quarta-feira, 27 de novembro de 2019

ANO A | TEMPO DE ADVENTO | 1° DOMINGO – 01.12.2019


Despertemos, e deixemo-nos guiar pela Luz do Senhor!
Para os cristãos, o sentido do tempo que antecede o Natal é o que verbalizamos na oração da coleta da celebração de hoje: o ardente desejo de acolher o Reino de Deus, de congregarmo-nos à comunidade dos justos, de caminhar com nossas boas ações ao encontro do Ungido e Enviado de Deus. Nossa atenção não se dirige às luzes que piscam, às músicas harmoniosas, às despensas abarrotadas de comidas e bebidas, às viagens deslumbrantes ou aos presentes vistosos. Antes, acolhemos o convite: “Vamos subir ao monte do Senhor, para que ele nos mostre seus caminhos... Vinde, e deixemo-nos guiar pela luz do Senhor!”
Como a comunidade de Mateus, temos consciência da vulnerabilidade das nossas comunidades, das pressões internas e externas que elas sofrem, e das distrações que podem ameaçar a fidelidade dos discípulos e discípulas de Jesus. A intolerância e a apologia da violência como caminho para a segurança, a defesa da livre e irrestrita exploração econômica dos mais fortes sobre os mais fracos, a primazia dos direitos do Mercado e do Capital sobre os direitos dos humanos coloniza a mente e o coração de muitos cristãos. Anestesiados e idiotizados, aderem ao programa de um partido que escolheu como seu número o de um calibre de arma...
Àqueles que flertam com o poder sedutor das armas e da intolerância, da perseguição e do extermínio de quem pensa ou vive diferente e que, a partir dos próprios medos e ambições, definiram como inimigos, o profeta Isaías provoca: é preciso permitir que o Senhor – aquele que mostrou seu rosto e seu coração no homem que nasceu suspeito em Belém, viveu cercado de proscritos e morreu vítima da pena de morte – nos ensine e oriente. Quem assimila sua Palavra, transforma espadas em arados, e lanças em gadanhos. Quem o segue não pega em armas contra ninguém. Quem se reveste dele, não entra em combates estúpidos.
Mas fácil e atrativo nos parece também seguir as placas que nos levam aos templo do consumo, aos palácios da indiferença, às praças do faturamento e do acúmulo. À nossa embotada sensibilidade, tudo isso parece aprazível, luminoso e precioso. Parece-nos que nisso estão os fundamentos sólidos e imutáveis de uma vida feliz, da tão sonhada dignidade humana, da paz duradoura. E, então, uma simples diminuição do poder de consumo basta para que nos angustiemos e caiamos no medo. Mais do que nunca, precisamos viver e caminhar atentos, preparados, vigilantes. Já é mais que hora de despertar, adverte-nos Paulo.
Além disso, o que pode nos distrair são também algumas atividades normais e cotidianas, que sustentam a continuidade de um estilo de vida dado por certo e definitivo: comer e beber sem se importar com a partilha; casar e dar-se em casamento sem compromissos com quem não pertence ao núcleo familiar; trabalhar a terra e moer o trigo como se o meio ambiente não estivesse ameaçado; rezar e louvar a Deus sem considerar a caridade e sem esperar e preparar a vinda do reino de Deus. Jesus adverte: a meta e o sentido da vida e da história é a vinda do Filho do homem, e nada pode nos distrair da preparação desse evento.
Viver vigilantes e preparados, tanto no tempo do advento como nos outros momentos da vida, para não sermos surpreendidos pelo ladrão que poderá nos roubar aquilo que entesouramos de modo afoito e idiota: eis o apelo do evangelho de hoje. Esta vigilância não nos tira do mundo e das justas lutas que precisamos travar. Antes, é uma postura ativa e alerta que nos ajuda a continuar lucidamente nossas tarefas, construindo o Reino de Deus no mundo, tornando a Igreja visceralmente fraterna e evangélica, sempre e em tudo amando e servindo, caminhando entre as coisas que passam abraçando as que não passam.
Por isso, precisamos mergulhar no espírito do advento e aguçar a evangélica sensibilidade para identificar os pequenos sinais que teimam em aparecer no ventre de mulheres humilhadas, em estrebarias das periferias mais hediondas, nem mãos abertas e desarmadas de gente que confia na fraqueza, em corações generosos que compartilham sonhos e caminhos, nem movimentos que se erguem como o indefeso Davi diante do Mercado gigante e idólatra. Precisamos levantar a cabeça diante dos que venceram pela mentira e pretendem governar pela intimidação, pois diverso é o Filho do Homem, o Humano.
Deus pai e mãe, amor eternamente jovem e criativo que está sempre vindo ao nosso encontro: dissipa o medo e cura as feridas que a prepotência dos violentos deixa em nossos corpos. Conduz aqueles que ainda acreditam em ti ao templo silencioso e misterioso da carpintaria de Nazaré, e ajuda-nos a perceber que ali moram a resistência mais corajosa e a ousadia mais libertadora. Desperta-nos do sono da ignorância, livra-nos da noite do cinismo e mostra-nos o caminho da justiça, da reconciliação e da paz. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
Profecia de Isaías 2,1-5 | Salmo 121 (122)
Carta de Paulo aos Romanos 13,11-14 | Evangelho de São Mateus 24,37-44

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