quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

ANO B | TEMPO COMUM | TERCEIRO DOMINGO | 24.01.2021

Você acredita que um outro mundo seja possível e necessário?

Há 20 anos atrás, o Fórum Social Mundial emergia como um grito visceralmente evangélico: ‘Um outro mundo é possível’. E, desde então, o mundo não é mais o mesmo! As vozes e as mãos que anunciam e tecem alternativas se uniram, e o ‘mundo de Davos’, a contragosto, reconheceu que outras coisas estavam querendo nascer. Esta espécie de laboratório de alternativas é como um eco daquilo que aconteceu na Galileia, dois mil anos atrás. As palavras são outras, mas a perspectiva é a mesma: “O Reino de Deus está próximo! Convertam-se e acreditem nessa Boa Notícia!”

Esta é a primeira palavra que sai da boca de Jesus, o anúncio que resume sua pessoa e sua missão. Ao recorrer a estas palavras, Jesus está ciente da força que elas têm no imaginário do seu povo. Com o conceito “Reino de Deus”, os profetas anunciavam o início de um novo céu e uma nova terra, o começo de uma nova sociedade, na qual idosos e crianças, trabalhadores do campo e da cidade, teriam lugar e seriam tratados como gente (cf. Is 65,17-25; Zc 8,1-23).

O Reino de Deus era uma louca esperança que os profetas se encarregavam de manter viva. Nos tempos de êxito e de fracasso político-institucional de Israel essa esperança é sufocada pela ânsia de poder ou desmentida pela dura realidade. Mas sua semente é sempre cuidadosamente guardada e cultivada pelos pobres de Deus e seus aliados/as, pelas pessoas que esperam o ‘Dia do Senhor’. Na boca de Jesus, o Reino de Deus tem duas novidades: ele desloca o tempo do futuro para o presente; e todas as pessoas são protagonistas. Para Jesus, o tempo de espera terminou, o Reino está próximo e depende de nossa resposta.

Mesmo assegurando que o reino é de Deus, Jesus não atribui sua realização exclusivamente a Deus ou a si mesmo. Jesus tem um papel de proeminente, mas também associa a si outros homens e. O Reino é tanto mais de Deus quanto mais tiver como protagonistas homens e mulheres comuns, livres e libertadores/as, despojados/as e solidários/as. É na promoção e confirmação da dignidade dos outros que as pessoas se tornam livres e que Deus reina. É por isso que, depois de fazer ressoar seu anúncio e de pedir o engajamento dos seus ouvintes, Jesus chama os primeiros discípulos. Ele não é um sonhador utópico mas solitário!

O pré-requisito do chamado para se engajar na caravana do Reino de Deus é a conversão, a ruptura com a mentalidade segundo a qual o mundo não tem jeito, a sempre existirá, a fé não tem nada a ver com a política, e assim por diante. Para acreditar que um outro mundo é possível, é necessário mudar os esquemas mentais, converter-se. Acolher o Reino de Deus e entrar na sua lógica é uma decisão que exige que superemos a busca obsessiva da segurança. Por mais humilde e suspeito que fosse, o ofício de pescador oferecia uma certa segurança econômica, e os discípulos tiveram que começar rompendo com isso.

Jesus vê Simão, André, Tiago e João à beira do mar e os convida a caminhar com ele, a ser discípulos e aprendizes. Mas, para isso, eles precisam romper também com a segurança social representada pela família. Deixando o pai, eles rompem com um modelo de família centrado na figura masculina e se abrem a novas relações, menos piramidais e mais igualitárias. Rompendo com a ordem dominante, os discípulos entram na escola de Jesus e começam a assimilar um novo pensar e um novo agir.

Aceitar o convite e seguir Jesus é uma decisão tão inteligente quanto exigente. Inteligente, porque supõe discernimento sobre o caminho da realização pessoal e da libertação social. Exigente, porque implica em deixar o cômodo mundo privado e seus interesses estreitos e arriscar-se no tenso e disputado espaço público, tomando partido em favor das vítimas dos sistemas e, quando necessário, contra os poderosos e seus aliados. É isso que significa originalmente a surpreendente expressão “pescadores de homens”. Na linguagem profética, a pesca é o julgamento de Deus contra os poderosos! (cf. Jr 16,16-18; Ez 29,1-16; Am 4,1-3)

Deus pai e mãe, fonte e destino de todos os nossos sonhos! Ajuda-nos a perceber com alegria que tudo cambia, e que um outro mundo está nascendo nas mil ações dos discípulos e discípulas do teu Filho. Abre e cura nossos ouvidos, para que escutemos e acolhamos a Boa Notícia da proximidade do teu Reino. Envia sobre nós o teu Espírito, para que ele mude nossos rígidos e medrosos sistemas mentais e force a ruptura com as amarras que reciclam os poderes moribundos. E faz da tua Igreja uma comunidade de pescadores de gente, servidores do teu juízo crítico e libertador sobre os sistemas deste mundo. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani ms

Profecia de Jonas 3,1-5 | Salmo 24 (25) | Primeira Carta de Paulo aos Coríntios 7,29-31 |  Evangelho  de São  Marcos 1,14-20

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