quinta-feira, 10 de março de 2022

O Evangelho dominical (Pagola) - 13.03.2022

A QUEM ESCUTAR?

Nós cristãos ouvimos falar desde a infância de uma cena evangélica tradicionalmente chamada de transfiguração de Jesus. Já não é possível saber com segurança como se originou o relato. Ficou recolhido na tradição cristã sobretudo por dois motivos: ajudava-os a recordar o mistério encerrado em Jesus e convidava-os a ouvir apenas a ele.

No cume de uma montanha alta, os discípulos mais próximos veem Jesus com o rosto transfigurado. Acompanham-no dois personagens lendários da história de Israel: Moisés, o grande legislador do povo, e Elias, o profeta do fogo que defendeu Deus com zelo abrasador.

Os dois personagens, representantes da Lei e dos Profetas, têm os seus rostos apagados: só Jesus irradia luz. Por outro lado, não proclamam nenhuma mensagem, vêm a conversar com Jesus. Só ele tem a última palavra. Só ele é a chave para ler qualquer outra mensagem.

Pedro parece não ter entendido o que viu. Propõe fazer três cabanas, uma para cada um deles. Põe os três no mesmo plano. Não captou a novidade de Jesus. A voz que surge da nuvem vai deixar as coisas claras: “Este é o meu Filho, o escolhido. Escutem o que ele diz!”. Não há que ouvir a Moisés ou Elias, mas a Jesus, o Filho amado. As suas palavras e a sua vida revelam-nos a verdade de Deus.

Viver ouvindo Jesus é uma experiência única. Por fim estamos a escutar alguém que diz a verdade. Alguém que sabe porquê e para quê viver. Alguém que oferece as chaves para construir um mundo mais justo e digno do ser humano.

Os seguidores de Jesus não vivemos de nenhuma crença, norma ou rito. Uma comunidade vai-se fazendo cristã quando vai colocando no seu centro o Evangelho, e apenas o Evangelho. Aí se joga a nossa identidade.

Não é fácil imaginar um evento social mais humanizador do que um grupo de crentes que ouvem juntos a «história de Jesus». Cada domingo podemos sentir o seu apelo para olhar a vida com olhos diferentes e vivê-la com mais responsabilidade, construindo um mundo mais habitável.

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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