“A esperança
dos pobres jamais será frustrada!”
E nós com isso?
Quantas vezes vemos os pobres nas lixeiras a catar o
descarte e o supérfluo, a fim de encontrar algo para se alimentar ou vestir! Tendo-se tornado, eles próprios, parte duma
lixeira humana, são tratados como lixo, sem que isto provoque qualquer sentido
de culpa em quantos são cúmplices deste escândalo. Aos pobres,
frequentemente considerados parasitas da sociedade, não se lhes perdoa sequer a
sua pobreza. A condenação está sempre pronta. Não se podem permitir sequer o
medo ou o desânimo: simplesmente porque são pobres, serão tidos por ameaçadores
ou incapazes.
Drama dentro do drama, não lhes é
consentido ver o fim do túnel da miséria. Chegou-se ao ponto de teorizar e
realizar uma arquitetura hostil para
desembaraçar-se da sua presença mesmo nas estradas, os últimos espaços de
acolhimento. Vagueiam duma parte para
outra da cidade, esperando obter um emprego, uma casa, um afeto.
Qualquer possibilidade que eventualmente
lhes seja oferecida, torna-se um vislumbre de luz; e mesmo nos lugares onde
deveria haver pelo menos justiça, até lá muitas vezes se abate sobre eles
violentamente a prepotência. Constrangidos durante horas infinitas sob um sol
abrasador para recolher a fruta da época, são
recompensados com um ordenado irrisório; não têm segurança no trabalho, nem
condições humanas que lhes permitam sentir-se iguais aos outros. Para eles,
não existe fundo de desemprego, liquidação nem sequer a possibilidade de
adoecer.
Com vivo realismo, o salmista descreve o
comportamento dos ricos que roubam os pobres: “Arma ciladas para assaltar o
pobre e arrasta-o na sua rede” (cf. Sal 10,
9). Para eles, é como se se tratasse duma caçada, na qual os pobres são
perseguidos, presos e feitos escravos. Numa condição assim, fecha-se o coração
de muitos, e leva a melhor o desejo de desaparecer. Em suma, reconhecemos uma multidão de pobres, muitas
vezes tratados com retórica e suportados com desprezo. Se tornam como que invisíveis, e a sua voz já não tem força nem
consistência na sociedade. Homens e mulheres cada vez mais estranhos entre
as nossas casas e marginalizados entre os nossos bairros.
A eles só resta esperar em Deus
O contexto descrito pelo salmo tinge-se
de tristeza, devido à injustiça, ao sofrimento e à amargura que fere os pobres.
Apesar disso, dá uma bela definição do pobre: é aquele que confia no Senhor
(cf. 9, 11), pois tem a certeza de que nunca será abandonado. Na Escritura, o pobre é o homem da
confiança! E o autor sagrado indica também o motivo desta confiança: ele
conhece o seu Senhor (cf. 9, 11) e, na linguagem bíblica, este conhecer indica
uma relação pessoal de afeto e de amor.
Encontramo-nos perante uma descrição
impressionante, que nunca esperaríamos. Assim, quando Se encontra diante dum
pobre podemos estar diante da grandeza de Deus. A sua força criadora supera
toda a expetativa humana e concretiza-se na recordação que Ele tem daquela
pessoa concreta (cf. 9, 13). É
precisamente esta confiança no Senhor, esta certeza de não ser abandonado, que
convida o pobre à esperança. Sabe que Deus não o pode abandonar; por isso,
vive sempre na presença daquele Deus que Se recorda dele. A sua ajuda
estende-se para além da condição atual de sofrimento, a fim de delinear um
caminho de libertação que transforma o coração, porque o sustenta no mais
profundo do seu ser.
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