quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

O Evangelho dominical (Pagola) - 09.01.2022

POR QUÊ ACREDITAR?

São muitos os homens e mulheres que um dia foram batizados pelos seus pais e hoje não saberiam definir exatamente qual é sua posição perante a fé. Talvez a primeira pergunta que surja no interior deles seja muito simples: por que acreditar? Muda algo na vida por acreditar ou não acreditar? A fé serve realmente para algo?

Essas perguntas nascem da sua própria experiência. São pessoas que pouco a pouco afastaram Deus da sua vida. Hoje Deus não conta nada para eles quando trata de orientar e dar sentido à sua existência.

Quase sem darem-se conta, um ateísmo prático foi-se instalando na profundeza de seu ser. Eles não estão preocupados se Deus existe ou não. Tudo isso parece um problema estranho a eles, que é melhor deixar de lado a fim de organizar a vida de forma mais realista.

Deus não lhes diz nada. Habituaram-se a viver sem ele. Não sentem nostalgia ou vazio algum pela sua ausência. Abandonaram a fé e tudo marcha na sua vida tão bem ou melhor que antes. Por que acreditar?

Esta pergunta só é possível quando alguém foi batizado com água, mas não descobriu o que significa ser batizado com o Espírito de Jesus Cristo; quando alguém continua a pensar que ter fé significa apenas acreditar numa série de coisas enormemente estranhas que nada têm a ver com a vida e ainda não conhece a experiência viva de Deus.

Encontrar-se com Deus significa saber-nos acolhidos/as por Ele no meio da solidão; sentir-nos confortados/as na dor e na depressão; reconhece-nos perdoados/as do pecado e da mediocridade; sentir-nos fortalecidos/as na impotência e caducidade; ver-nos levados/as a amar e criar vida no meio da fragilidade.

Por que acreditar? Para viver a vida com mais plenitude; para colocar tudo na sua verdadeira perspectiva e dimensão; para viver inclusive os acontecimentos mais triviais e insignificantes com mais profundidade.

Por que acreditar? Para atrever-nos a ser humanos até o fim; para não afogar para sempre o nosso desejo de vida até o infinito; para defender a nossa liberdade sem entregar o nosso ser a nenhum ídolo; para permanecer abertos/as a todo o amor, a verdade, a ternura que há em nós; para não perder nunca a esperança no ser humano nem na vida.

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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