Despertemos, e
deixemo-nos guiar pela Luz do Senhor!
Para os cristãos, o sentido do tempo que
antecede o Natal é o que verbalizamos na oração da coleta da celebração de
hoje: o ardente desejo de acolher o Reino de Deus, de congregarmo-nos à comunidade
dos justos, de caminhar com nossas boas ações ao encontro do Ungido e Enviado de
Deus. Nossa atenção não se dirige às luzes que piscam, às músicas harmoniosas,
às despensas abarrotadas de comidas e bebidas, às viagens deslumbrantes ou aos
presentes vistosos. Antes, acolhemos o convite: “Vamos subir ao monte do
Senhor, para que ele nos mostre seus caminhos... Vinde, e deixemo-nos guiar
pela luz do Senhor!”
Como a comunidade de Mateus, temos
consciência da vulnerabilidade das nossas comunidades, das pressões internas e
externas que elas sofrem, e das distrações que podem ameaçar a fidelidade dos
discípulos e discípulas de Jesus. A intolerância e a apologia da violência como
caminho para a segurança, a defesa da livre e irrestrita exploração econômica
dos mais fortes sobre os mais fracos, a primazia dos direitos do Mercado e do Capital
sobre os direitos dos humanos coloniza a mente e o coração de muitos cristãos.
Anestesiados e idiotizados, aderem ao programa de um partido que escolheu como seu
número o de um calibre de arma...
Àqueles que flertam com o poder sedutor
das armas e da intolerância, da perseguição e do extermínio de quem pensa ou
vive diferente e que, a partir dos próprios medos e ambições, definiram como
inimigos, o profeta Isaías provoca: é preciso permitir que o Senhor – aquele
que mostrou seu rosto e seu coração no homem que nasceu suspeito em Belém,
viveu cercado de proscritos e morreu vítima da pena de morte – nos ensine e
oriente. Quem assimila sua Palavra, transforma espadas em arados, e lanças em
gadanhos. Quem o segue não pega em armas contra ninguém. Quem se reveste dele,
não entra em combates estúpidos.
Mas fácil e atrativo nos parece também seguir
as placas que nos levam aos templo do consumo, aos palácios da indiferença, às
praças do faturamento e do acúmulo. À nossa embotada sensibilidade, tudo isso
parece aprazível, luminoso e precioso. Parece-nos que nisso estão os
fundamentos sólidos e imutáveis de uma vida feliz, da tão sonhada dignidade
humana, da paz duradoura. E, então, uma simples diminuição do poder de consumo
basta para que nos angustiemos e caiamos no medo. Mais do que nunca, precisamos
viver e caminhar atentos, preparados, vigilantes. Já é mais que hora de
despertar, adverte-nos Paulo.
Além disso, o que pode nos distrair são
também algumas atividades normais e cotidianas, que sustentam a continuidade de
um estilo de vida dado por certo e definitivo: comer e beber sem se importar
com a partilha; casar e dar-se em casamento sem compromissos com quem não
pertence ao núcleo familiar; trabalhar a terra e moer o trigo como se o meio
ambiente não estivesse ameaçado; rezar e louvar a Deus sem considerar a
caridade e sem esperar e preparar a vinda do reino de Deus. Jesus adverte: a
meta e o sentido da vida e da história é a vinda do Filho do homem, e nada pode
nos distrair da preparação desse evento.
Viver vigilantes e preparados, tanto no
tempo do advento como nos outros momentos da vida, para não sermos
surpreendidos pelo ladrão que poderá nos roubar aquilo que entesouramos de modo
afoito e idiota: eis o apelo do evangelho de hoje. Esta vigilância não nos tira
do mundo e das justas lutas que precisamos travar. Antes, é uma postura ativa e
alerta que nos ajuda a continuar lucidamente nossas tarefas, construindo o
Reino de Deus no mundo, tornando a Igreja visceralmente fraterna e evangélica,
sempre e em tudo amando e servindo, caminhando entre as coisas que passam
abraçando as que não passam.
Por isso, precisamos mergulhar no espírito
do advento e aguçar a evangélica sensibilidade para identificar os pequenos sinais
que teimam em aparecer no ventre de mulheres humilhadas, em estrebarias das
periferias mais hediondas, nem mãos abertas e desarmadas de gente que confia na
fraqueza, em corações generosos que compartilham sonhos e caminhos, nem
movimentos que se erguem como o indefeso Davi diante do Mercado gigante e idólatra.
Precisamos levantar a cabeça diante dos que venceram pela mentira e pretendem
governar pela intimidação, pois diverso é o Filho do Homem, o Humano.
Deus pai e mãe, amor eternamente jovem e criativo que está sempre vindo
ao nosso encontro: dissipa o medo e cura as feridas que a prepotência dos
violentos deixa em nossos corpos. Conduz aqueles que ainda acreditam em ti ao templo
silencioso e misterioso da carpintaria de Nazaré, e ajuda-nos a perceber que
ali moram a resistência mais corajosa e a ousadia mais libertadora.
Desperta-nos do sono da ignorância, livra-nos da noite do cinismo e mostra-nos
o caminho da justiça, da reconciliação e da paz. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
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