sábado, 26 de abril de 2014

Vivências da Semana-Santa (5)

Via-Sacra: quantas são as estações?

Na Semana-Santa vivida na Vila do Morro aprendi uma prática que considero muito significativa: rezar e meditar a Via-Sacra de Jesus Cristo, na Sexta-feira Santa de manhã, nas casas de pessoas idosas e doentes. Estas, contatadas com antecedência, prepararam pequenos e simples “altares” diante de suas pobres casas, com “flores tristes e baldias, como a alegria que não tem onde encostar”.

Começamos bem cedo, às 7:30 da manhã, pois o sol prometia ser implacável. Começamos com um grupo de umas trinta pessoas, inclusives algumas bem idosas. Com o passar das horas e estações, alguns deixavam a caminhada e outros nela se incorporavam. Tudo organizado por eles mesmos. Eu só entrei, na última hora, como dirigente, pois “o padre sabe”...

Sou da geração que acredita firmemente que a via-sacra de Jesus se encarna e continua na sagrada via dos homens e mulheres de hoje. Mas percebi de forma mais viva e profunda que a santa via de Jesus tem tudo a ver com a via-crucis dos doentes e idosos. E isso tanto no que se refere ao “rosário” de dores que ferem a carne e a alma deles como em relação aos tantos cirineus e verônicas que os consolam solidariamente.

Mas a Comunidade, sintonizada com a caminhada da Igreja do Brasil, seguiram a Via-Sacra proposta pela Campanha da Fraternidade, fazendo desfilar diante destes rostos cansados e corações sofridos, a lembrança do sofrimento ainda maior das vítimas do tráfico de pessoas humanas. Diante dos nossos olhos e no pó no qual mergulhavam nossos pés se uniam o sofirmento de Jesus, dos doentes e das vítimas do tráfico de pessoas humanas.

Estavam previstas paradas em quinze casas, conforme o número das estações. Mas quantas são mesmo as estações e visitas da caminhada de Jesus ao calvário das dores humanas? Algumas pessoas idosas, mesmo sem terem sido contempladas na lista, arrumaram altares diante das suas casas? Como desconhecer o apelo surdo que eles gritavam e passar adiante como se nada fosse?

Concluíamos a parada e a meditação diante de cada casa com o pedido de bênção sobre os idosos e doentes que nelas habitam. Estendendo as mãos sobre eles, cantávamos “este doente será abençoado, pois o Senhor vai derramar o seu amor”. E de fato, em muitos casos, as lágrimas dos doentes sinalizavam materialmente o amor e a bênção que Deus ia derramando, atendendo o pedido do seu povo amado.

Esta caminhada de fé e solidariedade na sagrada via de Jesus durou mais de duas horas. O sol começava a queimar quando celebramos a ressurreição de Jesus em frente à casa de dona Ana, nome com tantas e belas ressonâncias bíblicas. Deus seja louvado por este povo valente e forte, sensível e humano, que vive sua fé de modo tão simples, expressivo e solidário!


Itacir Brassiani msf

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