quinta-feira, 8 de março de 2018

ANO B – QUARTO DOMINGO DA QUARESMA – 11.03.2018


O primeiro passo para pacificar as relações é Amar o mundo!
Não desperdicemos esta quarta e insuperável lição na escola da caminhada quaresmal. Começamos acompanhando Jesus no deserto e aprendendo a vencer as tentações. Subimos com ele no Tabor para aprender a lição da humildade e do serviço. Fomos com ele ao templo e pedimos que ele tire da nossa vida toda superficialidade, falsidade e autoritarismo. Neste quarto domingo da quaresma, peçamos que ele nos ensine a não lamentar débitos nem exigir créditos. “Vocês foram salvos pela graça”, insiste Paulo, e isso para que ninguém se orgulhe de nada. Deus é misericórdia, e nos ama sem medida.
Um juiz implacável, impassível, sem coração, sempre pronto a defender a lei e a pronunciar sentenças irreversíveis: essa é a imagem de Deus que muitos cristãos têm e pregam. Mas, no Evangelho deste domingo, Jesus diz claramente que Deus enviou seu Filho ao mundo para salvá-lo, para conduzi-lo à vida, e não para condená-lo. É a gratuidade do amor de Deus que nos salva. Precisamos experimentar e testemunhar o Evangelho do serviço no contexto da luta por um Estado que evite e combata a corrupção e que se coloque a serviço do bem comum, da dignidade das vítimas.
Como nos custa entender que Deus não se deixa guiar pela lógica do poder, da indiferença e da punição. É incrível a facilidade com que os homens (sim, no gênero masculino!) que dirigem nações e igrejas e se apresentam como procuradores da justiça e de Deus sentam na cadeira como juízes, cadeira que o próprio Jesus recusou. Com que frequência nos escondemos por trás de máscaras de benfeitores e imparciais, prontos a denunciar o cisco no olho dos outros sem darmo-nos conta do nosso próprio lixo... Definitivamente, não é esta a postura e o Evangelho de Jesus Cristo!
O rosto do Messias enviado por Deus e feito carne em Jesus de Nazaré é outro, sua prática é diferente e aponta outros caminhos. Ele recusa a cadeira de juiz e senta ao lado dos acusados, como advogado e defensor. Isso é evidente desde a estrebaria, onde os pastores desprezados foram os primeiros a visitá-lo, até a cruz, quando o próprio Jesus foi negociado por um condenado e compartilhou o calvário com outros dois. O Filho de Deus desceu todos os degraus e veio ao encontro do ser humano no nível mais baixo, no lugar de culpado e de devedor. E o fez de braços abertos, acolhendo e servindo a todos.
O que deve nos impressionar não é o fato de que Jesus tenha subido ao céu, mas que Deus tenha descido definitivamente à terra. E ele desceu tanto que, mais que assumir a frágil e contraditória condição humana, assumiu a carne das vítimas para declará-las justificadas. Em Jesus, Deus desceu tanto, que entrou solidariamente no inferno vivido pelos condenados a uma vida que tem mais parece um lento processo de morte. Desceu tanto que o levantaram numa cruz! É para esse homem, levantado na cruz dos malditos e entre dois condenados, que somos chamados a voltar nosso olhar.
Jesus diz que “Deus amou de tal forma o mundo que entregou seu Filho único...” Deus ama o mundo em sua globalidade, sem distinguir culpados ou inocentes, homens ou mulheres, devedores ou merecedores. Em Jesus Cristo, a glória de Deus se manifesta de forma clara e inequívoca, e essa glória não é outra coisa que o amor que se faz dom e acolhida sem nenhum tipo de condição ou exigência. Ele nos deu a vida “quando estávamos mortos por causa de nossas faltas”, sublinha Paulo. Em Jesus Cristo a libertação é radical, gratuita e incondicional, e é também geradora gratuidade.
Este rio de graça, este sol de justiça que nos vem de Deus em Jesus Cristo começa a agir desmascarando nossos pretensos merecimentos, avança revelando nossa verdade mais profunda e termina capacitando-nos a agir como homens e mulheres novos. “Fomos criados para as boas obras” diz São Paulo, e precisamos nos ocupar delas. Crer é aderir à proposta de Jesus. E aderir a Jesus Cristo significa crer na dignidade inerente a cada pessoa humana e nas suas possibilidades positivas, e esse é o caminho da vida. Não temos outro caminho que possa nos levar com segurança à vida e à liberdade. A consciência de que somos irmãos e irmãs perdoados nos fortalece na luta pela superação da violência.
Deus pai e mãe, lento para a cólera e rico em misericórdia: Como é imenso o amor com que amas a nós e ao mundo! Enviaste teu filho amado para que, sendo por ele servidos, aprendêssemos a servir com a mesma generosidade! Dá-nos um amor intenso, lúcido e forte, a fim de que sejamos capazes de dar continuidade a este dinamismo que salva e renova mundo, empenhando-nos na difícil e complexa tarefa de superar a violência. Não permitas que sentemos e choremos passivamente nossos desterros, e coloque-nos a caminho para reconstruirmos o mundo na força do teu amor. Amém! Assim seja!
Itacir Brassiani msf
(Segundo Livro das Crônicas 36,14-23 * Salmo 137 (136) * Carta aos Efésios 2,4-10 * Evangelho de São João 3,14-21)

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