeta curador. Os Seus vizinhos não sabem o que pensar.
Ao chegar ao sábado, Jesus entra na pequena sinagoga da povoação e «começa a ensinar». Os Seus vizinhos e familiares apenas o escutam. Entre eles nasce todo o tipo de preguntas. Conhecem Jesus desde criança: é um vizinho entre outros. Onde aprendeu essa mensagem surpreendente do reino de Deus? De quem recebeu essa força para curar? Marcos diz que Jesus «deixava-os desconcertados». Porquê?
Aqueles camponeses acreditam que sabem tudo de Jesus. Fizeram uma ideia Dele desde criança. Em lugar de o acolher tal como se apresenta ante eles, ficam bloqueados pela imagem que têm Dele. Essa imagem os impede de se abrir ao mistério que se encerra em Jesus. Resistem a descobrir Nele a proximidade salvadora de Deus.
Mas há algo mais. Acolhê-Lo como profeta significa estar dispostos a escutar a mensagem que lhes dirige em nome de Deus. E isso pode trazer-lhes problemas. Eles têm a sua sinagoga, os seus livros sagrados e as suas tradições. Vivem com paz a sua religião. A presença profética de Jesus pode romper a tranquilidade da aldeia.
Os cristãos, temos imagens bastante diferentes de Jesus. Nem todas coincidem com a que tinham os que o conheceram de perto e o seguiram. Cada um de nós faz a sua ideia ele. Esta imagem condiciona a nossa forma de viver a fé. Se a nossa imagem de Jesus é pobre, parcial ou destorcida, a nossa fé será pobre, parcial ou alterada.
Porque nos esforçamos tão pouco em conhecer Jesus? Porque nos escandaliza recordar os Seus traços humanos? Porque nos resistimos a confessar que Deus se encarnou num profeta? Intuímos talvez que a Sua vida profética nos obrigaria a transformar profundamente as nossas comunidades e a nossa vida?
José Antônio Pagola
Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez

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