terça-feira, 22 de abril de 2014

Vivências da Semana-Santa (1)

Domingo de Ramos: quem é este que está chegando?

Igreja da Vila do Morro (S. Sebastiao)
Partimos de Belo Horizonte sábado, 12 de abril, às 5:00 da manhã. Fizemos uma viagem tranquila e chegamos a Montes Claros pouco depois das 10:00. Fizemos uma breve visita ao Seminário Sagrada Família, que estava envolvido com a Feira Vocacional da Arquidiocese, e almoçamos com o coirmão Jorge Paulo e com os seminaristas. Logo partimos de novo: Oberdan e Milton para Januária, eu e Wanderson para São Francisco. Nestes lugares viviríamos nossa Semana Santa.
Wanderson e eu pousamos e passamos a manhã de domingo com nossos coirmãos da Paróquia São José, em São Francisco. No início da tarde, parti para meu destino: a Comunidade São Sebastião, na Vila do Morro, uma vila com aproximadamente 1.500 habitantes, situada a vinte e quatro quilomêtros de São Francisco. Aqui me esperavam Kazim e Lucienne, animadores da Comunidade, para discutir uma proposta de agenda para esta santa semana. Bastou uma hora para definir a agenda e me deixar uma certeza: a semana seria muito intensa. Em seguida, fui conhecer minha anfitriã, cuja fama de simplicidade e generosidadejá tinha chegado aos meus ouvidos: Dona Lia.
A agenda básica da smunitária todas as noites; visita a todos os doentes da vila; encontro com os estudantes de todos os turnos da escola; celebrações poenitenciais e confissões; encontro específicos com crianças, jovens e casais; participação na missa da unidade, em Januária; procissão do Encontro; Via-sacra com estações nas casas dos doentes; celebração da paixão, com via-sacra viva; vigília pascal; celebração da páscoa.
Logo em seguida, às 17:30, iniciamos a missa do domingo de Ramos. A celebração começou na igreja e, com os ramos abençoados nas mãos, o povo saiu igreja a fora e girou em torno do quarteirão, animada por cânticos e orações puxados pelo povo do local. O templo estava repleto de gente curiosa para conhecer o padre que chegava para passar toda a semana-santa na vila, fato inédito na história recente do povoado. Mas a curiosidade ficava claramente muito aquém da piedade.
Jesus entrou em Jerusalém acolhido entusiasticamente pelo povo simples da periferia e com desconfiança pelas autoridades da cidade. E foi acompanhado com crítica expectativa pelos discípulos. Não foi uma entrada que possa ser qualificada de triunfal. Como em Jerusalém há dois mil anos, na Vila do Morro, as vozes saudavam “Bendito aquele que vem em nome do Senhor!” E em ambos os lugares era grande a expectativa e o desejo de conhecer o estranho que estava chegando...
No meu caso, eu tinha certeza de que o desfecho da visita deveria ser diferente da visita de Jesus a Jerusalém. Em que pese minha conhecida lentidão no estabelecimento de contatos e vínculos e a proverbial reserva dos mineiros, pouco a pouco fomos dando-nos a conhecer, mais eu que eles. E fui sendo progressivamente surpreendido pela fé, pela simplicidade, pela humanidade e pela dedicação dessa gente à Igreja. E a semana foi sendo marcada diariamente por sinais pascais.

 Itacir Brassiani msf

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