domingo, 10 de março de 2019

Fraternidade & Políticas Públicas


As Políticas Públicas existem para limitar o poder do capital
Políticas Públicas são ações e programas que Estado (municípios, estados e federação) desenvolve para garantir ao povo o acesso aos seus direitos constitucionais. São as iniciativas colocadas em movimento para enfrentar os problemas e necessidades da população, garantindo a segurança e a soberania mediante a garantia dos direitos civis e sociais, jamais limitando-os ou revogando-os.
Se entendemos as Políticas Públicas como a busca de soluções para os problemas que atingem uma determinada faixa da população, podemos agrupá-las em políticas públicas para a educação, políticas públicas para saúde, políticas públicas para a previdência social, políticas públicas para a segurança dos cidadãos, políticas públicas para a moradia, políticas públicas para o ambiente, os indígenas e os jovens; etc.
Os Bispos do Brasil sublinham que, sem democracia e participação dos cidadãos, as Políticas Públicas acabam refletindo mais as forças dos agentes do Mercado (setores financeiros e empresariais, organizações patronais), dos grupos políticos dominantes e da burocracia estatal do que os direitos e necessidades do povo. Infelizmente, no Brasil, as Políticas Públicas dependem mais da vontade dos administradores do que da Constituição e das urgências da população.
Nos últimos anos, as políticas sociais desenvolvidas em âmbito federal, estadual e municipal representam 25% do Produto Interno Bruto do Brasil. Desse montante, 29% foi aplicado em Previdência Social, 19% na Educação, 17% na previdência dos servidores públicos, 15% na Saúde, 7% em habitação e saneamento, e 5% em Assistência Social. Mas, sozinho, o pagamento dos juros e de parte da dívida pública consumiu mais de 40% do PIB!
Mas, olhando para a América Latina, “percebe-se nestes anos de ajuste do modelo neoliberal um importante descuido do gasto social, em particular nas áreas da educação, da saúde e da segurança social, na medida em que deu preferência para o pagamento da dívida externa ou a desvios dos escassos recursos públicos para interesses de uma minoria” (Texto-base da CF, nº 252). No Brasil, o novo governo federal está querendo limitar drasticamente as políticas sociais e ceder tudo o que for possível à voracidade do Mercado, ou seja, dos capitalistas.
É importante ressaltar que um dos objetivos das Políticas Públicas seria exatamente enfrentar e limitar os problemas gerados pela competição desigual ou pela voracidade predatória dos agentes econômicos, corrigindo e regulando o Mercado. O desenvolvimento não é por si mesmo democrático, e sempre privilegia os setores mais fortes ou astutos, e as políticas e programas sociais precisam combater as desigualdades e beneficiar os setores sociais mais fragilizados.
Neste sentido, as Políticas Públicas tem o papel de “desmercantilizar”, “desprivatizar” e “politizar” a ação do Estado. Como dizem os Bispos do Brasil, “cabe às Políticas Públicas o papel de reparação das iniquidades, com a oferta de bens e serviços públicos que rompam com a exclusividade do poder do dinheiro no atendimento das necessidades humanas” (Texto-base da CF, 60). Daí a importância do tema para que nosso país trate as pessoas como cidadãos e sujeitos de direitos, e não como problema ou despesas.
O profeta Isaías se formou e cresceu no ambiente do Templo de Jerusalém, mas soube tomar distância da sua ideologia religiosa e afirma que Jerusalém abandonou a Aliança, está repleta de criminosos e se comporta como prostituta (cf. Is 1,21-28), pois as autoridades não fazem justiça aos órfãos e não protegem as viúvas, ou seja: não implantam políticas públicas que favoreçam a população mais pobre. Por isso, o deus da Aliança pede satisfação àqueles que governam em seu nome e promete despertar justas e fiéis. “Sião será resgatada com o direito, e os repatriados com justiça” (Is 1,27). Este é o contexto e o texto que a Igreja do Brasil escolheu para guiar sua reflexão e ação durante a quaresma de 2019.
Itacir Brassiani msf

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