segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

ANO A | TEMPO QUARESMAL | QUARTA-FEIRA DE CINZAS | 26.02.2020


Fraternidade e reconciliação são dons e compromissos!
O tempo quaresmal se abre como um convite a voltar a Deus com integridade de mente e coração, a vencer a tendência à fragmentação e à indiferença, a verter todas as energias para o único objetivo realmente decisivo: acolher a reconciliação que o próprio Deus nos oferece; refazer as relações fraternas e avançar na construção de uma sociedade justa; e, neste ano, defender e promover a vida em todas as suas expressões, especialmente nas situações em que ela se encontra ameaçada pelas diversas formas de violência.
Escrevendo aos cristãos de Corinto, Paulo sublinha que o próprio Deus toma a iniciativa de refazer a aliança e consertar a ruptura que provocamos com a sua vontade: em Jesus Cristo, ele reconciliou definitivamente consigo o mundo inteiro e cada um de nós. É deste dom incondicional, desta amizade reatada por livre, generosa e soberana iniciativa dele, que brota para nós a exigência de reconciliação com o Pai, e com os irmãos e irmãs. E isso não é algo secundário, mas uma tarefa essencial. É coisa para hoje, para agora!
A tradição das comunidades cristãs privilegiou três ações para expressar a mudança de direção e a convergência das forças que a Quaresma nos propõe: a esmola, a oração e o jejum. Mas, em relação a estas práticas de piedade, presentes em todas as religiões, Jesus pede atenção e autocrítica, pois nem mesmo elas estão livres da falsificação e do faz-de-conta. Por mais piedosos que pareçam, estes gestos podem ser motivados apenas pela busca de aprovação, de estima e de reconhecimento e, então, nos afastam da lógica de Deus, pois ele aprecia aqueles que o mundo não vê, aquilo que fica escondido.
Em relação à esmola, Jesus não a descarta, mas também não se entusiasma ingenuamente. De fato, ele interroga sobre a motivação e a disposição com as quais costumamos praticá-la. “Não mande tocar trombeta na frente. Que a sua mão esquerda não saiba o que a sua direita faz.” O sentido autêntico da esmola é a solidariedade e a partilha daquilo que temos com as pessoas mais necessitadas que nós. Mais que dar daquilo que sobra ou não nos faz falta, trata-se de partilhar aquilo que é fruto da terra e do trabalho da humanidade e, por isso, pertence a todos e não pode ser privatizado.
Para a maioria das religiões, a oração é uma expressão de fé e de comunhão com a divindade. Não faltam pregadores e movimentos que insistem na necessidade de rezar muito, de multiplicar terços, ladainhas, missas e promessas. Mas Jesus insiste mais na qualidade e na motivação que na quantidade da oração!  Para ele, a oração é abertura radical a Deus e à sua vontade; superação dos estreitos limites dos nossos gostos, preferências e necessidades; diálogo íntimo e amigo com Aquele que quer nosso bem e que não descansa enquanto todos os seus filhos e filhas não tenham vida em abundância.
Em relação ao jejum, hoje ele está na moda, e recebe o simpático nome de dieta... Em geral, quem a pratica está muito preocupado consigo mesmo – com a saúde ou com a aparência – e pouco interessado na compaixão e a partilha. No tempo de Jesus, muitas pessoas usavam o jejum, que era originalmente um sinal de arrependimento e de mudança, para impressionar os outros e aumentar a influência e o poder sobre eles. Como cristãos, precisamos resgatar hoje o sentido pedagógico do jejum: fazer experiência da própria vulnerabilidade e participar solidariamente das necessidades dos nossos irmãos e irmãs.
Na espiritualidade quaresmal, o jejum, a esmola e a oração estão a serviço do fortalecimento pessoal e comunitário para combater todas as formas de mal, da conversão ao tesouro inegociável do reino de Deus, da renovação da vida em todas as suas expressões. E isso se mostra cotidianamente na abertura humilde e reverente a Deus, na consciência da nossa interdependência em relação aos nossos irmãos e irmãs, na luta permanente para superar a indiferença frente às agressões que se voltam contra a vida. Ver, compadecer-se e cuidar são as ações que nos acompanharão na Quaresma desse ano (cf. Texto-base da CF, nº 25).
Deus Pai, fonte da Vida e princípio do bem viver, dai-nos um coração capaz de acolher e assumir a vida como dom e compromisso. Abri nossos olhos, para que vejam as necessidades dos nossos irmãos e irmãs, especialmente dos mais pobres e marginalizados. Ensinai-nos a viver a compaixão que se expressa no cuidado fraterno, próprio de quem reconhece no próximo o rosto do teu Filho. Inspirai-nos palavras e ações para sermos construtores de uma nova sociedade. E dai-nos a graça de vivermos em comunidades eclesiais missionárias, que se aproximam e cuidam daqueles que mais sofrem. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
Profecia de Joel 2,12-18 | Salmo Salmo 50 (51)
Segunda Carta de Paulo aos Coríntios 5,20-6,2 | Evangelho de São Mateus 6,1-6.16-18

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