Levar os
livros mais no coração que na cabeça!
Educação: elemento
tão importante numa cultura! Posso dizer que me surpreendi muito com a forma
como ela é abordada nestas terras moçambicanas, desde a pedagogia utilizada até
as estruturas físicas. Uma palavra pode definir a educação em Moçambique, e é com
pesar no coração é que escrevo isso: precária!
Nas minhas
andanças durante estes três meses morando nestas terras, pude notar que a
educação geralmente não é prioridade para os governantes deste país. Quando
viajava de carro, vi muitas escolas, na sua grande maioria, feitas de barro e
bambu. Este tipo de construção precisa ser reformada a cada pouco, sem contar
nos cupins que atacam o bambu fazendo com que tudo tenha que ser refeito.
Há algumas
escolas edificadas com uma mistura de materiais: blocos de alvenaria e blocos
de barro. Outras poucas são construídas todas em alvenaria. Mas, a grande
maioria é feita de pau-a-pique mesmo. Aqui, ao lado da sede da missão, temos
uma escola, que aqui chamam de EPC (Escola Primária e Secundária, da 1ª à 12ª
classes) construída com material misto. Vi com meus olhos, há algumas semanas,
os próprios alunos da escola misturando o barro, e reformando as paredes das
suas salas de aula!
Entrando nas salas
de aula a gente pode perceber que, muitas vezes, o que existe é somente um
quadro negro – quando tem! – e a mesa do professor. Na maioria das escolas não
existem cadeiras ou mesinhas para os alunos. As turmas são compostas de 30
alunos ou mais, chegando a ter 60 em algumas turmas. Como ser professor e
ensinar nessa realidade?
Falando dos
professores, o que a gente vê são muitos deles acabam faltando às sem motivos
aparentes, ou não as preparam devidamente as aulas. Quando os professores não
aparecem, o que é bastante frequente, os alunos são dispensados. Além de muitos
professores não terem uma formação apropriada, tendo conseguido uma vaga do
estado, assumem a cadeira e param a formação aonde estão. Com isso, muitos
adolescentes chegam, e até se formam, no ensino médio mal sabendo escrever o
próprio nome e lendo umas poucas palavras...
Mesmo com
essas dificuldades, o que mais me chama a atenção é a paixão com a qual as
crianças carregam o seu livro didático. Têm apenas um livro para todas as disciplinas,
e nem todas as séries oferecem livros. Estas crianças carregam os livros, a
maioria muito surrados, como seus tesouros. A sua maioria os carrega junto ao
peito; outras, principalmente meninas, carregam nas costas, dentro de
capulanas, como se fosse uma criança. Faço questão de observar esse detalhe porque
por aqui eles carregam tudo na cabeça, desde coisas grandes, como as colheitas,
até coisas pequenas, como um sabonetes, um parte de chinelos, uma enxada. Nunca
vi uma criança carregar o livro na cabeça!
Fr. Ricardo Klock
msf
29 de maio de 2018
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