quinta-feira, 1 de agosto de 2019

O Evangelho dominical - 04.08.2019


CONTRA A INSENSATEZ

Conhecemos cada vez melhor a situação social e econômica que Jesus viveu na Galileia dos anos 30. Enquanto nas cidades crescia a riqueza, nas aldeias da Galileia aumentava a fome e a miséria. Enquanto os camponeses ficavam sem terras, os latifundiários construíram silos e celeiros cada vez maiores.
Numa pequena história, conservada e transmitida por Lucas, Jesus revela o que pensa dessa situação tão contrária ao projeto desejado por Deus, que é um mundo mais humano para todos. Jesus não conta essa parábola apenas para denunciar os abusos e atropelos cometidos pelos latifundiários, mas para desmascarar a insensatez em que vivem.
Um rico proprietário de terras é surpreendido por uma grande colheita. Não sabe como administrar tanta abundância. “Que farei?” O Seu monólogo revela-nos a lógica tola dos poderosos que só vivem para acumular riqueza e bem-estar, excluindo os necessitados do seu horizonte.
O homem rico da parábola planeja a sua vida e toma decisões. Destruirá os antigos celeiros e construirá outros maiores. Armazenará ali toda a sua colheita. Pode acumular bens para muitos anos. De agora em diante, viverá só para desfrutar: “Deita-te, come, bebe e tem uma boa vida”. De forma inesperada, Deus interrompe os seus projetos: “Insensato, esta mesma noite, vão exigir a tua vida. O que acumulaste de quem será?!”
Este homem rico reduz sua existência a desfrutar da abundância dos seus bens. No centro da sua vida, está apenas e seu bem-estar. Deus está ausente. Os trabalhadores que trabalham as suas terras não existem. As famílias das aldeias que lutam contra a fome não contam. O julgamento de Deus é retumbante: esta vida é apenas tolice e insensatez.
Neste momento, em todo o mundo aumenta de forma alarmante a desigualdade. Este é o fato mais sombrio e inumano: “Os ricos, especialmente os mais ricos, estão se tornando muito mais ricos, enquanto os pobres, especialmente os mais pobres, estão se tornando muito mais pobres”.
Este acontecimento não é normal. É a última consequência da insensatez mais grave que os humanos estão cometendo: substituir a cooperação amistosa, a solidariedade e a busca do bem comum de toda a Humanidade pela competição, rivalidade e a acumulação de bens nas mãos dos homens mais poderosos do planeta.
Desde a Igreja de Jesus, presente em toda a Terra, deveria escutar-se o clamor dos seus seguidores contra tanta insensatez, e a reação contra o modelo que guia hoje a história humana.
José Antônio Pagola.
Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez.

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