quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Aniversario de fundação dos Missionários da Sagrada Família

Como em Nazaré da Galiléia

A primavera se despedia e o outono apenas se mostrava com seu caráter melancólico e seu convite a aprofundar as raízes e encontrar forças para enfrentar as agruras do inverno dos países nórdicos. Com uma pequena mala na qual trazia todos os seus pertences, um grande sonho na mente e um coração repleto de confiança o Pe. Berthier chegava a Grave no dia 27 de setembro de 1895. No dia seguinte, no berço do anonimato e da pobreza, da fé e da ousadia, começava nossa história de Missionários da Sagrada Família.
Voltemos a Grave para reaprender as lições da nossa origem. E a primeira lição é a radical confiança em Deus. Berthier começou sozinho, com 55 anos de idade e uma saúde historicamente frágil, sem recursos econômicos e sem um apoio claro por parte das autoridades eclesiais. Como a maioria dos fundadores, ele acolheu a inspiração divina e confiou na sua Providência. Confiou como se tudo dependesse de Deus e trabalhou como se tudo dependesse de si mesmo. A confiança na bondade e na graça providencial de Deus é o chão fecundo no qual crescem e frutificam as iniciativas duradouras.
A segunda lição é a pobreza e o trabalho. Em Grave encontramos simplicidade, despojamento e trabalho duro e dedicado, como em Nazaré. Deixemos que o próprio Berthier nos fale: “Aqui em Grave tudo está longe de um bom estado, mas nós colocamos a obra sob a proteção da Sagrada Família, e ela jamais habitou em palácios em Belém, no Egito ou em Nazaré... Nossa casa é pobre... Nossa capela e nossa sacristia são pobres. As mesas de estudo e do refeitório são de madeira, feitas pelos próprios seminaristas.”
Uma terceira lição que aprendemos em Grave é a bondade. O trabalho era muito duro e as condições precárias da casa assustavam, mas Grave tinha um coração. A bondade paterna e a proximidade amiga do Pe. Berthier faziam esquecer ou superar todas as dificuldades e manter o sonho missionário. Berthier era ao mesmo tempo pai, irmão, amigo, guia e pastor, mas seu coração de pai iluminava tudo o mais.
Uma outra importante lição que aprendemos em Grave é a fraternidade. Desde o início as portas abertas daquele velho quartel transformado em centro de formação missionária acolheu jovens alemães, franceses, holandeses, poloneses, suiços e até norte-americanos. As diferenças de cultura e de idioma não impediam a concórdia e o entendimento. O próprio Fundador testemunha: “Cada um que chega recebe o abraço fraterno de todos. Alguns são designados para lhes informar sobre os costumes da casa e o fazem de bom coração, de modo que o novo membro logo se sente integrado na família. Todos vivem como irmãos.”
Uma última lição que Grave nos ensina é a formação do espírito missionário. Aqueles primeiros jovens que acolheram o convite do Pe. Berthier desejavam colaborar com a tarefa missionária da Igreja. Enfrentaram os estudos e trabalhos em vista de se tornarem missionários santos e capazes, humildes e despojados, inspirados na Sagrada Família de Nazaré. Demos novamente a Palavra ao Fundador: “Esses jovens são acolhidos desde que sejam inteligentes e piedosos e queiram se dedicar definitivamente à obra e se empenhar no seu desenvolvimento, formando aqueles que virão depois deles e, quando chegar o momento, dedicando-se às missões. Nosso primeiro objetivo é formar missionários.”
Na passagem do aniversário do nosso nascimento como Congregação façamos uma viagem espiritual a Grave e, por um instante, coloquemo-nos como alunos sedentos dessas lições que valem uma vida. Sentemos ao lado do Pe. Berthier e seus discípulos. Provemos do seu coração de pai e de amigo daqueles jovens sonhadores. Participemos dos trabalhos para melhorar a casa e preparar as refeições. Enriqueçamo-nos com sua simplicidade e pobreza. Cresçamos no ardor missionário. E não esqueçamos as palavras do Fundador: “Na Sagrada Família reinam a piedade, o trabalho, o amor mútuo, e é nessas virtudes que nós procuramos exercitar nossos jovens.”

Pe. Itacir Brassiani msf

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