sábado, 5 de maio de 2018

Seminário sobre a vida religiosa (4)


Passar de comunidades instituídas a comunidades instituintes
O professor Coutinho sublinhou que, como cristãos do século XXI, precisamos apropriarmo-nos de modo inteligente da Gaudium et Spes. Na perspectiva desse documento conciliar, mundo e Igreja são consubstanciais. Mas precisamos também interrogar-nos: O mundo entrou realmente em nossos institutos? Ou melhor: quais são os aspectos do mundo que nossos institutos assimilaram ou que assimilaram nossos institutos?
Efetivamente, o mundo moderno entrou nas nossas instituições. Basta dar uma breve olhada sobre nosso patrimônio e nossos equipamentos. A lógica implacável do capitalismo neoliberal lançou raízes no terreno dos nossos projetos, alimenta sonhos, provoca suspiros indiscretos, produz dividendos. E dores. Mas o mundo das feridas e dores das vítimas, depois de uma breve visita de apresentação, corre o risco de ser ignorado ou expulso pelas exigências da lógica institucional, da sobrevivência das nossas instituições, mesmo que seja no rodapé da história. As vítimas, os pobres e as periferias aparecem fugazmente nas assembleias e momentos de celebração, mas são praticamente invisíveis nos momentos e espaços onde se definem as estratégias a longo prazo. Ou não?
E há também alguns setores religiosos que, depois de uma breve paixão pelas alternativas de um mundo diferente, mostram-se impacientes e incomodados com a demora da sua chegada. Como se, diante da demora da passagem do ônibus que nos leva ao futuro sonhado, a saída fosse pegar ônibus de volta, e não avançar à pé, coletivamente. Precisamos, como sempre, recuperar a capacidade instituinte dos carismas, e, ao mesmo tempo, relativizar o carisma instituído. Em outras palavras, precisamos reencontrar a capacidade criativa e inovadora, e não as figuras históricas e transitórias que ele gerou, marcas de um tempo que não existe mais.
Itacir Brassiani msf

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