sábado, 1 de janeiro de 2022

O Evangelho dominical (Pagola) - 02.01.2022

SEGUIR A ESTRELA

Estamos demasiadamente acostumados ao relato dos magos. Por outro lado, hoje quase não temos tempo para parar e contemplar as estrelas. Provavelmente não é apenas uma questão de tempo. Pertencemos a uma época em que é mais fácil ver a escuridão da noite do que os pontos de luz que brilham no meio de qualquer treva.

No entanto, não deixa de ser comovedor pensar naquele escritor cristão que, ao elaborar o relato dos magos, os imaginou no meio da noite, seguindo a pequena luz de uma estrela. Na narrativa transparece a convicção profunda dos primeiros crentes após a ressurreição. Em Jesus cumpriram-se as palavras do profeta Isaías: “O povo que caminhava nas trevas viu uma grande luz. Habitavam numa terra de sombras, e uma luz brilhou diante de seus olhos” (Isaías 9,1).

Seria ingênuo pensar que estamos vivendo uma hora particularmente sombria, trágica e angustiante. Não é precisamente esta escuridão, frustração e desamparo que captamos nestes momentos um dos traços que acompanham o caminhar do ser humano ao longo dos séculos?

Basta abrir as páginas da história. Sem dúvida encontramos momentos de luz, em que se anunciam grandes libertações, se vislumbram mundos novos, se abrem horizontes mais humanos. E então o que vem a seguir? Revoluções que criam novas escravidões, conquistas que geram novos problemas, ideais que terminam em soluções pela metade, lutas nobres que terminam em pactos medíocres. De novo a escuridão...

Não é de surpreender que nos digam que ser humano costuma ser uma experiência frustrante. Mas essa não é toda a verdade. Apesar de todos os fracassos e frustrações, o ser humano volta a recompor-se, volta a esperar, volta a pôr-se em marcha em direção a algo melhor. Há algo no ser humano que o chama uma e outra vez à vida e à esperança. Há sempre há uma estrela que volta a acender-se.

Para os crentes, essa estrela conduz sempre a Jesus. O cristão não acredita em qualquer messianismo. E por isso não cai tampouco em nenhum desencanto. O mundo não é um caso perdido, não está em completa escuridão. O mundo está voltado para a sua salvação. Deus será um dia o fim do exílio e das trevas. Luz total. Hoje só o vemos numa humilde estrela que nos guia até Belém.

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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