quinta-feira, 16 de agosto de 2018

O Evangelho dominical (20º domingo do tempo comum)


ALIMENTAR-NOS DE JESUS

Segundo o relato de João, uma vez mais os judeus, incapazes de ir mais além do aspecto físico e material, interrompem Jesus, escandalizados pela linguagem agressiva que utiliza: «Como pode este dar-nos a comer a sua carne?». Jesus não retira a Sua afirmação, e ainda dá às Suas palavras um conteúdo mais profundo.
O núcleo da Sua exposição permite-nos entrar na experiência que viviam as primeiras comunidades cristãs ao celebrar a eucaristia. Segundo Jesus, os discípulos não só acreditarão Nele, como se alimentarão e irão nutrir a sua vida da Sua pessoa. A eucaristia é uma experiência central nos seguidores de Jesus.
As palavras que se seguem não fazem mais do que destacar o seu carácter fundamental e indispensável: «A Minha carne é verdadeira comida e o Meu sangue é verdadeira bebida». Se os discípulos não se alimentam Dele, poderão fazer e dizer muitas coisas, mas não deverão esquecer as Suas palavras: «Não tereis vida em vós».
Para ter vida dentro de nós precisamos alimentar-nos de Jesus, nutrir-nos do Seu alento vital, interiorizar as Suas atitudes e os Seus critérios de vida. Este é o segredo e a força da eucaristia. Só o conhecem aqueles que comungam com Ele e se alimentam da Sua paixão pelo Pai e do Seu amor aos Seus filhos.
A linguagem de Jesus é de grande força expressiva. A quem sabe alimentar-se Dele faz-lhe esta promessa: «Esse habita em mim e Eu nele». Quem se nutre da eucaristia experimenta que a sua relação com Jesus não é algo externo. Jesus não é modelo de vida que imitamos desde fora. Ele alimenta a nossa vida desde dentro.
Esta experiência de «habitar» em Jesus e deixar que Jesus «habite» em nós pode transformar a partir da raiz a nossa fé. Esse intercâmbio mútuo, esta comunhão estreita, difícil de expressar com palavras, constitui a verdadeira relação do discípulo com Jesus. Isto é segui-Lo sustentados pela Sua força vital.
A vida que Jesus transmite aos Seus discípulos na eucaristia é a que Ele mesmo recebe do Pai, que é Fonte inesgotável de vida plena. Uma vida que não se extingue com a nossa morte biológica. Por isso Jesus se atreve a fazer esta promessa aos Seus: «O que coma deste pão viverá para sempre».
Sem dúvida, o sinal mais grave da crise da fé cristã entre nós é o abandono tão generalizado da eucaristia dominical. Para quem ama Jesus é doloroso observar como a eucaristia vai perdendo o seu poder de atração. Mas é mais doloroso ainda ver que a partir da Igreja assistimos a este acontecimento sem nos atrevermos a reagir. Porquê?
José Antonio Pagola
Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

Nenhum comentário: