“A esperança dos pobres jamais será frustrada!”
Quando os pobres serão felizes?
Como não assinalar que as
Bem-aventuranças, com que Jesus inaugurou a pregação do Reino de Deus, começam
por esta expressão: “Felizes vós, os pobres” (Lc 6, 20)? O sentido deste anúncio paradoxal é precisamente
que o Reino de Deus pertence aos pobres,
porque eles estão na condição de o receber.
Encontramos tantos pobres cada dia! Às
vezes parece que o transcorrer do tempo e as conquistas da civilização, em vez
de diminuir o seu número, aumentam-no. Passam
os séculos, e aquela Bem-aventurança evangélica apresenta-se cada vez mais
paradoxal: os pobres são sempre mais pobres, e hoje são-no ainda mais.
Mas, colocando
no centro os pobres ao inaugurar o seu Reino, Jesus quer-nos dizer precisamente
isto: Ele inaugurou, mas
confiou-nos, a nós seus discípulos, a tarefa de lhe dar seguimento, com a
responsabilidade de dar esperança aos pobres. Sobretudo num período como o
nosso, é preciso reanimar a esperança e restabelecer a confiança. É um programa
que a comunidade cristã não pode subestimar. Disso depende a credibilidade do
nosso anúncio e do testemunho dos cristãos.
A Igreja e os pobres
Ao aproximar-se dos pobres, a Igreja descobre que é um povo, espalhado
entre muitas nações, que tem a vocação de fazer com que ninguém se sinta
estrangeiro nem excluído, porque a todos envolve num caminho comum de salvação.
A
condição dos pobres obriga a não se afastar do Corpo do Senhor que sofre neles.
Antes, pelo contrário, somos chamados a tocar a sua carne para nos
comprometermos em primeira pessoa num serviço que é autêntica evangelização. A promoção social dos pobres não é um
compromisso extrínseco ao anúncio do Evangelho; pelo contrário, manifesta o
realismo da fé cristã e a sua validade histórica. O amor que dá vida à fé em Jesus não permite que os seus discípulos se
fechem num individualismo asfixiador, oculto nas pregas duma intimidade espiritual,
sem qualquer influência na vida social.
Recentemente, choramos a perda dum grande
apóstolo dos pobres, Jean Vanier, o qual, com a sua dedicação, abriu novos
caminhos à partilha promotora das pessoas marginalizadas. Jean Vanier recebeu
de Deus o dom de dedicar toda a sua vida aos irmãos com deficiências profundas,
que muitas vezes a sociedade tende a excluir. Foi um “santo da porta ao lado”
da nossa; com o seu entusiasmo, soube reunir à sua volta muitos jovens, homens
e mulheres, que, com o seu empenho diário, deram amor e devolveram o sorriso a
tantas pessoas vulneráveis e frágeis, oferecendo-lhes uma verdadeira arca de
salvação contra a marginalização e a solidão. Este seu testemunho mudou a vida
de muitas pessoas e ajudou o mundo a olhar com olhos diferentes para as pessoas
mais frágeis e vulneráveis. O clamor dos
pobres foi ouvido e gerou uma esperança inabalável, criando sinais visíveis e
palpáveis dum amor concreto, que podemos constatar até ao dia de hoje.
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