Hoje recordamos o 5º ano do falecimento do nosso querido Pe. Hermeto Lunkes msf. À memória
agradecida em forma de prece, é importante agregar a recordação daquilo que ele
nos ensinou com a vida e com as palavras. Resgato aqui uma bela meditação que o
Hermeto nos legou, unindo a celebração do mês da Bíblia à memória do Pe.
Berthier e da fundação dos Missionários da Sagrada Família. O texto foi
publicado inicialmente em O Bertheriano, n° 103 (outubro de 2009), p. 19.
A Palavra de Deus é maior… do que a
Bíblia!
Vivemos
em setembro um mês especial para o encontro com a Palavra de Deus. À medida em
que nos pusermos em atitude de escuta deste Deus dialogante, percebemos que a Palavra de Deus é bem maior em mais
envolvente... que a Bíblia. E quem sabe experimentamos in persona o que o jovem Jeremias escutou na aurora da sua missão
profética: “Não tenha medo, porque estou com você!.. Veja, estou colocando
minhas palavras em sua boca!...” (Jr 1,4-9). Será que não foi também isso que o
Pe. Berthier experimentou quando, relendo, meditando, orando e contemplando o
texto de Mt 9,35-38, encontrou coragem e iniciou sua “obra missionária da
Sagrada Família”, construindo-a sobre o alicerce desta palavra de Jesus, o “Missionário
do Pai”?
A Palavra
deste Deus começa a parecer-nos bem maior... do que a Bíblia. Esta é apenas um sinal de Deus que
transcende todas as aparências. No entanto, esta Palavra se fez perceptível
pela sensibilidade dos critérios bíblicos. O prólogo de João revela, em sua
mística poética, que “a Deus ninguém jamais viu. O Filho unigênito, que está em
comunhão com o Pai, ele no-lo deu a conhecer” (Jo 1,18), pois, como o mesmo
evangelista afirma, “o Verbo se fez homem e habitou entre nós” (Jo 1,14).
Desta
Palavra relida como evento de convivência
dialógica do divino-humano de Deus com toda a criação emanam critérios de
releitura, meditação, oração e contemplação. Fazendo-se um de nós e habitando
entre nós, Jesus de Nazaré – o revelador da plenitude de Deus (cf. Jo 1,16) –
tornou-se o ponto culminante da Palavra
recriadora e re-significadora da vida em seu alcance mais amplo. A Bíblia é
sua referência escrita, pela qual a fé popular exprime a permanente novidade de
Deus. O nosso é um Deus que, inserido totalmente na humana história, nos
possibilita o diálogo consigo. Este diálogo se
dá primordialmente em Jesus de Nazaré, que, por isso, é identificado
como a Palavra de Deus que estava com Deus desde o princípio e com Ele presidiu
a criação do universo (cf. Jo 1,1-4).
A
existência humana é provocada a ser mais dialógica ad intra, ad extra e ad Deum. A Bíblia é uma espécie de manual escrito pelos que acolheram a Palavra,
fizeram a experiência de ser filhos e filhas de Deus, pois “nasceram de Deus”
(cf. Jo 1,12-13). A Bíblia nos permite
falar com Deus a respeito da vida, pois ela é uma espécie de livro da Vida:
livro que nos transmite palavras de Vida eterna, mas também livro que nos fala
da vida da nossa família religiosa, prolongando em nós a revelação através da
vida que Deus viveu na existência humana de Jesus. Jesus foi e continua sendo “o
Verbo de Deus”, revelando o rosto humano de Deus e o rosto divino do homem. E “o
Verbo se fez homem” com a missão de ser sempre Palavra mensageira e promotora de comunhão e aproximação de Deus,
quis “fazer-se próximo dos que estavam longe”. Com esta aproximação dialógica de Deus a nossa missão adquire fecundidade e
chão firme.
Acabamos
de celebrar (2008-2009) o centenário da páscoa do Pe. Berthier. O cristão,
religioso e missionário Pe. Berthier recorreu à sabedoria e ao dinamismo
bíblico para encontrar critérios fundantes para o nosso carisma e a nossa
espiritualidade. Para ele, os textos bíblicos eram como que fontes de água viva
(cf. Jo 4,10) alimentadoras do discipulado e da atividade missionária. O nosso
carisma brotou do Verbo de Deus e da Palavra que saiu consciente e, ao mesmo
tempo, espontânea do anúncio misericordioso e compassivo de Jesus, colhido por
Mateus e contemplado pelo Pe. Berthier: “Tenho compaixão deste povo porque...”
(Mt 9,35-38). Enquanto Jesus se punha a percorrer os caminhos das cidades e dos
povoados, o Pe. Berthier foi pensando os caminhos, povoados e aldeias que ele e
seus discípulos deveriam percorrer para se aproximarem daqueles que estavam
longe. Não bastasse esta motivação missionária, a mensagem de Nossa Senhora da
Salette aumentou sua urgência evangelizadora.
Creio não
estar errado se aponto para uma constante
busca das fontes bíblicas em vista da nossa aproximação daqueles que estão
longe, para a questão do quanto a
prioridade dos critérios da Palavra de Deus é fundamental para uma
revitalização das nossas opções missionárias. Mesmo frente a outros tantos
critérios, sem dúvida também de suma importância (critérios científicos,
sociológicos, psicológicos, técnicos e assim por diante), cabe-nos priorizar os
critérios bíblicos, visto que estão tão sintonizados com as razões do
Missionário do Pai, Jesus de Nazaré. Por aproximação, o Pe. Berthier os
considerou fundamentais para uma autêntica e sábia atividade evangelizadora,
também para o seu e o nosso tempo.
Pe. Hermeto Lunkes msf
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