quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

O Evangelho dominical (Pagola) - 19.12.2021

ACREDITAR É OUTRA COISA!

Estamos vivendo tempos em que, para muitos/as e cada vez mais, o único modo de poder acreditar verdadeiramente é aprender a acreditar de outra forma. Já o grande convertido John Henry Newman anunciou esta situação quando advertia que uma fé passiva, herdada e não repensada acabaria, entre pessoas educadas, em indiferença, e entre pessoas simples, em superstição. É bom lembrar alguns aspetos essenciais da fé.

A fé é sempre uma experiência pessoal. Não basta acreditar no que os outros nos pregam sobre Deus. Em síntese, cada um/a só acredita no que realmente acredita no fundo do seu coração ante Deus, e não no que ouve os outros dizerem. Para acreditar em Deus é necessário passar de uma fé passiva, infantil e herdada para uma fé mais responsável e pessoal. E esta é a primeira pergunta: acredito em Deus ou naqueles que me falam dele?

Na fé, nem tudo é igual. Temos de saber diferenciar o que é essencial e o que é acessório, e, depois de vinte séculos, há muito de acessório no nosso cristianismo. A fé daquele/a que confia em Deus está para além das palavras, das discussões teológicas e das normas eclesiásticas. O que define um cristão não é ser virtuoso ou cumpridor de leis, mas viver confiando num Deus próximo, pelo qual se sente amado sem condições. Confio em Deus ou fico preso noutras questões secundárias?

Na fé, o importante não é afirmar que se acredita em Deus, mas sim saber em que Deus se acredita. Nada é mais decisivo do que a ideia que cada um faz de Deus. Se acredito num Deus autoritário e justiceiro, acabarei por tentar dominar e julgar todos. Se acredito num Deus que é amor e perdão, viverei amando e perdoando. Em que Deus acredito: num Deus que responde às minhas ambições e interesses ou no Deus vivo revelado em Jesus?

A fé não é uma espécie de capital que recebemos no batismo e de que podemos dispor para o resto das nossas vidas. A fé é uma atitude viva que nos mantém atentos a Deus, abertos todos os dias ao seu mistério de proximidade e amor por cada ser humano.

Maria é o melhor modelo desta fé viva e confiante. É uma mulher que sabe ouvir Deus no fundo do seu coração e vive aberta à Sua vontade. Por isso, Isabel diz: “Bem aventurada és tu, porque acreditaste!” Feliz também és tu se aprenderes a acreditar. É a melhor que te pode acontecer na vida.

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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