quarta-feira, 7 de julho de 2021

ANO B | TEMPO COMUM | DÉCIMO-QUINTO DOMINGO | 11.07.2021

A Igreja é fiel a Jesus à medida em que vive em ritmo de missão!

Ainda está viva na nossa memória a recepção pouco positiva que a comunidade de Nazaré dispensou a Jesus. Por causa da sua origem humilde, o impacto provocado pela sua sabedoria logo se transformou em escândalo. A encarnação humilde, porém, não é mero acidente de percurso, mas o método missionário de Jesus! Ele envia os discípulos recomendando despojamento e humildade, pedindo que tomem parte na sua missão. A comunidade cristã é uma assembleia de pessoas chamadas e enviadas, e Paulo diz que Deus nos escolheu antes da criação do mundo para sermos santos e sem ambiguidades no amor.

Igreja significa etimologicamente assembleia, ou reunião. A Igreja é uma autêntica assembleia de Deus, convocada e reunida por ele e em nome dele. Esta assembleia representa os “interesses” de Jesus no mundo. A razão de ser da Igreja é deixar-se enviar, colocar-se a caminho, assumir uma missão, continuar a própria missão iniciada por Jesus Cristo. Ela é uma assembleia de pessoas enviadas, uma comunidade em missão. Isso significa que a Igreja não é uma sociedade voltada para si mesma, autorreferencial, como fala o Papa Francisco. A Igreja é uma espécie de movimento para fora, uma comunidade ex-cêntrica.

Preparar-se e capacitar-se para a missão recebida é sinal de responsabilidade pessoal e de apreço pelos destinatários do serviço. No caso da missão que Jesus Cristo confia à comunidade cristã, a preocupação exagerada com os meios e com os recursos não deve travar as iniciativas nem adiar o enfrentamento das urgências. O que é indispensável é o mergulho pessoal no Evangelho de Jesus Cristo e a disposição de partilhar gratuitamente a liberdade e a dignidade que de graça recebemos. Como Jesus, seus discípulos não devemos nos preocupar demais com meios poderosos e técnicas especiais.

Não penso que a preparação espiritual e intelectual não seja necessária, mas sublinho que não devemos colocar aquilo que é secundário no lugar do que é essencial. Sem a experiência de fé e da liberdade que despoja e simplifica, não há curso ou instrumento multimídia que possa ajudar na missão. Sem a postura fraterna não existe missão frutuosa. A vocação missionária não é uma profissão que traz benefícios ou prosperidade mas uma força desestabilizadora e profética, o que a faz nem sempre aceita e aplaudida.

Anunciar “Jesus te ama e te salva” é bonito e verdadeiro, mas é pouco e insuficiente. É uma pena que haja missionários/as que imaginam que é necessário defender Jesus diante de um mundo indiferente ou resistente à religião, pois é o povo de Deus, e não Jesus, que precisa de defensores! E há pregadores/as que esquecem que a missão tem uma dimensão ativa, transformadora, libertadora: expulsar demônios, curar doentes, etc. Isso não significa virar exorcista ou curandeiro, mas criar condições para que as pessoas arrebentadas por dentro e por fora, menosprezadas e oprimidas, recuperem plenas condições de vida.

Em cada situação precisamos identificar quem são as pessoas e grupos aos quais são negadas as possibilidades de uma vida plena, e agir em favor delas, levando em conta que, por mais que as ações espetaculares de expulsar os demônios e curar os doentes impressionem, a dimensão transformadora da missão cristã se mostra melhor noutras iniciativas que dão menos ibope, como na corajosa ação da CPT, no delicado trabalho do CIMI, na atividade da Pastoral da Criança, no trabalho da Pastoral Carcerária, etc.

É uma verdade central da nossa fé que, em Cristo, Deus nos abençoou abundantemente e nos escolheu ainda antes de criar o mundo para sermos pessoas maduras e íntegras no amor. Ele também abriu nossa mente à compreensão do mistério da sua santa vontade, adotou-nos como filhos e filhas e nos introduziu na lista dos seus herdeiros/as. E isso não é pouco, nem coisa abstrata ou para um futuro incerto. O que não podemos é pensar que isso seja mérito ou privilégio. Somos filhos e filhas, e herdeiros e herdeiras, porque ele é bom, nos ama e nos acolhe, sem levar em conta nossas ambiguidades e limites.

Jesus Cristo, profeta de Nazaré e missionário do Pai! Tu nos ensinas que a vontade mais genuína do teu e nosso Pai é que o amor e a fidelidade se encontrem, a justiça e a paz se abracem, a fidelidade brote da terra e a justiça se incline do céu. É isso que tu pedes que anunciemos e realizemos enquanto Igreja discípula e missionária. Por isso, confiantes, te pedimos pelos servidores e servidoras da Palavra, por aqueles/as cuja missão é, na medida do possível, atrair as pessoas a ti: abençoa o trabalho deles/as, de modo que realizando-o possam também eles ser atraídos/as a ti e confirmados/as na alegria. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf

Profecia de Amós 7,12-15 | Salmo 84 (85) | Segunda Carta de Paulo aos Efésios 1,3-14 |  Evangelho  de São  Marcos 6,7-13

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