O testemunho de amor e
serviço é despertador de vocações!
A fé em
Deus se mostra mais pelas ações que pelos ritos, orações e palavras. É isso que Jesus afirmara na discussão com as
autoridades religiosas em plena festa da dedicação do Templo, em Jerusalém. Os
chefes do Templo procuram-no para questiona-lo: “Até quando nos deixarás em
suspenso? Se tu és o Messias, o Cristo, dize-nos abertamente!” E Jesus retruca:
“Eu já vos disse, mas vós não acreditais. As
obras que eu faço em nome do meu Pai dão testemunho de mim” (Jo 10, 24-25).
Respostas descritivas, discursos e argumentos dizem sempre menos do que a
eloquência das ações e relações...
Mas Jesus
não deixa de apresentar suas credenciais de Messias, de missionário do Pai: as
ações que realiza em favor da humanidade, especialmente em favor dos últimos da escala social. No debate com
as autoridades do judaísmo, ele nega a legitimidade de uma fé que não tenha
apoio nas ações. Para Jesus, quem é profundamente solidário e compassivo ao
lado do ser humano também está com Deus. E quem está de alguma maneira contra o
ser humano, mesmo que invoque o nome de Deus e participe de ritos religiosos,
está, de fato, contra ele. Este é o critério que aufere a autenticidade à nossa
fé!
Jesus diz
que dá a vida eterna ao seu rebanho, que ninguém o toma da sua mão. Mas ser ovelha
do rebanho de Jesus Cristo, implica em escutar sua Palavra, aderir a ela e
seguir seus passos, exige assumir sua pró-existência
como dinamismo fundamental da vida. Crer nas obras que defendem e resgatam a
dignidade humana e multiplica-las é mais importante que crer na sua Palavra
(cf. Jo 10,38). Crer em Jesus significa segui-lo, dar continuidade à sua obra. Entregar-se
sem reservas à luta pelo bem da humanidade, especialmente das pessoas
humilhadas. “Eu as conheço e elas me
seguem...”
A
autenticidade e a fecundidade da nossa fé em Jesus não está na multiplicação de
atividades desconexas e sem alma. O denominador comum das múltiplas ações que
expressam nossa fé é o amor, o
dinamismo básico e permanente que nos move no reconhecimento do outro como
outro, na defesa da sua dignidade inviolável e na priorização das suas
necessidades humanas fundamentais, inclusive em detrimento das nossas. É o amor
que faz da vida de Jesus e da nossa uma pró-existência, uma vida empenhada em
favor dos outros, dos pobres e necessitados.
É o amor é que nos faz humanos, que nos dá à luz como pessoas.
O amor
autenticamente humano e cristão também não reconhece nenhum tipo de fronteira:
rompe com os muros levantados em nome da religião, da raça, da classe, do
sangue, dos interesses individuais. Porque parte do outro, da exterioridade em
relação a todos os sistemas e instituições, o amor é o único dinamismo capaz de
globalizar verdadeiramente o mundo, sem excluir ninguém. É isso que testemunham
Paulo e Barnabé: eles abrem as fronteiras rígidas do judaísmo aos povos
não-judeus. E, experimentando esta acolhida e respeito, os cristãos de origem
não-judaica vivem uma grande alegria. E nem a violenta perseguição movida por
mentes medrosas e violentas os fazem voltar atrás.
Mas aqui
precisamos lembrar de novo que o amor não se resume a um princípio formal ou um
sentimento interior. Sem deixar de ser uma opção fundamental e um horizonte
iluminador e crítico, o amor não existe fora das infinitas e pequenas ações que
o encarnam na realidade. Poderíamos dizer que o amor não existe em si mesmo, que
ele não é isso ou aquilo, mas ‘vai sendo’ na imensa constelação de ações que
afirmam, confirmam e potencializam a vida e a dignidade das pessoas, começando
pelas que nos são próximas e chegando àquelas que deslocamos para longe.
Neste dia
mundial de oração pelas vocações, jornada que vem sendo realizada há mais de 50
anos, pedimos a Deus que as autoridades eclesiásticas tenham a coragem de abrir
novos caminhos e possibilidades ministeriais. É um tremendo paradoxo enfatizar
a necessidade da vida sacramental e, ao mesmo tempo, fazer os sacramentos
dependerem unicamente de homens celibatários, dificultando assim o acesso do
povo à graça sacramental. Faz sentido em pleno século XXI e diante de tanta
necessidade excluir a metade feminina da humanidade do acesso ao ministério
ordenado?
Jesus
amado, Cordeiro de Deus e Bom Pastor! Através dos homens e mulheres que vivem a
vocação como serviço e compaixão fazes teu amor libertador chegar a todas as
gerações. Mediante estas pessoas, a maioria delas anônimas, enxugas as lágrimas
do teu povo. Faz com que nossa palavra e nosso testemunho ajude a Boa Notícia
do teu Reino a chegar a todos os rincões da terra. Tu nos fizeste, nos chamaste
e somos teus. Possamos então realizar com desvelo e criatividade a missão que
nos confiaste, membros diferentes de um único corpo no qual bate um único
coração. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
(Atos dos Apóstolos 13,43-52
* Salmo 99 (100) * Apocalipse de S. Joao 7,14-17 * Evangelho de João 10,27-30)
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