Os leigos são perfume de cristo, o fermento do Reino
e a glória do Evangelho!
O evangelho
deste domingo conta que, durante o ensino de Jesus caminho para Jerusalém, uma
pessoa anônima o questiona sobre o número das pessoas que se salvam. Parece que
não está interessada no caminho que leva à salvação, mas no número dos que
seriam beneficiados por ela. Jesus desloca a questão do número dos que se
salvam para o caminho da salvação. Na sua resposta, sublinha que a salvação,
que coincide com a plena realização da pessoa humana, não dispensa o esforço
pessoal contínuo. O caminho da salvação passa pela exigente conversão de uma
postura estreita e exclusiva a uma visão aberta e inclusiva.
Além de
enfatizar a necessidade de empenho pessoal no processo de amadurecimento e libertação,
Jesus sublinha que este engajamento é tarefa para o tempo presente, e não pode
ser adiado indefinidamente. Comparando o processo de salvação com uma porta
estreita, ressalta que chegará o tempo em que o dono da casa fechará a porta e
não será mais possível entrar. Portanto, é preciso desfrutar responsavelmente
das possibilidades de crescimento que cada momento nos oferece. O tempo
propício da salvação é agora, e aqui é o lugar onde precisamos semear Reino de
Deus e ajuda-lo a florescer.
Há gente que
pensa que somente a religião nos salva, que as pessoas maduras, realizadas,
plenamente humanas ou santas seriam aquelas que rezam bastante, que observam as
prescrições religiosas, que regem a vida por uma moralidade estrita, que vivem
neste mundo suspirando pelo outro. Mas a religião não pode se divorciar da
ética, inclusive da ética social, nem do mundo, inclusive das coisas materiais.
A religião propõe uma forma específica de viver no mundo e se relacionar com as
pessoas e coisas. Àqueles que reduzem a religião a um conjunto de prescrições a
serviço da indiferença, Jesus adverte: “Não sei de onde sois...”
Respondendo à
pergunta sobre o número dos que se salvam, Jesus diz que “virão muitos do
oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa do Reino de
Deus”. Em outras palavras: alguns daqueles que as religiões e instituições
descartam ou colocam em último lugar, aos olhos de Deus são os mais importantes
e ocupam os primeiros lugares. Todos os homens e mulheres são chamados à salvação
e, de um modo que só o Espírito de Deus sabe, participam do mistério pascal de
Jesus Cristo. E, mais ainda: “Há últimos que serão primeiros, e primeiros que
serão últimos”!
A Igreja é a
congregação de todos os homens e mulheres apaixonados pelo sonho de uma
humanidade radicalmente libertada. Os membros do povo de Deus – esta imensa
caravana de homens e mulheres salvos e humanamente maduros – não trazem
necessariamente este título estampado no rosto ou nos documentos. No caminho da
salvação não funcionam as recomendações, os privilégios acumulados, os estados
de vida. A salvação de Deus não conhece fronteiras políticas, religiosas ou
culturais. Gente não religiosa e de outros povos, do oriente e do ocidente
tomam parte na mesa do Reino, são gente nova, irmãs e irmãos nossos!
Escutando
algumas pregações ou lendo certos escritos teológicos e espirituais, às vezes
tenho a impressão de que algumas pessoas ainda pensam que os leigos e leigas
são gente sem vocação alguma, uma maioria que é paradoxalmente um resto que não
foi chamado para nada e, por isso, deve apenas escutar e obedecer. Para tais
pessoas, os leigos e leigas viveriam nos mares deste mundo, e não lhes caberia
buscar outros mares. Deveriam esperar uma salvação que só lhes pode vir da
oração das pessoas consagradas e dos ministros ordenados. Nada contariam na
missão de salvar e de libertar. Como se diz: “São leigos no assunto...”
Será que os
leigos e leigas não são os mais importantes do ponto de vista do Reino de Deus?
Será que, imersos no mundo sem renunciar ao fermento do Evangelho, eles não
revelam uma liberdade mais consequente e uma maturidade humana mais que
surpreendente? Eles recordam, mais com a vida que com discursos, que a
encarnação no mundo e a sua transformação é uma dimensão irrenunciável da vida
cristã. Como dizem os bispos do Brasil, os leigos e leigas são o perfume de
cristo, o fermento do Reino e a glória do Evangelho (cf. CNBB, Doc. 105, nº
35).
Jesus de Nazaré, porta aberta pela qual
passamos da escravidão à liberdade, do estreito mundo do nosso eu ao fraterno e
solidário mundo dos outros: ajuda-nos a reconhecer que a vocação dos leigos e
leigas é essencial à Igreja. Eles que abrem a complexa realidade social à
solidariedade e à justiça, e testemunham com a vida um outro mundo possível.
Que eles possam passar por ti, porta do discipulado missionário, deixem na
praia o barco da comodidade e dos privilégios e se lancem heroicamente noutros
mares. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
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