terça-feira, 29 de dezembro de 2020

ANO B | TEMPO DO NATAL | MARIA, MÃE DE DEUS (ANO NOVO) | 01.01.2021

A cultura do cuidado é uma via importante para construir a paz!

Na celebração cristã do Novo Ano se entrelaçam três questões: o começo de um novo ano civil; a maternidade de Maria; e a Jornada Mundial pela Paz. Hoje, Paulo nos recorda que Deus nos enviou seu Filho quando o tempo se cumpriu e chegou à maturidade. Nascendo de Maria, o Filho de Deus desceu e se igualou ao ser humano comum. Mas também nos resgatou do domínio escravizador das leis e instituições, e nos deu a adoção filial e a liberdade. Desde então, vivemos na liberdade dos filhos e filhas, e o Espírito derramado em nossos corações nos deu a possibilidade de clamar a Deus como os filhos se dirigem ao pai e à mãe.

Não somos mais escravos, mas filhos e herdeiros! Acolhido por nós e no meio de nós, Jesus de Nazaré pacifica o mundo estabelecendo relações novas, baseadas na justiça e na fraternidade. E ele cumpre a promessa de Deus e realiza a esperança da humanidade através dos homens e mulheres de boa vontade, dos/as líderes autênticos/as e das organizações que não se resignam à paz aparente, à paz baseada no equilíbrio de forças ou no terrorismo estatal. “Deus te abençoe e te guarde! Deus mostre seu rosto brilhante e tenha piedade de ti! Deus mostre seu rosto e te dê a paz!” Falando assim, seremos princípios e príncipes da Paz.

Hoje contemplamos a chegada dos pastores à gruta Belém. Eles encontram Jesus no seio de uma família pobre e migrante. Ficam vivamente impressionados com o que veem, e comparam com tudo aquilo que tinham ouvido da boca do mensageiro de Deus. E compreendem o mistério de um Deus a quem não apraz a força dos cavalos ou dos tanques, dos cortejos de acólitos, das doutrinas e dos códigos de direito. Deus se alegra com o despojamento solidário de quem se faz peregrino e próximo e dos deslocados e sem-lugar e, por isso, como os pastores, volta louvando e glorificando a Deus por tudo o que vê e ouve.

Jesus é nossa Paz! Perdoados e pacificados por ele, tornamo-nos agentes do perdão e operadores da paz. Na sua mensagem para o dia de hoje, o Papa Francisco observa com perspicácia que a crise sanitária da Covid-19 “se transformou num fenômeno plurissetorial e global, agravando fortemente outras crises inter-relacionadas como a climática, alimentar, econômica e migratória, e provocando grandes sofrimentos e incómodos”. Por isso, não adiante “esperar desesperadamente” uma vacina que resolva tudo.

Não podemos desconhecer que, diz ainda o Papa, “ao lado de numerosos testemunhos de caridade e solidariedade, infelizmente ganham novo impulso várias formas de nacionalismo, racismo, xenofobia e também guerras e conflitos que semeiam morte e destruição”. E isso se mostra inclusive na corrida pela posse prioritária das vacinas que começam a aparecer. O que vemos nos faz lembrar Santo Ambrósio, que afirmava que “a natureza concedeu todas as coisas aos homens para uso comum. Portanto, a natureza produziu um direito comum para todos, mas a ganância tornou-o um direito de poucos”.

Na referida mensagem o Papa Francisco enfatiza que, para que haja paz, precisamos aprender a “gramática do cuidado: a promoção da dignidade de toda a pessoa humana, a solidariedade com os pobres e indefesos, a solicitude pelo bem comum e a salvaguarda da criação”. Ele nos propõe estes princípios como uma espécie de bússola que pode suscitar e guiar os esforços coletivos da humanidade para dar um novo rumo à globalização: que não seja apenas um projeto econômico ou a globalização da indiferença e da exploração, mas a globalização da equidade e da solidariedade, condições para uma paz substancial e duradoura.

E conclui o Papa: “cultura do cuidado – enquanto compromisso comum, solidário e participativo para proteger e promover a dignidade e o bem de todos; enquanto disposição a interessar-se, a prestar atenção; disposição à compaixão, à reconciliação e à cura, ao respeito mútuo e ao acolhimento recíproco – se constitui numa via privilegiada para a construção da paz. Fazem falta percursos de paz que cicatrizem feridas, artesãos de paz prontos a gerar, com criatividade e ousadia, processos de cura e de um novo encontro”.

Deus querido, Pai e Mãe! Iniciando este ano que desejamos que seja Novo, te pedimos: faz que sejamos construtores de Paz. Ensina-nos a contemplar e compreender o anseio de Paz e de comunhão que pulsa no coração do mundo e move a imensa caravana de voluntários e operadores da saúde. Ajuda-nos a cultivar e consolidar uma cultura do cuidado e do encontro com os diferentes. Suscita em nós o canto que brota da nossa indestrutível dignidade de filhos e filhas, e dá-nos experimentar, como a Maria e aos pastores, a alegria de reconhecer tua grandeza na pequenez e na fragilidade humana. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf

Livro dos Números 6,22-27 | Salmo 66 (67) | Carta de Paulo aos Gálatas 4,4-7 | Evangelho  de São Lucas 2,16-21

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