O dinamismo da missão brota do amor a Jesus Cristo.
Estimulados
por Pedro, outros seis discípulos, representantes de uma comunidade aberta aos pagãos,
estão em plena missão. Aparentemente fazem tudo do jeito certo, mas a
frustração enche o barco e faz pesar o coração. “Não pescaram nada naquela
noite...” Jesus lhes havia dito que era preciso realizar as obras de Deus enquanto
é dia, porque “vem a noite, quando ninguém poderá trabalhar” (Jo 9,4). Não
estaria faltando a eles um vínculo profundo com Jesus Cristo? Ou será que
faltava colocar em prática a lição do despojamento radical?... “Se o grão de
trigo que cai na terra não morre, fica só...” (Jo 12,24).
Os
discípulos não haviam percebido que Jesus continuava presente e próximo nos
altos e baixos da missão. “Já de manhã, Jesus estava na praia, mas os
discípulos não sabiam que era Jesus...” Cegos pela catarata do fracasso, não
conseguiam mais ver o essencial. Mas, mesmo que aqueles olhos cansados não
conseguissem ver, Jesus Cristo continuava sendo uma presença discreta e fecunda
nas idas e vindas dos discípulos. E continuava tratando-os com amizade e afeto:
“Filhinhos, tendes alguma coisa para comer?” Com esta pergunta, Jesus também os
leva a mergulhar na própria e dura realidade das carências.
Obedecendo
a Jesus, os discípulos recomeçam o trabalho e são surpreendidos pelos
resultados. Pegam ‘uma multidão’ de peixes. Será que não era exatamente ali, no
lado direito do barco, que estava a ‘multidão’ de doentes, cegos, coxos e
paralíticos que não conseguiam caminhar por si mesmos? Não seriam eles os
primeiros interlocutores e beneficiários da missão da comunidade cristã? O
segredo do êxito da missão da Igreja não estaria exatamente em voltar-se aos
oprimidos? De qualquer modo, os discípulos obedecem à Palavra de Jesus Cristo e
o trabalho dá frutos.
Na
obediência ao pedido de Jesus Cristo está embutida uma relativização dos
próprios conceitos e, frequentemente, uma desobediência às ordens vindas dos
sistemas de coerção. Perseguidos, presos e ameaçados pelas autoridades, os
apóstolos obedecem a Deus, deixam a prisão e, ao invés de fugir, vão à praça e
continuam intrepidamente a missão! E os frutos inesperados do trabalho abrem os
olhos deles para a presença de Jesus, embora só o discípulo amigo seja capaz de
reconhecê-lo e passar a notícia adiante. Então Pedro, fazendo as vezes de líder,
‘amarra a túnica na cintura’ e se lança, no mar, no serviço.
Em
seguida, todos são recebidos por Jesus com pão e peixe, e o alimento oferecido
por Jesus é completado pelo que eles produziram com o próprio trabalho. Ninguém
pergunta pela identidade de Jesus, pois, agora, isso estava claro para todos. Para
arrematar a ceia à beira da praia, Jesus se dirige a Pedro perguntando: “Simão,
filho de João, tu me amas mais que estes?” Ele interroga o líder do grupo e faz
questão de sublinhar sua origem e sua expectativa de um Messias poderoso e
bem-sucedido. No fundo, quer fazer Pedro revelar se sua liderança tem motivação
e horizonte evangélicos. Amar Jesus significa dedicar-se ao seu rebanho, e não
há missão e autoridade eclesial sem amor a Jesus.
Quem
pergunta é o Cordeiro imolado, o humilhado exaltado e confirmado por Deus. Só
ele é digno de receber honra, glória e poder para sempre. E Pedro responde
afirmando sua amizade por Jesus. Estaria ele lembrado das palavras ditas por
Jesus na última ceia: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por
seus amigos. Vós sois meus amigos se fizerdes o que eu vos mando” (Jo
15,13-14)? A cada resposta afirmativa de Pedro, Jesus acrescenta um mandato:
“Cuida dos meus cordeiros. Sê pastor das minhas ovelhas. Cuida das minhas
ovelhas.”
Trata-se
de providenciar segurança e alimento para os mais pequenos e humildes (cuidar
dos cordeiros); liderar conduzindo à liberdade (pastorear as ovelhas); guiar à
vida dando a própria vida (cuidar das ovelhas). São variações de uma mesma e
única missão. A missão confiada a Pedro e à comunidade está voltada para fora. As
ovelhas e os cordeiros pertencem a Jesus, e não de Pedro ou da Igreja... De
qualquer modo, sem amor pelo Cristo despojado e sem disposição de dar a vida
pelo próximo não há autoridade evangelicamente legítima, não há missão frutuosa.
Jesus de Nazaré, pão da vida,
pescador de outros mares, mestre na escola do bem viver: queremos ser teus
discípulos e aprender na tua escola. Estamos dispostos a estar contigo onde
quer que estejas, participando da tua missão. Queremos permanecer unidos a ti,
alimentando-nos à tua mesa, obedientes e livres, dispostos a testemunhar um
amor mais forte do que a morte. Queremos seguir teus passos, passos de um
humilhado no qual reside toda glória desejável e possível. Oxalá aprendamos a
te amar antes e mais que tudo e que todos, pois nos ensinas que não há
verdadeira autoridade sem amor a ti. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
(Atos dos Apóstolos 5,17-32.40-41 * Salmo 29 (30) *
Apocalipse 5,11-14 * Evangelho de João 21,1-19)
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