Maria mulher, discípula, ministra e profeta é
elevada aos céus!
A Assunção de
Nossa Senhora é uma festa mariana que fez história e lançou profundas raízes na
religiosidade popular. Mas aquilo que cremos sobre Maria se refere, de alguma
forma, à comunidade eclesial e a todos os homens e mulheres. A glorificação de
Nossa Senhora, sua acolhida e realização plena em Deus, é uma vocação e uma
promessa de Deus a toda a humanidade. Em Maria, a pessoa humana em sua
integridade – em corpo e alma! – é assumida e realizada plenamente em Deus. Eis
uma belíssima realização da nossa esperança e uma proclamação clara e
inequívoca da dignidade do corpo.
No cântico mariano
do Magnificat, Maria emerge como uma
pessoa humilde e humilhada. No seu evangelho, Lucas nos apresenta Maria de
Nazaré como uma mulher que sabe ouvir a Palavra viva de Deus e está sempre
pronta a dar o melhor de si para que essa Palavra se realize na história. Da
boca de Isabel ficamos sabendo que ela é alguém que ousou acreditar na força da
Palavra e na fidelidade do Deus misericordioso que a pronuncia. Por isso, no
vulto cristão de Maria o que se destaca é a humildade, a escuta e a fé, marcas
fundamentais da sua personalidade e da sua estatura teológica intrinsecamente
relacionadas.
A Deus foi
possível realizar grandes coisas em Maria e através de Maria porque encontrou
nela a indispensável base humana já preparada. Para fazer-se humano, o Filho de
Deus precisou de uma pessoa profundamente humana, e não de uma criatura
angelical! Humildade, escuta da Palavra e fé na ação libertadora de Deus é
também o que possibilita uma vida humana e feliz. O segredo da felicidade que
todos buscamos não está na posse ou no consumo desmedido de bens, nem na fama,
no sucesso ou no poder de atração que exercemos, mas na abertura humilde e
profunda aos outros, ao futuro e a Deus.
Depois do
diálogo engajado e até questionador com Deus representado pelo anjo, Maria vai apressadamente
à casa de Isabel. Busca um sinal que confirme a parceria de Deus com os
humildes e sua aliança com os pobres. Ela havia dado sua palavra Àquele que é
capaz de fazer grandes coisas em favor do seu povo, mas, para ela, nem tudo
estava claro. Então, a discípula se faz serva, a serva se torna peregrina e a
peregrina procura hospitalidade na casa de Isabel. Juntas, na intimidade aberta
de uma casa da periferia, Isabel e Maria louvam a Deus e profetizam. E então, a
discípula, serva e peregrina se transforma em profetiza destemida.
Contemplando
sua própria história e a epopeia do seu povo, Maria percebe e proclama corajosamente
a intervenção libertadora de Deus: ele dispersa os soberbos, derruba os
poderosos, exalta os humildes e oprimidos, socorre seu povo e estende sua
misericórdia a todas as gerações. Então, esta mulher, assumida por Deus no céu,
não é mais apenas uma humilde trabalhadora do lar, uma discreta pessoa que
acredita, a ‘doce e recatada’ esposa de José. Deus assume em corpo e alma, e eleva
à glória do céu aquela que rompe com a cultura que menospreza a mulher, aquela
que diz uma palavra profética na arena pública.
Finalmente,
Maria é discípula de Jesus, membro vivo e peregrino da Igreja, sinal e símbolo
do povo de Deus, que não veste apenas rosa ou azul. Sua assunção por Deus é um
sinal da ressurreição que todos esperamos. Como aquela mulher radiante do
Apocalipse, a humanidade está em trabalho de parto e, mesmo ameaçada por todos
os lados, vai dando à luz um Homem Novo e construindo um Mundo Novo. Maria
simboliza a humanidade e a Igreja em seus traços femininos. Nela, a Igreja é
chamada a construir-se como corpo que acolhe, aquece, alimenta, ensina,
respeita e favorece o crescimento e o amadurecimento dos filhos e filhas.
Causa-me
tristeza e preocupação o estreitamento da mente de alguns setores da Igreja
católica que se perfilam em deploráveis cruzadas para salvar a ortodoxia de
ideias pouco ortodoxas e de imagens não mais que engessadas de Maria. E
enquanto se ocupam disso, desertam de compromissos verdadeiramente evangélicos
com as vítimas e os pobres, gente pela qual bate intensamente o coração de
Maria e em defesa de quem se levanta seu canto. Preferem estátuas mortas aos
filhos e filhas de Deus, feridos de morte.
Ave Maria, cheia de graça! O senhor está
contigo! És bendita entre todas as mulheres, e é bendito o fruto do teu
ventre! Maria santa, mãe de Deus e dos
filhos e filhas de Deus, intercede por nós neste complexo tempo que o Brasil
vive. Ajuda tua Igreja a ser uma comunidade de iguais. Ensina às pessoas
consagradas anunciar com a vida e com a palavra que nada pode ser colocado
acima do amor a Jesus e aos pobres nos quais ele vive. E conduz a vida
consagrada aos desertos, às periferias e às fronteiras. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
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