quinta-feira, 7 de junho de 2018

O Evangelho dominical - 10.06.2018


O QUE É MAIS SADIO?
A cultura moderna exalta o valor da saúde física e mental, e dedica todo um enorme conjunto de esforços para prevenir e combater as doenças. Mas, ao mesmo tempo, estamos construindo uma sociedade onde não é fácil viver de forma sadia.
A vida nunca esteve tão ameaçada pelo desequilíbrio ecológico, a contaminação, o stress ou a depressão. Por outra parte, tem sido fomentado um estilo de vida onde a falta de sentido, a carência de valores, um certo tipo de consumismo, a banalização do sexo, a falta de comunicação e tantas outras frustrações impedem as pessoas de crescer de forma sadia.
Já Sigmund Freud, na sua obra O mal-estar na cultura, considerou a possibilidade de que uma sociedade esteja doente no seu conjunto e possa padecer de neuroses coletivas, das que talvez poucos indivíduos sejam conscientes. Pode inclusive suceder que dentro de uma sociedade doente se considere precisamente doentes aqueles que estão mais sãos.
Algo disto sucede com Jesus, de quem os Seus familiares pensam que «não está no seu juízo», enquanto os letrados vindos de Jerusalém consideram que «tem Belzebu dentro de si».
Em qualquer caso, temos que afirmar que uma sociedade é sã na medida em que favorece o desenvolvimento de pessoas sadias. Quando, pelo contrário, as conduz ao esvaziamento interior, à fragmentação, à dissolução como seres humanos, temos que dizer que essa sociedade é, pelo menos em parte, patogênica.
Por isso, temos que ser o suficientemente lúcidos como para nos preguntarmos se não estamos caindo em neuroses coletivas e condutas pouco sadias, mesmo sem estar conscientes disso.
Que é mais sadio, deixar-se arrastar por uma vida de conforto, comodidade e excesso que provoca letargia no espírito e diminui a criatividade das pessoas ou viver de modo sóbrio e moderado, sem cair na «patologia da abundância»?
O que é mais sadio, continuar a funcionar como «objetos» que giram pela vida sem sentido, reduzindo-a a um «sistema de desejos e satisfações», ou construir a existência dia a dia, dando-lhe um sentido último a partir da fé? Não esqueçamos que Carl Jung se atreveu a considerar a neurose como «o sofrimento da alma que não encontrou o seu sentido».
O que é mais sadio: encher a vida de coisas, produtos de moda, vestidos, bebidas, revistas e televisão, ou cuidar das necessidades mais profundas e cativantes do ser humano na relação do casal, no lar e na convivência social?
O que é mais sadio: reprimir a dimensão religiosa, esvaziando de transcendência a nossa vida, ou viver a partir de uma atitude de confiança nesse Deus «amigo da vida», que só quer e procura a plenitude do ser humano?
José Antônio Pagola
Tradução Antônio Manuel Álvarez Perez

Nenhum comentário: