sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Evangelho dominical

QUE FAMÍLIA?

Hoje é o dia da família cristã. Uma festa estabelecida recentemente para que os cristãos celebrem e aprofundem o que pode ser um projeto familiar entendido e vivido desde o espírito de Jesus.
Não basta defender de forma abstrata o valor da família. Tampouco é suficiente imaginar a vida familiar segundo o modelo da família de Nazaré, idealizada desde a nossa concepção da família tradicional. Seguir Jesus pode exigir por vezes questionar e transformar esquemas e costumes muito arraigados em nós.
A família não é para Jesus algo absoluto e intocável. Mais ainda. O decisivo não é a família de sangue, mas essa grande família que temos de ir construindo, os humanos, escutando o desejo do único Pai de todos. Inclusive os Seus pais terão que aprender, não sem problemas e conflitos.
Segundo o relato de Lucas, os pais de Jesus procuram-No afligidos, ao descobrir que os abandonou sem se preocupar com eles. Como pode atuar assim? A Sua mãe repreende-O quanto O encontra: «Filho, porque nos trataste assim? Olha que o Teu pai e eu Te procurávamos angustiados». Jesus surpreende-os com uma resposta inesperada: «Porque me procuráveis? Não sabeis que Eu devia estar na casa de Meu Pai?».
Os Seus pais «não o compreenderam». Só aprofundando as Suas palavras e o Seu comportamento para com a Sua família, descobrirão progressivamente que, para Jesus, o primeiro é a família humana: uma sociedade mais fraterna, justa e solidária, tal como a quer Deus.
Não podemos celebrar responsavelmente a festa de hoje sem escutar o desafio da nossa fé.
Como são as nossas famílias? Vivem comprometidas numa sociedade melhor e mais humana, ou encerradas exclusivamente nos seus próprios interesses? Educam para a solidariedade, a procura da paz, da sensibilidade para com os necessitados, a compaixão, ou ensinam a viver para o bem-estar insaciável, o máximo lucro e o esquecimento dos outros?
O que está sucedendo nos nossos lares? Cuida-se da fé, recorda-se Jesus Cristo, aprende-se a rezar, ou só se transmite indiferença, incredulidade e vazio de Deus? Educa-se para viver desde uma consciência moral responsável, sã, coerente com a fé cristã, ou favorece-se um estilo de vida superficial, sem metas nem ideais, sem critérios nem sentido último?
 José Antonio Pagola

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