Como em Nazaré da
Galiléia
A primavera se despedia e o outono apenas se mostrava com seu caráter
melancólico e seu convite a aprofundar as raízes e encontrar forças para
enfrentar as agruras do inverno dos países nórdicos. Com uma pequena mala na
qual trazia todos os seus pertences, um grande sonho na mente e um coração
repleto de confiança o Pe. Berthier chegava a Grave no dia 27 de setembro de
1895. No dia seguinte, no berço do anonimato e da pobreza, da fé e da ousadia,
começava nossa história de Missionários da Sagrada Família.
Voltemos a Grave para reaprender as lições da nossa origem. E a primeira
lição é a radical confiança em Deus.
Berthier começou
sozinho, com 55 anos de idade e uma saúde historicamente frágil, sem recursos
econômicos e sem um apoio claro por parte das autoridades eclesiais. Como a maioria
dos fundadores, ele acolheu a inspiração divina e confiou na sua Providência.
Confiou como se tudo dependesse de Deus e trabalhou como se tudo dependesse de
si mesmo. A confiança na bondade e na graça providencial de Deus é o chão
fecundo no qual crescem e frutificam as iniciativas duradouras.
A segunda lição é a pobreza e o
trabalho. Em Grave encontramos simplicidade, despojamento e trabalho duro e
dedicado, como em
Nazaré. Deixemos que o próprio Berthier nos fale: “Aqui em
Grave tudo está longe de um bom estado, mas nós colocamos a obra sob a proteção
da Sagrada Família, e ela jamais habitou em palácios em Belém, no Egito ou em
Nazaré... Nossa casa é pobre... Nossa capela e nossa sacristia são pobres. As mesas
de estudo e do refeitório são de madeira, feitas pelos próprios seminaristas.”
Uma terceira lição que aprendemos em Grave é a bondade. O trabalho era muito duro e as condições precárias da
casa assustavam, mas Grave tinha um coração. A bondade paterna e a proximidade
amiga do Pe. Berthier faziam esquecer ou superar todas as dificuldades e manter
o sonho missionário. Berthier era ao mesmo tempo pai, irmão, amigo, guia e
pastor, mas seu coração de pai iluminava tudo o mais.
Uma outra importante lição que aprendemos em Grave é a fraternidade. Desde o início as portas
abertas daquele velho quartel transformado em centro de formação missionária
acolheu jovens alemães, franceses, holandeses, poloneses, suiços e até
norte-americanos. As diferenças de cultura e de idioma não impediam a concórdia
e o entendimento. O próprio Fundador testemunha: “Cada um que chega recebe o
abraço fraterno de todos. Alguns são designados para lhes informar sobre os
costumes da casa e o fazem de bom coração, de modo que o novo membro logo se
sente integrado na família. Todos vivem como irmãos.”
Uma última lição que Grave nos ensina é a formação do espírito missionário. Aqueles primeiros jovens que
acolheram o convite do Pe. Berthier desejavam colaborar com a tarefa missionária
da Igreja. Enfrentaram os estudos e trabalhos em vista de se tornarem
missionários santos e capazes, humildes e despojados, inspirados na Sagrada
Família de Nazaré. Demos novamente a Palavra ao Fundador: “Esses jovens são
acolhidos desde que sejam inteligentes e piedosos e queiram se dedicar definitivamente
à obra e se empenhar no seu desenvolvimento, formando aqueles que virão depois
deles e, quando chegar o momento, dedicando-se às missões. Nosso primeiro
objetivo é formar missionários.”
Na passagem do aniversário do nosso nascimento como Congregação façamos
uma viagem espiritual a Grave e, por um instante, coloquemo-nos como alunos sedentos
dessas lições que valem uma vida. Sentemos ao lado do Pe. Berthier e seus
discípulos. Provemos do seu coração de pai e de amigo daqueles jovens
sonhadores. Participemos dos trabalhos para melhorar a casa e preparar as
refeições. Enriqueçamo-nos com sua simplicidade e pobreza. Cresçamos no ardor
missionário. E não esqueçamos as palavras do Fundador: “Na Sagrada Família reinam
a piedade, o trabalho, o amor mútuo, e é nessas virtudes que nós procuramos
exercitar nossos jovens.”
Pe. Itacir Brassiani msf
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