quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

O Evangelho dominical (Pagola) - 30.01.2022

O MEDO DE SER DIFERENTES

Jesus pôde perceber sem demora o que poderia esperar de seu próprio povo. Os evangelistas não nos ocultam a resistência, o escândalo e a contradição que encontrou, mesmo nos ambientes mais próximos. Sua atuação livre e libertadora resultava-lhes muito irritante. Seu comportamento prejudicava muitos interesses.

Jesus percebe isso desde o início da sua atividade profética. É difícil que alguém que se decide a agir escutando fielmente a Deus seja bem aceite num povo que vive de costas para ele. “Nenhum profeta é bem visto na sua terra”.

Nós não o devíamos esquecer isso. Não se pode pretender seguir fielmente Jesus e não provocar, de alguma forma, a reação, a crítica e mesmo a rejeição de quem, por diversos motivos, não pode estar de acordo com uma abordagem evangélica da vida.

É sempre difícil viver contracorrente. Temos medo de ser diferentes. Já faz muito tempo que está na moda estar na moda. E não só quando se trata de adquirir a roupa de inverno ou escolher as cores do verão. O ditado da moda impõe-nos os gestos, os modos, a linguagem, as ideias, as atitudes e as posições que temos de defender.

É preciso muita coragem para ser fiel às suas próprias convicções, quando todos se acomodam e se adaptam ao que acontece. É mais fácil viver sem um projeto de vida pessoal, deixando-nos levar pelo convencionalismo. É mais fácil instalar-nos comodamente na vida e viver de acordo com o que nos é ditado de fora.

No início talvez se escute ainda aquela voz interior que diz que não é esse o caminho certo para crescer como pessoa e como crente. Mas logo nos acomodamos. Não queremos passar por anormais ou estranhos. Sentimo-nos mais seguros permanecendo no rebanho.

E assim continuamos caminhando, como rebanho. E isso mesmo que, desde o Evangelho, se continua a convidar sermos fiéis ao projeto de Jesus, inclusive quando isso pode gerar crítica e rejeição por parte da sociedade e inclusive dentro da Igreja.

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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