segunda-feira, 4 de junho de 2018

Memórias da aventura missionária


Impressões de uma viagem ao litoral de Moçambique
Tendo vivido um mês vivendo em terras moçambicanas, já tive vários choques de realidade. Entretanto, o que mais tive foram surpresas! Deixei-me surpreender por este povo, por sua cultura, por sua alegria. Confesso que não foi fácil deixar-me cativar por este povo, sem ainda estar inserido diretamente com eles, pois desde que cheguei, passei cinco dias na missão e logo em seguida fui para a cidade de Nampula para iniciar o curso de inculturação e da língua Macua! Como a aula é de segunda a sexta, aproveitei os fins de semana para conhecer um pouco mais esta terra maravilhosa, pois sei que quando iniciar o trabalho o tempo será bem mais escasso.
Das diversas pequenas viagens, duas foram para o litoral. A primeira saída foi para a cidade de Moma, onde o regional Sul 3 da CNBB desenvolve um projeto missionário. Hoje, lá vivem dois padres e duas leigas. As leigas estão fazendo o curso junto comigo e convidaram-me para ir conhecer a sua cidade. O caminho para Moma não é dos melhores, pois a estrada está em péssimas condições, principalmente pela grande quantidade de chuvas. Pelo caminho haviam vastas plantações de arroz, pois as pessoas aproveitam a temporada de chuvas para plantar arroz nas margens dos rios, brejos e outros lugares úmidos. Outra coisa que me chamou a atenção foi que mais perto do litoral há algumas criações de gado, o que eu não havia visto na região de Mecuburi, onde temos a nossa missão.
Nas aulas, já havia escutado que, na região litorânea de Moçambique, a religião mais forte é o Islamismo, mas vendo com os próprios olhos é que significa estar em outro ethos, completamente diferente do Brasil: em todos os lugares a gente vê homens e mulheres vestindo os trajes tipicamente muçulmanos, e quando nossos olhos não estão acostumados com isso, acaba aparecendo como uma novidade, causando até certo estranhamento. Não que nas demais regiões não haja muçulmanos, mas é no litoral que eles são mais numerosos. Algo semelhante a gente percebe na Ilha de Moçambique, outro lugar que tive a oportunidade de visitar.
Na Ilha de Moçambique fui arrebatado por uma paisagem exuberante. Um mar cristalino e calmo. Comidas ótimas e praias lindíssimas! Fomos conhecer a Ilha de Goa, na qual foi rezada a primeira missa em terras moçambicanas e construído um farol. Subimos neste farol, para ter uma visão privilegiada dos arredores da ilha. Nunca havia entrado num mar tão cristalino! Por mais que a água estivesse na altura do meu pescoço, ainda conseguia ver o fundo do mar. Tivemos um fim de semana muito bom. Até o mar ficou calminho para que o aproveitássemos melhor.
Mas a ilha de Goa não é só de belezas. Há na ilha uma nítida separação entre classes. Eu comentei com uma amiga que muitos trabalhavam nos restaurantes, mas jamais podiam comprar um refeição daquelas, e mesmo muitos moçambicanos nunca poderão vivenciar um fim de semana como aquele que vivenciamos. Mas isso acontece também no Brasil, infelizmente...
Fr. Ricardo Klock msf
19 de março de 2018

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