sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

ANO C | TEMPO DO NATAL | EPIFANIA DO SENHOR | 02.01.2022

Quem encontra O Caminho, deixa seus velhos caminhos!

Ainda dentro do tempo litúrgico do Natal, hoje somos convidados/as a participar da manifestação de Jesus Cristo como caminho de salvação para todos os povos. Em Jesus, todos as pessoas, grupos, povos e religiões são reconhecidos/as como legítimos herdeiros do Reino de Deus. Assim, Jesus Cristo n­ão é propriedade dos católicos, nem dos cristãos. O cristão verdadeiro é católico, aberto, universal, avesso a rotulações. O encontro com Deus nos leva a mudar conceitos e rumos!

Paulo fala-nos de um mistério até então desconhecido e finalmente a ele revelado: que todos os povos e religiões participam da mesma herança do Reino de Deus e são membros do corpo de Cristo em igual dignidade com os judeus. Com isso, Paulo derruba todos os muros que hierarquizam e separam. Em nome de Deus, o apóstolo das nações nega toda espécie de privilégio ou superioridade baseada em princípios religiosos. Na raiz da nossa fé está esta alegre descoberta da igualdade, sem privilégios. Mas como é difícil assimilar este aspecto da nossa fé!

O evangelho de hoje nos apresenta homens de outros pagos e diferentes crenças, que chegam a Jerusalém guiados por uma estrela. Eles batem às portas dos chefes políticos e religiosos, comodamente instalados na capital, pedindo ajuda para decifrar os sinais e descobrir o caminho. Os escribas mostram que sabem, mas não se movem. Herodes parece desejar saber das coisas, mas é assaltado pelo medo de perder o poder. Os magos insinuam que Aquele que merece honra e reverência não costuma instalar-se nos palácios e templos, nem morar e demorar nas capitais.

Herodes aconselha aqueles peregrinos a irem a Belém em busca de informações, mas eles caminham levando presentes, e não cadernos de anotações. A estrela-sinal cumpre seu papel transitório, mas, para esses buscadores de Deus, o sinal de que a humanidade tem um novo líder é o “menino deitado na manjedoura”. Os magos reconhecem a realeza de Jesus Menino e lhe oferecem ouro; proclamam sua divindade oferecendo-lhe incenso; prenunciam já sua humana morte oferecendo-lhe mirra. Mas eles não voltam pelo mesmo caminho!

Este é o núcleo da fé que professamos: um Deus que se sente bem assumindo a carne humana e que, por amor solidário, não recusa a cruz. Como é possível que tenhamos nos afastado tão perigosamente disso? Como entender que as igrejas tenham transformado a estrebaria em palácio, os sábios estrangeiros em reis que barram migrantes, os pastores em imperadores sedentos de mais poder e domínio? Como é possível que tenhamos esvaziado a fé cristã, reduzindo-a a uma espécie de analgésico para acalmar a consciência, em mecanismo de sustentação de poderosos?

Como é que certos setores do cristianismo, que multiplicam glórias e louvores públicos ao nome de Jesus, incriminam, ainda com mais força e publicidade, quem não comunga da sua estreita ideologia, quem não compartilha seus mesquinhos interesses e quem não professa sua surrada cartilha? Que misteriosa e tenebrosa cegueira é essa que tomou conta deles e os faz desejar a morte dos inimigos e perseguir índios, negros, migrantes e pobres? Que tipo de tolice tomou conta da mente e da fé dessa gente e a tornou incapaz de admitir a mentira dos mitos travestidos de verdade?

Será que o medo que tirava o sono de Herodes deixou Jerusalém, atravessou os mares e se instalou no Brasil? Será que o espírito assombrado e tenebroso do coronel Ustra, invocado e admirado pelo hoje presidente, está tomando o lugar da estrela de Belém e trazendo medo aos amantes da tortura? Será que não perdemos o endereço de Belém e da Manjedoura? Outros são os caminhos da paz, outra é a segurança que o povo brasileiro necessita: respeito aos direitos e à dignidade, conquistados com lutas de anos e com sangue!

Dirigimo-nos a ti, Deus dos humilhados, Deus envolto em faixas, destino e refúgio de todos os que peregrinam nas estradas deste mundo desigual. Dá-nos palavras e sinais que guiem nossos passos inseguros no rumo certo. Não permitas que nos detenhamos nos palácios que, geralmente, escondem tramas, traições e prisões. Ajuda-nos a reconhecer tua presença na Belém de todos os homens e mulheres, e a ver a fé daqueles/as que creem diversamente como caminhos que conduzem ao encontro contigo no coração das tuas amadas criaturas. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf

Profecia de Isaías 60,1-6 | Salmo 71 (72) | Carta de São Paulo aos Efésios 3,2-6 | Evangelho segundo Mateus (2,1-12)


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