sexta-feira, 8 de junho de 2018

Mais memórias da aventura missionária

Levar os livros mais no coração que na cabeça!
Educação: elemento tão importante numa cultura! Posso dizer que me surpreendi muito com a forma como ela é abordada nestas terras moçambicanas, desde a pedagogia utilizada até as estruturas físicas. Uma palavra pode definir a educação em Moçambique, e é com pesar no coração é que escrevo isso: precária!
Nas minhas andanças durante estes três meses morando nestas terras, pude notar que a educação geralmente não é prioridade para os governantes deste país. Quando viajava de carro, vi muitas escolas, na sua grande maioria, feitas de barro e bambu. Este tipo de construção precisa ser reformada a cada pouco, sem contar nos cupins que atacam o bambu fazendo com que tudo tenha que ser refeito.
Há algumas escolas edificadas com uma mistura de materiais: blocos de alvenaria e blocos de barro. Outras poucas são construídas todas em alvenaria. Mas, a grande maioria é feita de pau-a-pique mesmo. Aqui, ao lado da sede da missão, temos uma escola, que aqui chamam de EPC (Escola Primária e Secundária, da 1ª à 12ª classes) construída com material misto. Vi com meus olhos, há algumas semanas, os próprios alunos da escola misturando o barro, e reformando as paredes das suas salas de aula!
Entrando nas salas de aula a gente pode perceber que, muitas vezes, o que existe é somente um quadro negro – quando tem! – e a mesa do professor. Na maioria das escolas não existem cadeiras ou mesinhas para os alunos. As turmas são compostas de 30 alunos ou mais, chegando a ter 60 em algumas turmas. Como ser professor e ensinar nessa realidade?
Falando dos professores, o que a gente vê são muitos deles acabam faltando às sem motivos aparentes, ou não as preparam devidamente as aulas. Quando os professores não aparecem, o que é bastante frequente, os alunos são dispensados. Além de muitos professores não terem uma formação apropriada, tendo conseguido uma vaga do estado, assumem a cadeira e param a formação aonde estão. Com isso, muitos adolescentes chegam, e até se formam, no ensino médio mal sabendo escrever o próprio nome e lendo umas poucas palavras...
Mesmo com essas dificuldades, o que mais me chama a atenção é a paixão com a qual as crianças carregam o seu livro didático. Têm apenas um livro para todas as disciplinas, e nem todas as séries oferecem livros. Estas crianças carregam os livros, a maioria muito surrados, como seus tesouros. A sua maioria os carrega junto ao peito; outras, principalmente meninas, carregam nas costas, dentro de capulanas, como se fosse uma criança. Faço questão de observar esse detalhe porque por aqui eles carregam tudo na cabeça, desde coisas grandes, como as colheitas, até coisas pequenas, como um sabonetes, um parte de chinelos, uma enxada. Nunca vi uma criança carregar o livro na cabeça!
Fr. Ricardo Klock msf
29 de maio de 2018

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