A Palavra de Deus
orienta, desinstala e converte!
Estamos em
plena ‘semana da pátria’, e ela que sempre traz consigo o risco de exaltação de
um patriotismo vazio, ultrapassado e até cínico. Com o Grito dos Excluídos, as Igrejas pretendem evitar essa tentação.
Ademais, o abominável e criminoso processo de cassação da Presidenta e de expropriação
dos direitos sociais garantidos pela Constituição de 1988 nos deixa perplexos. E Jesus Cristo, Palavra viva de Deus, irrompe chamando nossa atenção para as
consequências da palavra dada e para os custos da realização das nossas
decisões. Temos mesmo disposição de ir a fundo no seguimento de Jesus Cristo?
É verdade
que a cultura que caracteriza nossa sociedade de consumo não costuma chamar a
atenção para a prudência e para o planejamento. A caderneta de poupança, com
seu apelo a economizar e planejar, é coisa do passado. Hoje, reina absoluto o
cartão de crédito, com seu permanente e sedutor convite a gastar sem
planejamento, a seguir apenas os insaciáveis desejos de consumo. O que
predomina e se impõe como regra é curtir e saborear a fundo o momento presente,
sem preocupação com princípios e hábitos formulados por outros no passado, nem
com aquilo que acontecerá no futuro.
Nesse
ambiente, o seguimento responsável e maduro de Jesus Cristo corre riscos.
Precisamos nos perguntar se é consciente e consequente nossa decisão de seguir
Jesus Cristo. É claro que, para a maioria dos fiéis, o início da caminhada na
fé cristã não está ligada a uma decisão pessoal, consciente e madura. Recebemos
a fé cristã e católica misturada ao leite da mãe, ligada aos hábitos da nossa
vizinhança, conjugada com a cultura transmitida pela escola. Seguimos esta
estrada porque nos parecia a única, e o fizemos como ovelhas indiferenciadas de
um rebanho. Era difícil e custoso trilhar outras sendas.
Mas nós
crescemos, e os tempos mudaram. O pluralismo das opções que batem à nossa porta
ou se oferecem aos nossos olhos todos os dias nos interpelam à aventura noutras
estradas ou a dar razões para permanecer naquela que sempre trilhamos. E hoje
sabemos que o Evangelho nos pede prudência e avaliação crítica diante de
atitudes e projetos que se travestem de sabedoria e se apresentam falsamente como
evangélicos e fautores de libertação. Jesus Cristo, com seu projeto de vida
para todos, pede uma ruptura radical com a busca de vantagens individuais ou
restritas a pequenos grupos.
Estar com
Jesus e seguir seus passos supõe a decisão por uma específica escala de
valores: a honra pessoal, a aceitação pública, a segurança dos bens e os próprios
vínculos familiares são secundários em relação à prioridade absoluta de acolher
e praticar os valores do Reino de Deus. A Palavra viva de Deus, feita carne em
Jesus, nos mostra por onde andar. Tomar a cruz e caminhar com ele significa
estar disposto a enfrentar a rejeição dos grandes e poderosos, libertar-se da
busca infantil de cargos e honras e contar com a possibilidade do fracasso dos
empreendimentos pessoais e institucionais.
Preferir
Jesus Cristo ao pai, à mãe, à mulher ou marido e aos filhos e filhas significa
viver as relações familiares fora dos moldes patriarcais, no horizonte da
geração de um mundo de irmãos (como testemunha Paulo em relação a Onésimo e
Filemon). É o próprio Jesus quem adverte: “Do mesmo modo, portanto, qualquer um
de vós, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo.” Está
claro que o problema não é possuir alguns bens ou consumir de modo maduro e
consciente, mas deixar-se dominar totalmente pelos bens e pelo consumo, como se
o sentido da nossa vida dependesse disso.
A
necessidade de renunciar está ligada ao seguimento de Jesus. A renúncia aos
bens limitados ou aparentes é um meio para percorrer com mais autenticidade um
caminho que conduz à vida abundante, tanto para si mesmo como para os outros. Renunciar
a tudo significa limpar a casa, abrir espaço, ordenar as prioridades e
orientar-se pela compaixão misericordiosa proposta de Jesus. Ele é a Palavra de
Deus que nos desinstala e chama à conversão. Sua proposta está longe de ser um
anestésico barato. O caminho para a humanidade nova tem seus custos, e nós
precisamos avalia-los e contabiliza-los!
Jesus de Nazaré, irmão maior nos caminhos que levam a uma
humanidade irmanada e reconciliada, ensina-nos a conhecer e acolher os
desígnios do teu e nosso Pai, a compreender o sentido dos nossos dias, a
avaliar bem as possibilidades e exigências do nosso tempo. Alimenta-nos e
ilumina-nos com a tua Palavra, para que nossa consciência não permaneça anêmica
ou anestesiada diante dos imensos desafios que a situação do Brasil nos
apresenta. Ajuda-nos a compreender as exigências do seguimento dos teus passos
e a renunciar a tudo o que possa nos afastar de ti. E que teu apóstolo e nosso
irmão Paulo nos estimule a lançar as sementes da igualdade na Igreja e no
mundo, ainda tão divididos e tão desiguais. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
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