sexta-feira, 29 de março de 2019

O Evangelho dominical - 31.03.2019

COM OS BRAÇOSSEMPRE ABERTOS
Para não poucos, Deus é tudo menos alguém capaz de colocar alegria na sua vida. Pensar nele traz-lhes más recordações: desperta-lhes a ideia de um ser ameaçador e exigente, que torna a vida mais fastidiosa, incômoda e perigosa. Pouco a pouco prescindiram Dele. A fé foi reprimida no seu interior. Hoje não sabem se acreditam ou não acreditam. Ficaram sem caminhos para Deus. Alguns recordam ainda a parábola do filho pródigo, mas nunca a ouviram nos seus corações.
O verdadeiro protagonista desta parábola é o pai. Por duas vezes repete o mesmo grito de alegria: “Este meu filho estava morto e voltou à vida: estava perdido e nós o encontramos”. Este grito revela o que está no coração de seu pai. Esse pai não se importa com a sua honra, os seus interesses ou com o tratamento que os seus filhos lhe dão. Nunca usa uma linguagem moralista. Pensa apenas na vida do seu filho: que não seja destruído, que não fique morto, que não viva perdido sem conhecer a alegria da vida.
O relato descreve com todos os detalhes o encontro surpreendente do pai com o filho que abandonou o lar. Estando ainda longe, o pai viu-o chegar cheio de fome e humilhado, e comoveu-se até às entranhas. Esse olhar bom, cheio de bondade e compaixão é o que nos salva. Só Deus nos olha assim. Então começa a correr. Não é o filho que volta para casa. É o pai que sai a correr e procura o abraço com mais ardor que o próprio filhoAtirou-se ao pescoço e começou a beijá-lo”. Assim está sempre Deus. Correndo com os braços abertos para aqueles que voltam para Ele.
O filho começa a sua confissão: preparou longamente no seu interior. O pai interrompe-o para poupa-lo a mais humilhações. Não lhe impõe qualquer castigo, não lhe exige nenhum rito de expiação; não lhe impõe nenhuma condição para recebê-lo em casa. Só Deus acolhe e protege assim os pecadores. O pai só pensa na dignidade de seu filho. Tem  pressa. Manda trazer o melhor vestido, o anel do filho e as sandálias para entrar em casa. Assim, será recebido num banquete realizado em sua honra. O filho deve conhecer junto com o seu pai a vida digna e feliz que ele não pôde desfrutar longe dele.
Quem houve esta parábola do lado de fora não entenderá nada. Continuará a caminhar pela vida sem Deus. Quem a escuta no seu coração, talvez chore de alegria e gratidão. Sentirá pela primeira vez que o mistério final da vida é Alguém que nos acolhe e nos perdoa porque só quer a nossa alegria.

José Antônio Pagola

Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez

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