Celebrando a memória de uma vida consagrada
O dia 3 de julho marca a
passagem de 5 anos de falecimento do saudoso coirmão Pe. Rodolpho Ceolin msf.
Cultivar a memória desse missionário não é uma homenagem que prestamos a ele,
mas uma forma de, recordando sua trajetória e seu perfil humano e espiritual, acolher
os estímulos de crescimento.
Nos últimos dias de vida, o
Pe. Ceolin rabiscou algumas notas telegráficas para uma possível e desejada
autobiografia. Ele agrupo estas notas em quatro momentos: episódios marcantes
da infância; vida no Seminário de Santo Ângelo; do noviciado à primeira missa;
vida ministerial. (Não abordaremos aqui este último momento).
Em relação à infância
Nestas anotações o Pe. Ceolin
registra que nasceu no oitavo mês de gestação, fato que ele imaginava estar na
origem da sua alta sensibilidade ao barulho e daquilo que ele chama, sem
oferecer detalhes, de “medo da morte”. Depois, faz menção ao acidente do pai com
a explosão de um dinamite, fato que, sabemos por ele, interferiu decisivamente
no futuro da família, e que o Rodolpho tinha certa dificuldade em aceitar e
perdoar.
Nesta fase, há uma referência
também a um acidente que ele mesmo teve com um embornal. Seu irmão Ermindo me
contou que, quando menino ainda bem pequeno, metido como sempre seria, o Rodolpho
estava brincando no galpão, enfiou a cabeça num bornal de arame e, com
dificuldades de se desvencilhar e assustado, acabou com um profundo corte no
pescoço...
Nestas linhas manuscritas, o
nosso saudoso coirmão registra também que era muito travesso, e isso tanto em
casa como na escola e na catequese. Mas essas travessuras não impediam que ele
fosse avaliado positivamente pelos vizinhos e pela comunidade, que o aceitou
como coroinha ainda em tenra idade. Ele mesmo lembra que o pai atuou
decisivamente para livra-lo dos maus companheiros, sem entrar em maiores
detalhes a respeito.
Sinais precoces da vocação à vida consagrada?
Aos 83 anos, o Pe. Ceolin se
interrogava se teriam existido, na sua infância, sinais autênticos de vocação à
vida religiosa e ministerial. E registra entre aspas e com emoção, palavras que
parecem ter sido ditas por sua mãe, dona Carolina: “Você não me pertence. Você
é mais filho de Deus que meu!” Sábias, generosas e profundas palavras de uma
mãe que se revelaria boa catequista e iluminada orientadora vocacional...
Entre os pontos que, nas notas
que nos ocupam, ele destacou como merecedores de um desenvolvimento maior, está
uma referência a “luzes e sombras, alegrias e tristezas, vitórias e derrotas”.
Sobre isso, ele não diz nada mais. Sabemos, porém, daquilo que significou sua
expulsão do Seminário, conforme relata noutro texto.
Formação no Seminário
Mas para este período, ele
escreveu, como primeiro ponto: “Carlito, o amigo verdadeiro”. Trata-se de Carlito
Meelz, seu amigo de infância, o qual, desde seu ingresso no Seminário jamais
passou um dia sem rezar pela vocação do Pe. Rodolpho. Na celebração dos 50 anos
de ministério presbiteral do Ceolin, lá estava o Carlito, na primeira fila,
fisicamente debilitado, mas espiritualmente intacto.
Mas há também, para este
período, uma anotação muito interessante sobre aquilo que ele denomina de
“características emergentes na minha personalidade”, e que ele descreve em
cinco pontos: amor ao trabalho humilde; vida modesta e pobre; prontidão e
gratuidade para fazer aquilo que lhe solicitam; solidão do coração; pouco
exigente com a alimentação. Quem o conheceu pode testemunhar o quanto estes
traços emergentes se consolidaram na sua vida adulta, inclusive aquilo que ele
denomina “solidão de coração”.
Noviço e presbítero
Nas referidas anotações, o Pe.
Ceolin destaca um terceiro período da sua vida, que vai do noviciado à primeira missa. E um primeiro registro que chama a
atenção, e que ele faz questão de partilhar, é sua boa convivência com os
colegas e seu empenho no estudo, no trabalho e no esporte. Não menos importante
é o distanciamento em relação aos colegas que eram lentos ou resistentes aos
trabalhos extras, aos que buscavam sempre o que era mais fácil e prazeroso, aos
que se aventuravam em experiências contra os votos, aos que mostravam um
caráter exageradamente crítico e briguento. Finalmente, há uma nota sobre suas
aptidões para o canto, a música e as artes cênicas, dons e gostos que
conservou, embora sem desenvolve-los significativamente, até o final da vida.
Há também referências ao que ele chama
de limites e feridas deste período.
O Pe. Ceolin registra os dois limites que lhe pareciam mais relevantes. O
primeiro, ele chama de “dúvidas incertezas vocacionais”, algo que o acompanhará
nos primeiros anos de ministério e no período em que foi Superior provincial, e
até muito mais tarde. Trata-se de uma questão com a qual ele se debateu a vida
inteira!
O segundo limite é uma espécie de
ferida, à qual ele chama de “provação” e se referia seguidamente: foi obrigado
a ficar sete anos sem visitar sua família. E isso se fez ainda mais doloroso pela impossibilidade da sua mãe fazer-se presente na sua ordenação presbiteral, celebrada no dia
25 de novembro de 1956, em Tapejara (RS).
Itacir Brassiani msf
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