Impressões de uma viagem ao litoral de
Moçambique
Tendo vivido um mês vivendo em terras
moçambicanas, já tive vários choques de realidade. Entretanto, o que mais tive
foram surpresas! Deixei-me surpreender por este povo, por sua cultura, por sua
alegria. Confesso que não foi fácil deixar-me cativar por este povo, sem ainda
estar inserido diretamente com eles, pois desde que cheguei, passei cinco dias
na missão e logo em seguida fui para a cidade de Nampula para iniciar o curso
de inculturação e da língua Macua! Como a aula é de segunda a sexta, aproveitei
os fins de semana para conhecer um pouco mais esta terra maravilhosa, pois sei
que quando iniciar o trabalho o tempo será bem mais escasso.
Das diversas pequenas viagens, duas
foram para o litoral. A primeira saída foi para a cidade de Moma, onde o regional
Sul 3 da CNBB desenvolve um projeto missionário. Hoje, lá vivem dois padres e
duas leigas. As leigas estão fazendo o curso junto comigo e convidaram-me para
ir conhecer a sua cidade. O caminho para Moma não é dos melhores, pois a
estrada está em péssimas condições, principalmente pela grande quantidade de
chuvas. Pelo caminho haviam vastas plantações de arroz, pois as pessoas
aproveitam a temporada de chuvas para plantar arroz nas margens dos rios,
brejos e outros lugares úmidos. Outra coisa que me chamou a atenção foi que
mais perto do litoral há algumas criações de gado, o que eu não havia visto na
região de Mecuburi, onde temos a nossa missão.
Nas aulas, já havia escutado que, na
região litorânea de Moçambique, a religião mais forte é o Islamismo, mas vendo
com os próprios olhos é que significa estar em outro ethos, completamente diferente do Brasil: em todos os lugares a
gente vê homens e mulheres vestindo os trajes tipicamente muçulmanos, e quando
nossos olhos não estão acostumados com isso, acaba aparecendo como uma
novidade, causando até certo estranhamento. Não que nas demais regiões não haja
muçulmanos, mas é no litoral que eles são mais numerosos. Algo semelhante a
gente percebe na Ilha de Moçambique, outro lugar que tive a oportunidade de
visitar.
Na Ilha de Moçambique fui arrebatado
por uma paisagem exuberante. Um mar cristalino e calmo. Comidas ótimas e praias
lindíssimas! Fomos conhecer a Ilha de Goa, na qual foi rezada a primeira missa
em terras moçambicanas e construído um farol. Subimos neste farol, para ter uma
visão privilegiada dos arredores da ilha. Nunca havia entrado num mar tão
cristalino! Por mais que a água estivesse na altura do meu pescoço, ainda
conseguia ver o fundo do mar. Tivemos um fim de semana muito bom. Até o mar ficou
calminho para que o aproveitássemos melhor.
Mas a ilha de Goa não é só de belezas.
Há na ilha uma nítida separação entre classes. Eu comentei com uma amiga que
muitos trabalhavam nos restaurantes, mas jamais podiam comprar um refeição
daquelas, e mesmo muitos moçambicanos nunca poderão vivenciar um fim de semana
como aquele que vivenciamos. Mas isso acontece também no Brasil,
infelizmente...
Fr. Ricardo Klock
msf
19 de março de
2018
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