quarta-feira, 13 de abril de 2016

ANO C – QUARTO DOMINGO DA PASCOA – 17.04.2016

O testemunho de amor e serviço é despertador de vocações!

A fé em Deus se mostra mais pelas ações que pelos ritos, orações e palavras.  É isso que Jesus afirmara na discussão com as autoridades religiosas em plena festa da dedicação do Templo, em Jerusalém. Os chefes do Templo procuram-no para questiona-lo: “Até quando nos deixarás em suspenso? Se tu és o Messias, o Cristo, dize-nos abertamente!” E Jesus retruca: “Eu já vos disse, mas vós não acreditais. As obras que eu faço em nome do meu Pai dão testemunho de mim” (Jo 10, 24-25). Respostas descritivas, discursos e argumentos dizem sempre menos do que a eloquência das ações e relações...
Mas Jesus não deixa de apresentar suas credenciais de Messias, de missionário do Pai: as ações que realiza em favor da humanidade, especialmente em favor dos últimos da escala social. No debate com as autoridades do judaísmo, ele nega a legitimidade de uma fé que não tenha apoio nas ações. Para Jesus, quem é profundamente solidário e compassivo ao lado do ser humano também está com Deus. E quem está de alguma maneira contra o ser humano, mesmo que invoque o nome de Deus e participe de ritos religiosos, está, de fato, contra ele. Este é o critério que aufere a autenticidade à nossa fé!
Jesus diz que dá a vida eterna ao seu rebanho, que ninguém o toma da sua mão. Mas ser ovelha do rebanho de Jesus Cristo, implica em escutar sua Palavra, aderir a ela e seguir seus passos, exige assumir sua pró-existência como dinamismo fundamental da vida. Crer nas obras que defendem e resgatam a dignidade humana e multiplica-las é mais importante que crer na sua Palavra (cf. Jo 10,38). Crer em Jesus significa segui-lo, dar continuidade à sua obra. Entregar-se sem reservas à luta pelo bem da humanidade, especialmente das pessoas humilhadas. “Eu as conheço e elas me seguem...”
A autenticidade e a fecundidade da nossa fé em Jesus não está na multiplicação de atividades desconexas e sem alma. O denominador comum das múltiplas ações que expressam nossa fé é o amor, o dinamismo básico e permanente que nos move no reconhecimento do outro como outro, na defesa da sua dignidade inviolável e na priorização das suas necessidades humanas fundamentais, inclusive em detrimento das nossas. É o amor que faz da vida de Jesus e da nossa uma pró-existência, uma vida empenhada em favor dos outros, dos pobres e necessitados.  É o amor é que nos faz humanos, que nos dá à luz como pessoas.
O amor autenticamente humano e cristão também não reconhece nenhum tipo de fronteira: rompe com os muros levantados em nome da religião, da raça, da classe, do sangue, dos interesses individuais. Porque parte do outro, da exterioridade em relação a todos os sistemas e instituições, o amor é o único dinamismo capaz de globalizar verdadeiramente o mundo, sem excluir ninguém. É isso que testemunham Paulo e Barnabé: eles abrem as fronteiras rígidas do judaísmo aos povos não-judeus. E, experimentando esta acolhida e respeito, os cristãos de origem não-judaica vivem uma grande alegria. E nem a violenta perseguição movida por mentes medrosas e violentas os fazem voltar atrás.
Mas aqui precisamos lembrar de novo que o amor não se resume a um princípio formal ou um sentimento interior. Sem deixar de ser uma opção fundamental e um horizonte iluminador e crítico, o amor não existe fora das infinitas e pequenas ações que o encarnam na realidade. Poderíamos dizer que o amor não existe em si mesmo, que ele não é isso ou aquilo, mas ‘vai sendo’ na imensa constelação de ações que afirmam, confirmam e potencializam a vida e a dignidade das pessoas, começando pelas que nos são próximas e chegando àquelas que deslocamos para longe.
Neste dia mundial de oração pelas vocações, jornada que vem sendo realizada há mais de 50 anos, pedimos a Deus que as autoridades eclesiásticas tenham a coragem de abrir novos caminhos e possibilidades ministeriais. É um tremendo paradoxo enfatizar a necessidade da vida sacramental e, ao mesmo tempo, fazer os sacramentos dependerem unicamente de homens celibatários, dificultando assim o acesso do povo à graça sacramental. Faz sentido em pleno século XXI e diante de tanta necessidade excluir a metade feminina da humanidade do acesso ao ministério ordenado?
Jesus amado, Cordeiro de Deus e Bom Pastor! Através dos homens e mulheres que vivem a vocação como serviço e compaixão fazes teu amor libertador chegar a todas as gerações. Mediante estas pessoas, a maioria delas anônimas, enxugas as lágrimas do teu povo. Faz com que nossa palavra e nosso testemunho ajude a Boa Notícia do teu Reino a chegar a todos os rincões da terra. Tu nos fizeste, nos chamaste e somos teus. Possamos então realizar com desvelo e criatividade a missão que nos confiaste, membros diferentes de um único corpo no qual bate um único coração. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
(Atos dos Apóstolos 13,43-52 * Salmo 99 (100) * Apocalipse de S. Joao  7,14-17 * Evangelho de João 10,27-30)

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