Prioridade absoluta
para os pequenos, pobres e vulneráveis!
Jesus não
desperdiça nenhuma ocasião para ensinar aqueles que o seguem. Como sabemos, ele,
Palavra viva e atuante de Deus, propõe uma inversão radical na escala dos
valores da sociedade e da religião, e não se cala nem mesmo na casa de uma
autoridade, em pleno jantar para o qual havia sido convidado. Ele desenvolve a corajosa
lição do evangelho de hoje num solene dia de sábado, na casa de um dos chefes
dos fariseus, logo depois de afirmar que as necessidades de qualquer pessoa
estão acima das leis. No mês dedicado à Sagrada Escritura, fixemos os olhos em
Jesus, a Palavra que ressoa como Boa Notícia.
Como modelo de
evangelizador, Jesus evita ficar na periferia ou na superfície das questões
essenciais. Seu ensino de hoje não é sobre as regras de boas maneiras numa
refeição solene, mas sobre um princípio fundamental da vida cristã: quem é o
maior ou o primeiro, o mais importante ou notável na vida cristã? Jesus começa
pela crítica ao orgulho e aos privilégios e passa à questão dos beneficiários
da nossa atenção. Ele conhece o costume quase universal de privilegiar, tanto
nas festas quanto nas decisões e projetos políticos e econômicos, os
familiares, parentes, amigos e vizinhos. Para Jesus, este é um círculo muito
estreito.
Inicialmente,
Jesus fala aos hóspedes que estão com ele à mesa, afirmando que “todo aquele
que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado”. Depois,
dirige-se ao próprio anfitrião que o acolhe festivamente, questionando sua
expectativa de retribuição. E deixa muito claro que orgulho e a busca de
retribuição são posturas sem base no Evangelho. O cristão pode ceder a honras e
vaidades, mas buscar decididamente o lugar reservado aos servidores. Da mesma
forma a Igreja: ela precisa superar a velha prática de servir, apoiar e
defender prioritariamente as pessoas e instituições que podem favorece-la.
Prosseguindo,
Jesus propõe a inversão da lista de grupos e pessoas que costumam aparecer no
topo das nossas listas de honoráveis, presenças infalíveis entre os convidados
das nossas festas e solenidades: os pobres, aleijados, coxos e cegos devem ser
os primeiros! É claro que aqui Jesus não quer estragar nossa festa, mas
questionar a estreiteza das fronteiras que traçamos entre ‘nós’ e ‘eles’, entre
os ‘nossos’ e os ‘outros’. Jesus coloca em questão a busca de compensações que
rege nossas pequenas e grandes ações. A verdadeira felicidade consiste em dar
generosamente, sem cobrar dividendos, na terra ou no céu.
O saudoso Dom
Helder Câmara nos ensina que o maior perigo que ameaça os cristãos e a
hierarquia religiosa é o desejo de sempre vencer e jamais fracassar, de
sentir-se sempre querido e nunca sobrar. E chegou a advertir um colega no
episcopado: “Mais grave do que ser apanhado pela engrenagem do dinheiro, é ser
apanhado pela engrenagem do prestígio”. Na verdade, a busca de privilégios e
compensações é tão desgastante quanto infantilizadora: o caminho que dá acesso
a eles geralmente passa pela subserviência, e é acompanhado pelo medo do
anonimato e pelo apego doentio aos bens e a toda sorte de títulos.
Para quem
segue o caminho de Jesus, a recompensa é prometida para ressurreição dos
justos. Em outras palavras: a felicidade que ninguém pode roubar é aquela que
conquistamos entrando pela estreita porta da humildade, da generosidade e da
solidariedade. É a alegria profunda que experimentamos quando ouvimos da boca
dos porta-vozes da vida o convite: “Amigo, vem para um lugar melhor!” E, enquanto
caminhamos nesta direção, não há honra e alegria maiores que servir,
compartilhar sonhos e lutas com aqueles que normalmente são ejetados para os
últimos lugares. Eis o que nos testemunha a Palavra!
A Carta aos
Hebreus nos diz que, em Jesus e na comunidade que o segue torna-se visível a
assembleia dos primogênitos, o verdadeiro povo de Deus, constituído de homens e
mulheres que descobriram a grande honra de amar e servir. Esta é a verdadeira
cidade de Deus, a manifestação e a morada de Deus no mundo. Fogo, tempestade,
trevas, sons de trovões e trombetas são nada diante do sinal grandioso de
homens e mulheres mansos e corajosos, humildes e generosos, ternos e fortes,
humanos e compassivos.
Jesus de Nazaré, servidor humilde,
queremos seguir teu caminho, acolher tua Boa Notícia e participar da tua ação
libertadora. Que, neste mês dedicado à tua Palavra, ela ocupe um lugar
importante em nossa vida, ilumine nossa percepção e guie nossas decisões. Hoje
Tu nos pedes que reservemos os primeiros lugares aos que são vistos e tratados
como últimos. Envia-nos teu Espírito, para que ele nos ajude a assimilar este
mandamento dá-nos escutar teu convite: “Vem para um lugar melhor!” Assim seja!
Amém!
Itacir Brassiani msf
Carta de Paulo aos Hebreus 12,18-24 | Evangelho de
São Lucas 14,7-14
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